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domingo, 6 de julho de 2025

Jogos para quem prefere o silêncio ao ruído: por que escolho Sid Meier's Railroads e TransOcean como resistência ao mundo online

 Vivemos uma era em que até o lazer foi tomado pela lógica da performance. A maioria dos jogos, hoje, não apenas exige que você jogue, mas que jogue contra alguém, que vença, que suba no ranking, que exiba conquistas e que, de preferência, esteja online o tempo todo. A lógica do espetáculo infiltrou-se no mundo dos jogos — e com ela, entrou a pressa, a vaidade, a exposição constante. Mas eu resisti. E sigo resistindo.

Dois jogos têm me acompanhado nessa resistência discreta: Sid Meier’s Railroads e TransOcean: The Shipping Company. Ambos são títulos que muitos talvez considerem ultrapassados, ou “lentos demais” para os padrões atuais. Mas é justamente por isso que os escolho. Eles não exigem pressa. Não me cobram performance pública. Não me forçam a competir com alguém que nem conheço. Não há ninguém “enchendo o saco” no chat, nem querendo provar que é melhor do que eu. E, sobretudo, não me arrancam do meu ritmo.

O silêncio construtivo de Sid Meier's Railroads

Em Sid Meier’s Railroads, o que me encanta não é só o tema ferroviário, mas o ritmo próprio da construção econômica. Há algo de profundamente satisfatório em ligar cidades, equilibrar oferta e demanda, ver o mapa crescer como um organismo vivo. Em vez de adrenalina, o jogo me oferece compasso, decisão estratégica, previsibilidade dentro do caos natural do capitalismo ferroviário do século XIX. Jogo por longos períodos, em sessões que se estendem como uma leitura demorada — e por isso mesmo frutífera.

A vastidão oceânica de TransOcean

Já em TransOcean, o apelo é diferente, mas igualmente meditativo. Nele, sou dono de uma companhia de navegação, atravessando rotas globais, administrando contêineres, otimizando tempo de carga e descarga. O mar me ensina a esperar. As rotas não mudam com o clique de um botão. As decisões erradas cobram um preço com atraso — mas cobram. Quando jogo no modo livre, off-line, sinto-me como um monge mercante: sozinho com minha planilha, meu porto e meus navios, longe das interferências que desgastam a experiência.

A escolha como gesto moral

Poderia parecer que essa escolha é meramente estética ou prática. Mas para mim, ela também é moral. Num mundo em que o tempo é devorado pela velocidade, escolho o tempo longo. Num mundo em que todos gritam suas vitórias para serem vistos, escolho o silêncio do mérito invisível. Jogar offline é, de certo modo, reivindicar o direito de estar só com o próprio pensamento.

Isso não significa que rejeito os jogos online ou os multijogadores competitivos. Significa apenas que, quando jogo, quero estar em paz — e quero construir alguma coisa que só eu compreendo, no ritmo que me cabe. Porque o jogo, nesse caso, se torna uma extensão do trabalho espiritual e intelectual que me proponho a fazer: com método, com regularidade, sem vaidade.

Conclusão

Enquanto o mundo monta a máquina do futuro, eu me especializo em montar o melhor emulador do passado. Isso não é nostalgia. É estratégia. É fidelidade ao que fui chamado a fazer: crescer por dentro, e não para os olhos do mundo.

E se amanhã, alguém perguntar se estou “por fora” por não jogar os grandes títulos online do momento, sorrio. Porque eu sei onde está o verdadeiro jogo — e ele acontece onde ninguém me vê: num mapa ferroviário bem administrado ou numa rede de portos discretamente próspera.

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