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sábado, 19 de julho de 2025

Teologia do Backlog: o lazer como ato de fé e providência

No mundo dos jogos digitais, a palavra backlog costuma carregar um certo peso negativo. É o nome que se dá àquela pilha de jogos não jogados, muitas vezes adquiridos por impulso, por promoção ou por gratuidade repentina. Um estoque que cresce mais rápido do que o tempo que temos para lidar com ele. Um fardo digital.

Mas, no meu caso, o backlog tem outra função. Ele não é acúmulo. É reserva.

Essa diferença nasce da maneira como encaro o tempo e o lazer. O tempo, já vimos, não é apenas chronos, mas kairós. E o lazer, quando vivido com responsabilidade e gratidão, não é fuga da realidade, mas prefiguração do descanso eterno. É o sábado do corpo e da alma. Por isso, meu backlog não é culpa, é esperança.

Cada jogo que adquiro com cashback, cada título que recebo por estratégia e não por impulso, é guardado com um fim: o tempo oportuno de descanso merecido, quando a vida me conceder uma pausa, e o hardware estiver maduro o suficiente para rodar com leveza aquilo que, hoje, exige esforço.

Meu backlog é uma espécie de armazém de lazer providente — como o celeiro de José no Egito, que acumula trigo nos anos de fartura para os anos de escassez. Não guardo por medo, mas por confiança. O tempo virá.

E quando esse tempo chegar, não terei de comprar, correr ou me preocupar. Estarei preparado. Meus jogos estarão lá, como presentes antecipados, frutos de uma lógica em que o trabalho, a economia e o descanso estão reconciliados.

Nesse sentido, até mesmo o backlog é, para mim, um ato de fé. Não fé em mim mesmo ou no progresso técnico — embora a evolução do hardware seja um sinal claro da Providência manifestada na inteligência humana —, mas fé no fato de que o tempo bem vivido se organiza, e tudo aquilo que foi guardado com sabedoria um dia servirá ao bem de alguém.

Alguns podem rir da ideia de espiritualizar o backlog. Mas eu respondo com seriedade: quem crê na Ressurreição, aprende a olhar até o lazer com olhos de eternidade. Não jogo apenas para me entreter. Jogo para descansar no tempo certo, como parte da justa retribuição por um trabalho bem feito, por uma semana cumprida, por um dever honrado.

E se hoje o backlog parece esperar demais, é porque há muito o que fazer antes. Cristo mesmo passou trinta anos preparando-se em silêncio para três de missão. Posso esperar.

Por isso, o backlog que o mundo chama de desperdício, eu chamo de reserva providente de lazer. E a pilha de jogos não jogados, longe de ser um fardo, é um testemunho silencioso de que, quando o tempo chegar, não faltará o pão da alegria, nem o vinho da recreação.

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