(0:00) Olimpíadas e geopolítica, muita gente me pediu para eu falar disso, eu já fiz um vídeo falando sobre o atentado terrorista de Munique, na Alemanha, (0:10) mas geopolítica se manifesta na Olimpíada ou as Olimpíadas são manifestações geopolíticas de muitas outras maneiras, (0:20) desde a escolha da sede, uso do soft power, mas hoje eu quero falar especificamente de um elemento geopolítico que está ligado com as Olimpíadas, (0:31) que é o nacionalismo. (0:33) Nós chegamos ao fim das Olimpíadas, dos Jogos de Paris, e se falou muito, o discurso de encerramento foi sobre como as nações estavam ali em paz, (0:45) apesar de todos os problemas que nós sabemos que o mundo tem hoje, geopoliticamente falando. (0:52) E realmente é curioso, e desse ponto de vista os Jogos Olímpicos representam um sonho almejado da geopolítica ou das relações internacionais, (1:04) que é a busca pela paz, a busca pela ordem, pela estabilidade, por justiça.
(1:11) De muitas maneiras, os Jogos Olímpicos conseguem representar isso. (1:17) A gente tem nações do mundo todo reunidas ali para competir de forma adversarial, mas com respeito e sem se matarem. (1:29) É uma competição pacífica no esporte, onde todos se enfrentam e se respeitam e mostram humildade.
(1:39) O que dizer daquele pódium da Simone Biles e da outra atleta americana reverenciando a Rebecca? (1:51) Aquela cena, aquela foto é muito forte. (1:54) Ela é uma foto que mostra, apesar da rivalidade, da competição, da animosidade, da disputa por poder, existe muito respeito. (2:05) Seria uma manifestação bonita da geopolítica, onde todos os competidores e adversários, no final das contas, se respeitam.
(2:17) Óbvio que o mundo fora do esporte não é assim, e por isso talvez os Jogos Olímpicos tenham essa relação com a paz, (2:28) de busca pela paz ou quase alcançando a paz. (2:32) Eu vou mais longe. (2:34) Um tema do final da cerimônia de encerramento falou sobre um ser de outro planeta que estivesse ali e vendo os Jogos Olímpicos.
(2:46) Vamos imaginar essa situação, onde a gente olhasse de fora da Terra e todos os povos da Terra estivessem reunidos praticando competições esportivas. (3:01) Claro que para nós, aqui de dentro, não enxergamos os Jogos dessa maneira. (3:07) É muito difícil a gente ter essa visão total do macro.
(3:12) A gente olha para os Jogos Olímpicos como uma manifestação das divisões que existem. (3:18) Afinal de contas, são os países que estão competindo ali, e o mundo está dividido entre várias pequenas ilhas, (3:27) cada um com o seu país, e você olha e fica pensando, a China ganhou aquilo, os Estados Unidos ganharam mais medalha, (3:35) nosso adversário agora é a Polônia, mas depois no outro esporte nós vamos enfrentar o Egito. (3:44) E a nossa visão, o nosso olhar, ele é recortado, ele não é um olhar, (3:48) todos os seres humanos estão aqui reunidos nesse lugar, de todos os grupos representados e competindo entre eles pacificamente.
(4:01) Talvez um alienígena que estivesse olhando isso de fora acharia interessante, (4:06) poderia até chegar à conclusão que nós somos uma espécie mais evoluída, mais organizada, (4:13) capaz de resolver as nossas diferenças sem se matar, mais justos, (4:21) enfim, uma série de qualidades que nem nós mesmos conseguimos enxergar nem neste momento específico, (4:28) porque a gente não consegue tirar a lente nacional. (4:33) Isso é muito interessante, é pura geopolítica, (4:38) porque nós partimos do nosso olhar para o mundo de acordo com o lugar que a gente veio. (4:46) Nada mais geopolítico do que isso, porque geografia é sobre lugar, (4:53) o lugar da onde você veio vai determinar para quem você vai torcer.
(5:01) E eu falo disso o tempo inteiro quando eu falo de geopolítica, que eu explico que existem dois amores. (5:08) O amor herdado, que você não escolhe, é dado para você. (5:13) O amor pelos nossos pais, você não escolhe, é dado, você recebeu, você herdou ele.
(5:19) E o amor adquirido, que é o amor que você escolhe, (5:22) o amor como, por exemplo, a pessoa que você quer escolher passar o resto da sua vida, (5:28) esse seria o amor adquirido. (5:29) Não em todas as sociedades, também já expliquei isso em várias sociedades, (5:33) você não escolhe com quem você casa, o casamento é arranjado. (5:38) Você aceita se casar não pelo amor adquirido, mas pelo amor herdado, (5:43) pelo amor à sua família, porque a sua família escolhe e você aceita, (5:47) porque você ama a sua família e aquele amor você não pode mudar.
(5:51) Ele não é racional. (5:53) É a mesma coisa com a nossa torcida, o nosso olhar para os Jogos Olímpicos. (5:58) Nós torcemos para o nosso país e a gente torce para o nosso país (6:03) não é porque ele é mais bonito, não é porque ele é mais justo, (6:07) porque ele é mais competente, porque ele é mais disciplinado, (6:10) porque ele tem mais força.
(6:13) A gente torce para o nosso país e todos os povos torcem para o seu próprio país (6:19) porque você nasceu ali, porque aquele é o seu país. (6:27) Essa não é uma escolha independente, não é uma escolha que você vai elencar valores, (6:32) critérios e falar assim, não, eu quero torcer para o melhor. (6:35) Não, você torce para o seu e você torce para ele porque ele é seu.
(6:42) Vejam, então a gente não consegue olhar para o mundo sem essa lente (6:47) e a gente assiste os Jogos Olímpicos com esse olhar, com essa visão, (6:53) com essa perspectiva o tempo inteiro e nós estamos aprisionados a ela. (6:59) Essa é uma lealdade conectada com a ideia do amor herdado. (7:05) A nossa nação, onde a gente veio, o lugar que a gente veio vai moldar quem somos (7:12) e parte da nossa identidade está ligada com essa identidade coletiva da nossa nação.
(7:20) Por isso que o nacionalismo é uma expressão do amor herdado. (7:26) Claro, eu posso mudar de nacionalidade, posso, eu adquiri, (7:31) mas mesmo assim, como eu sempre digo, você não vai apagar o lugar de onde você veio de verdade. (7:36) Você adquiriu um novo amor e aí é talvez a distinção entre Brasil e República Federativa do Brasil.
(7:44) Você nasceu no Brasil. (7:45) A nossa relação com a República Federativa do Brasil é bastante complicada, (7:50) mas a nossa relação com o Brasil é mais automática, ela é instantânea, ela é natural, ela é herdada (7:55) e por isso que a gente vai torcer para o Brasil. (7:59) Claro que essa lealdade, esse amor herdado, muitos falam que ele é incondicional, (8:06) que ele é uma disposição total e imediata de se sacrificar, de acreditar e torcer.
(8:12) Mesmo que a gente saiba que somos piores, nós estaremos torcendo. (8:17) Não acho que isso impede a gente de criticar, mas no dia seguinte a gente vai acordar (8:22) e vai torcer de novo para o nosso time, para o nosso país. (8:27) E essa manifestação do nacionalismo é muito forte.
(8:32) Parte da identidade nacional, que é isso que nos faz ser membros dessa comunidade imensa (8:38) de pessoas estranhas, na maioria delas, porque a gente não conhece a maioria dos brasileiros, por exemplo, (8:45) é o que nos une e o que nos faz andar junto. (8:49) Então essa identidade nacional é construída por vários elementos e o esporte é sim um elemento. (8:55) E eu sempre digo que no Brasil esse elemento é inclusive mais forte do que os outros elementos (9:00) que a gente precisaria, como a história, como termos heróis, como lideranças.
(9:05) Faltam muitos desses elementos na construção da identidade nacional brasileira. (9:10) E um dos elementos fortes, que talvez seja um dos únicos onde nós nos sentimos plenamente (9:17) ou totalmente focados em sermos brasileiros, é no esporte. (9:24) O esporte tem esse poder unificador, ele ajuda a construir identidades.
(9:28) Não é só aqui, mas aqui a nossa ênfase na nossa identidade nacional, o peso do esporte (9:34) na nossa identidade nacional é ainda maior do que nos outros lugares. (9:38) E infelizmente no Brasil ele termina no esporte, porque raramente ele ultrapassa o esporte. (9:46) O patriotismo brasileiro fica restrito e limitado só à ideia da hora que a gente está torcendo.
(9:52) E óbvio que isso afeta a nação, afeta a gente estar unido, a gente trabalhar junto, (9:57) a gente conseguir prosperar coletivamente em grande escala. (10:04) Uma outra discussão interessante sobre esse olhar dos Jogos Olímpicos e do nacionalismo (10:10) é uma pergunta se o patriotismo pode ser considerado uma virtude. (10:17) E muitos acreditam que sim.
(10:20) Eu acho que faz sentido a gente olhar como uma virtude, (10:23) porque você ser capaz de admirar, se sacrificar, torcer, gostar pelo seu grupo, (10:33) pelo grupo que você faz parte, é o que faz você prosperar. (10:38) O problema do Brasil é que a gente é incapaz de fazer isso em qualquer momento fora do esporte, (10:44) como eu estava explicando aqui para vocês. (10:46) Se a gente conseguisse fazer isso fora do esporte, a gente teria prosperado muito mais.
(10:51) Nações que são capazes de fazer isso fora do esporte em vários momentos, (10:55) como Alemanha, Japão e Estados Unidos, são nações muito prósperas, (10:59) porque elas conseguem construir mais coisas juntas. (11:05) Então o patriotismo é uma virtude. (11:07) O patriotismo no esporte também pode ser uma virtude.
(11:12) Dá alguns exemplos que manifestam a virtude máxima disso. (11:16) Um deles é o que aconteceu em 1971, no campeonato mundial de tênis de mesa. (11:23) A China estava jogando com os Estados Unidos, (11:25) e o jogador americano virou para o jogador chinês no final do jogo e falou assim, (11:28) olha, eu queria treinar com você, a gente pode treinar junto para eu aprender mais? (11:33) E ele ficou todo assustado, com medo, falou que não, e saiu correndo e contou para os técnicos.
(11:40) Os técnicos foram lá e contaram para oficiais do Ministério das Relações Exteriores, (11:44) e aquilo foi escalando até chegar no Mao Tse Tung, (11:47) e aí o Mao olhou e falou assim, não, ele está permitido de treinar com o americano. (11:53) Aquilo permitiu uma abertura de um canal de comunicação entre China e Estados Unidos, (11:59) é conhecido como a diplomacia do ping-pong e do tênis de mesa. (12:03) Então, nesse sentido, o esporte, o patriotismo no esporte, (12:07) abriu um espaço para uma diplomacia, para um canal de comunicação, (12:11) e isso mostra que o esporte, que o patriotismo no esporte pode sim ser uma virtude.
(12:19) A gente pode dizer que o patriotismo no esporte é uma linguagem do nacionalismo moralmente rica. (12:32) Claro que eu posso pensar em situações onde o patriotismo no esporte é nocivo e negativo, posso, (12:40) o próprio exemplo do atentado terrorista de 92 contra os atletas, de 72 contra os atletas israelenses. (12:49) Ali o patriotismo se manifestou, o patriotismo no esporte usou o esporte como uma arma de guerra, (12:58) matando, sequestrando e ferindo outros atletas.
(13:02) Uma outra situação que aconteceram nesses jogos em Paris, por exemplo, (13:07) você transformar o seu adversário em um vilão, pelo patriotismo. (13:13) Uma coisa é você torcer e tal, e querer que outro perca, (13:16) outra coisa é depois que acabou o jogo, acabou o resultado, (13:21) você usa as situações políticas para diminui-lo, para humilhar, (13:28) ou para usar aquilo de uma forma política. (13:32) Então quando a atleta brasileira ganhou da israelense, (13:37) muita gente ficou feliz pelo seu ódio a Israel, pelo antissemitismo, (13:44) ou por outras manifestações políticas diversas.
(13:49) Quando você transforma o seu adversário em um vilão, (13:52) aí então o patriotismo no esporte não se torna uma virtude, mas talvez um vício. (13:58) A gente tem muitas outras situações onde o nacionalismo ou o patriotismo (14:08) se manifesta no esporte de uma forma diferente. (14:11) Eu estou falando aqui para vocês que a gente não conhece os jogos olímpicos (14:16) sem ser pela lente dos países, o que é verdade, (14:21) mas se a gente olha para a Grécia Antiga, quem competia não eram países, (14:25) eram atletas e indivíduos.
(14:27) E hoje em dia os atletas e os indivíduos competem, (14:31) mas eles representam um outro grupo. (14:34) E a bandeira que vai subir é o hino daquele grupo, (14:37) e a torcida é por aquele grupo. (14:40) Então é menos sobre o indivíduo e mais sobre os países.
(14:45) Mas vejam que curioso, se o esporte é uma manifestação do nacionalismo, (14:51) ele ajuda a construir identidade nacional, (14:53) dá para pensar em várias situações onde o esporte está separado da nação (15:01) e mesmo assim não alterou a política. (15:06) Então talvez dá para se imaginar um momento que um jogo olímpico (15:12) ou um esporte de grande escala não vai ser só sobre nações. (15:18) A gente tem o time olímpico dos refugiados, (15:20) a Irlanda, que é uma nação independente, (15:25) ela tem o esporte unificado em grande medida com o Reino Unido.
(15:31) E a gente tem exemplos contrários, por exemplo, na Espanha, os bascos, (15:36) tem um time privado, interno, que se chama Atlético de Bilbao. (15:42) E esse time não pode ter jogadores que não forem de origem basca, (15:47) o que seria até preconceituoso. (15:50) Porque a Espanha não permite que ele tenha um time separado.
(15:55) Talvez, se ele tivesse um time separado, ele não ia precisar ter um time privado (15:59) com essas regras. (16:01) Já a Cataluña também poderia querer ter o seu time de futebol, (16:05) o seu competir autonomamente, (16:08) mas ela tem jogado com os seus jogadores na Copa dentro do time da Espanha. (16:14) E está tudo bem.
(16:41) A mesma coisa não, porque o Wales é parte, mas ela tem times separados. (16:49) E está tudo bem. (16:51) A gente chega num ponto até de existirem times (16:55) que não representam países, que eles não existem.
(16:59) Por exemplo, das Índias Ocidentais. (17:03) Isso é uma região de ex-colônias britânicas, (17:07) vulgo, a gente poderia definir como uma região do Caribe, (17:12) que tem 13 países e 19 áreas que são governadas por partes de outros. (17:19) E ali, esses países todos jogam juntos com um único time no críquete.
(17:26) E eles não são um país. (17:29) Então, percebe, a gente consegue criar times que competem (17:33) e a gente aceita a existência desses times, (17:36) mesmo eles não sendo países. (17:39) E certos países que já são independentes, como a Irlanda, (17:44) querem jogar com um outro país do qual eles faziam parte (17:47) e se libertaram politicamente.
(17:50) Às vezes o esporte consegue transcender a identidade nacional, o nacionalismo. (17:58) Outras vezes ele não transcende, mas ele se junta, (18:03) mesmo não sendo parte daquele lugar politicamente. (18:07) O que eu quero mostrar para vocês é que, claro, (18:11) eu comecei explicando aqui nesse vídeo que Olimpíada é sobre nação, (18:19) sobre nacionalismo.
(18:21) Mas existem situações onde essa regra é quebrada. (18:27) E isso é curioso. (18:28) Talvez isso seja uma representação, um exemplo dessas mudanças (18:34) dos nossos conceitos de Estado-nação, de nacionalidade e como isso funciona.
(18:41) Acho que o mais interessante é perceber aqui a ideia da nossa torcida. (18:47) E o que motiva a nossa torcida é a nossa relação com essa torcida. (18:51) E essa relação tem tudo a ver com a geopolítica.
(18:53) Porque você torce para quem você torce, porque você nasceu (18:59) ou porque você é daquele lugar. (19:01) E o lugar é a geografia. (19:04) A geografia é a parte da geopolítica que se conecta com a política (19:08) e, com isso, a política é o nacionalismo junto com a geografia.
(19:14) A gente tem Olimpíadas como uma manifestação pura de geopolítica. (19:21) Mas existem várias outras, como eu comentei com vocês, (19:23) depois eu faço outros vídeos explicando as outras. (19:27) Mas é interessante a gente pensar sobre isso.
(19:29) Imagina alguém vindo de fora e olhando para a terra, (19:32) todos os humanos reunidos ali, jogando e tal. (19:36) Parece que a gente vive em paz, que nós somos unidos (19:40) e que não existem as divisões que existem. (19:43) E mesmo entendendo as divisões dos países e das nações, (19:47) ainda assim a gente vai olhar e falar (19:50) que está tudo bem, são só rivalidades.
(19:54) Mas não é isso que está acontecendo na geopolítica, muito ao contrário. (19:57) É isso aí, gente.
Professor HOC
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domingo, 18 de agosto de 2024
A Geopolítica das Olimpíadas
domingo, 4 de agosto de 2019
Notas sobre Itália, Alemanha, Grécia e Israel enquanto comunidades imaginadas
1.1) Quatro nações, que mais parecem quatro cavaleiros do apocalipse, surgiram para buscar singrar os mares navegados do passado por si mesmas: a Grécia, a Itália, a Alemanha e Israel.
1.2) Essas nações navegaram os mares virtuais do passado do mesmo modo como a Espanha navegou os mares: indo em busca de si mesmas, sem misericórdia alguma. Achavam-se eleitas de antemão, tal como os protestantes se achavam salvos da mesma forma.
1.3) Por conta disso, não foram capazes de casar a causa nacional com uma causa universal - fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus - tal como fez Portugal, a ponto de criar um império de cultura, fundado na missão de servir a Cristo em terras distantes. E o resultado disso levou ao surgimento de impérios de domínio, que um dia perecerão, por serem verdadeiros fracassos fundados no homem, pelo homem e para o homem. Não é à toa que a época do Ressurgimento (1871 a 1948) se mostra um importante capítulo da Era das Revoluções liberais e do nacionalismo salvacionista, enquanto facetas da mentalidade revolucionária, a ponto de o século XIX ser longo o bastante a ponto de ter sua influência sentida até a época em que o Estado de Israel foi criado.
2.1) O professor Loryel Rocha mencionou que a profissão de Historiador - enquanto intérprete de documentos, enquanto monumentos do passado - começou a ser estabelecida como uma especialidade academicamente importante, no século XIX.
2.2.1) Tal como ocorreu no Brasil, em que surgiram historiadores que escreviam manuais sobre como devemos escrever a história do Brasil, surgiram nessa época também mandarins (professores universitários) nesses países que acabavam imaginando comunidades modernas que não passam de caricaturas das comunidades que de fato existiram no passado.
2.2.2) Baseados nos trabalhos dos arqueólogos, buscavam interpretar o passado com o intuito de resgatarem a concepção de liberdade dos pagãos a qualquer custo, a ponto de conservarem isso de maneira conveniente e dissociada da verdade. Inspirados no espírito da Renascença italiana e do Iluminismo alemão, buscavam ressuscitar a herança pagã, inspirados nos princípios da igualdade, da liberdade e da fraternidade, nem que isso custasse a morte desses renascentes Estados-Nação, cujo mitologema se funda todo nessa vã busca pelo passado de modo a determinar os destinos do futuro. Eles buscavam fazer isso sob a nefasta influência do secularismo e livres da amarra do medievalismo, uma vez que todos eles eram anticristãos.
3.1) Desenterrar o passado a ponto de proclamar isto um novo marco zero se mostrou um erro crasso, uma vez que Cristo não veio destruir a antiga lei, mas dar a ela pleno cumprimento a ponto de converter a todos os povos a partir da fé cristã, da ordem romana e da filosofia grega. Isso preservou a liberdade dos antigos, só que temperada na verdade fundada no verbo que se fez carne, a ponto de fazer santa habitação em nós através da Santa Eucaristia. Eis a essência da Idade Média enquanto idade da luz.
3.2.1) Toda tentativa de se imaginar comunidades, seja a partir do zero - como se deu com a França - ou desenterrando civilizações da Antigüidade Clássica, mostra-nos que tal pretensão de se ir em busca da grande glória nacional por mérito próprio não tem lugar na ordem de ser das coisas, pois o ser humano - rico no amor de si até o desprezo de Deus - tenderá a se tornar um verdadeiro animal que mente, a ponto de o Estado se tornar o principal ente que integra o homem grego primitivo ao homem grego moderno, a ponto de tudo estar no Estado e nada estar fora dele ou contra ele.
3.2.2) Naturalmente o grego antigo, se fosse trazido para o tempo moderno, ficaria chocado diante desse horror metafísico, ao ver o grego moderno como uma imagem distorcida dele diante do espelho, uma verdadeira caricatura grotesca dele mesmo. A mesma coisa pode ser dita com relação ao italiano, em relação ao romano, ou mesmo o israelense, em relação aos antigos hebreus da época de David. Eis a caixa de Pandora que foi aberta.
José Octavio Dettmann
1.2) Essas nações navegaram os mares virtuais do passado do mesmo modo como a Espanha navegou os mares: indo em busca de si mesmas, sem misericórdia alguma. Achavam-se eleitas de antemão, tal como os protestantes se achavam salvos da mesma forma.
1.3) Por conta disso, não foram capazes de casar a causa nacional com uma causa universal - fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus - tal como fez Portugal, a ponto de criar um império de cultura, fundado na missão de servir a Cristo em terras distantes. E o resultado disso levou ao surgimento de impérios de domínio, que um dia perecerão, por serem verdadeiros fracassos fundados no homem, pelo homem e para o homem. Não é à toa que a época do Ressurgimento (1871 a 1948) se mostra um importante capítulo da Era das Revoluções liberais e do nacionalismo salvacionista, enquanto facetas da mentalidade revolucionária, a ponto de o século XIX ser longo o bastante a ponto de ter sua influência sentida até a época em que o Estado de Israel foi criado.
2.1) O professor Loryel Rocha mencionou que a profissão de Historiador - enquanto intérprete de documentos, enquanto monumentos do passado - começou a ser estabelecida como uma especialidade academicamente importante, no século XIX.
2.2.1) Tal como ocorreu no Brasil, em que surgiram historiadores que escreviam manuais sobre como devemos escrever a história do Brasil, surgiram nessa época também mandarins (professores universitários) nesses países que acabavam imaginando comunidades modernas que não passam de caricaturas das comunidades que de fato existiram no passado.
2.2.2) Baseados nos trabalhos dos arqueólogos, buscavam interpretar o passado com o intuito de resgatarem a concepção de liberdade dos pagãos a qualquer custo, a ponto de conservarem isso de maneira conveniente e dissociada da verdade. Inspirados no espírito da Renascença italiana e do Iluminismo alemão, buscavam ressuscitar a herança pagã, inspirados nos princípios da igualdade, da liberdade e da fraternidade, nem que isso custasse a morte desses renascentes Estados-Nação, cujo mitologema se funda todo nessa vã busca pelo passado de modo a determinar os destinos do futuro. Eles buscavam fazer isso sob a nefasta influência do secularismo e livres da amarra do medievalismo, uma vez que todos eles eram anticristãos.
3.1) Desenterrar o passado a ponto de proclamar isto um novo marco zero se mostrou um erro crasso, uma vez que Cristo não veio destruir a antiga lei, mas dar a ela pleno cumprimento a ponto de converter a todos os povos a partir da fé cristã, da ordem romana e da filosofia grega. Isso preservou a liberdade dos antigos, só que temperada na verdade fundada no verbo que se fez carne, a ponto de fazer santa habitação em nós através da Santa Eucaristia. Eis a essência da Idade Média enquanto idade da luz.
3.2.1) Toda tentativa de se imaginar comunidades, seja a partir do zero - como se deu com a França - ou desenterrando civilizações da Antigüidade Clássica, mostra-nos que tal pretensão de se ir em busca da grande glória nacional por mérito próprio não tem lugar na ordem de ser das coisas, pois o ser humano - rico no amor de si até o desprezo de Deus - tenderá a se tornar um verdadeiro animal que mente, a ponto de o Estado se tornar o principal ente que integra o homem grego primitivo ao homem grego moderno, a ponto de tudo estar no Estado e nada estar fora dele ou contra ele.
3.2.2) Naturalmente o grego antigo, se fosse trazido para o tempo moderno, ficaria chocado diante desse horror metafísico, ao ver o grego moderno como uma imagem distorcida dele diante do espelho, uma verdadeira caricatura grotesca dele mesmo. A mesma coisa pode ser dita com relação ao italiano, em relação ao romano, ou mesmo o israelense, em relação aos antigos hebreus da época de David. Eis a caixa de Pandora que foi aberta.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 4 de agosto de 2019 (data da postagem original).
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