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domingo, 4 de dezembro de 2022

Da arte de conhecer alguém - ensaio sobre a psicologia do caráter e a formação das guildas medievais

1) Até onde sei, a porta de entrada para eu ingressar numa nova comunidade, a ponto de tomá-la como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, é através do sexo oposto ao meu. 

2.1) Nos tempo atuais, se eu me interessar por alguém, eu tenho como levantar informações sobre esta pessoa na rede social, a ponto de tomar conhecimento de seus interesses acadêmicos e não-acadêmicos e assim ir me preparando de modo a ter uma boa conversa com ela, a ponto de causar-lhe uma boa impressão, uma vez encerrada essa loucura que é a faculdade. Se tenho um amigo em comum com aquela pessoa, eu convencerei essa pessoa a me apresentar a pessoa que pretendo conhecer, pois uma abordagem direta pode ser interpretada erroneamente como stalking.

2.2) Como sou do sexo masculino, devo entrar por essa porta do céu através da mulher que me ama. Ela provavelmente deve ter pais e irmãos e estes certamente serão os homens que naturalmente herdarei dessa relação, a ponto de serem meus homens de confiança. Estes são os objetos acessórios que seguem a sorte desse principal, minha relação a dois com ela - e sobre estes lançarei investigações paralelas de modo a se ter uma melhor noção desse todo em que eventualmente estiver metido, investigações essas de caráter econômico, sociológico e político.

3.1) Se eu, por exemplo, tenho interesse em política, então eu estou assumindo perante os meus pares que a discussão deste assunto me é produtiva, a ponto de demandar amizades mais adequadas para o tipo de conversa que eu gosto de ter - e se as pessoas forem espertas o bastante para estudarem meu perfil na rede social, elas estudarão mais esse assunto a ponto de terem uma boa conversa comigo a ponto de conquistarem a minha amizade, nos méritos de Cristo. E para isso elas estudarão não só a política mas também assuntos relacionados à arte de bem servir ao bem comum: elas estudarão história, geografia, cultura, filosofia, literatura, guerra, medicina e muitos outros assuntos de modo a serem postos em discussão de maneira séria e responsável nas assembléias municipal e estadual, uma vez que isso constituirá uma verdadeira comunhão de interesses, já que mercado é encontro, não sujeição.

3.2.1) Se eu me reunir com pessoas que têm interesse semelhante, com o intuito de discutirmos de maneira sadia os problemas da cidade para juntos resolvermos a situação social e econômica da nossa terra, visando ao bem comum de todos nós nos méritos de Cristo, então temos uma comunidade fundada em interesses elevados - e o motor da boa associação é o concurso de pessoas que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo o verdadeiro Deus e verdadeiro Homem por fundamento, que é o motor da verdadeira amizade, que é pautada nos méritos desse que deu sua vida para nos salvar do pecado e da morte eterna, a virtude por excelência, já que Ele não tinha pecado nenhum.

3.2.2.1) Neste sentido, por derivação, a guilda é uma associação de famílias que se unem em razão de interesses em comum que são próprios da santificação através de um trabalho feito a partir de um caminho profissional legítimo, reconhecido aos olhos de Deus e do povo como honesto e digno de se obter o pão de cada dia.

3.3.2.2) Como nas guildas a cultura do debate faz da necessidade liberdade para se servir ao bem comum, nos méritos de Cristo, ainda que em terras distantes, é muito comum que estas associações formem clubes - redes de inteligência próprias de quem se reúne de modo a discutir assuntos relevantes, visando ao bem comum dos associados - como a literatura, as artes e as ciências. E a associação dos mais inteligentes, dos mais versados sobre um determinados assunto, de modo a discutirem de maneira permanente essas coisas se chama Estado-maior, a ponto de transformarem a discussão dos problemas do país em um ambiente de oportunidades de negócios para todos os associados, já que a natureza da guilda é subsidiar os associados de maneira discreta e sigilosa, uma vez que seu trabalho é feito tão-somente aos membros, de modo a ajudá-los em tempos de crise tal como ocorre numa família.

3.3.2.3) Esse compartilhamento do que é relevante constitui a pequena via do jornalismo. A grande via do jornalismo é quando você se torna uma autoridade capaz de aperfeiçoar a liberdade a ponto de anunciar a verdade, que é o fundamento dessa liberdade, na forma de notícias que te contam. 

3.3.2.4) Para proteger quem te conta, você deve resguardar o sigilo da fonte. Eis a principal diferença de um comunicador social de um fofoqueiro - o comunicador social respeita a honra, a intimidade e a privacidade alheias, além de proteger suas fontes da perseguição de todos aqueles que só sabem conservar o que é conveniente e dissociado da verdade. É por conta de haver nobres comunicadores sociais que se repudia a fofoca, que é isso servido com fins vazios, com intuito de se praticar assassinato de reputação. 

4.1) Ao contrário do que Adam Smith diz, não se trata de conspiração contra o público - na verdade, aquilo que é uma lembrança de que a verdadeira fé foi perseguida - uma lembrança do tempo das catacumbas - trata-se de um mecanismo de defesa de tal modo que o mandonismo local não prejudique a verdade, o verdadeiro fundamento da liberdade.

4.2) Eis a prova cabal da importância das guildas para o protecionismo econômico, enquanto cultura. Quando os políticos conservam o que há de conveniente e dissociado da verdade, as catacumbas costumam ser o local onde a liberdade de mercado costuma ser praticada - ela é o ponto de partida para a organização da resistência. De um protecionismo educador, a verdade como fundamento da liberdade vem à tona e ela precisa do amparo de uma família.

4.3) Somente interesses elevados nos méritos do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem fomentam projetos que fazem da amizade a base da sociedade política, já que a verdade será o fundamento da liberdade desse povo, uma vez que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. 

4.4) Se os meus interesses não forem elevados e nobres, nem vale a pena o esforço de me associar a outras pessoas para juntas buscarmos o bem comum da nossa localidade nos méritos de Cristo, uma vez que não estou presente diante do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem para dizer sim a Ele diante desta nobre tarefa.

5.1) Eu comecei a desenvolver a arte de conhecer alguém jogando The Sims 2, The Sims 3 e The Sims 4 - das observações que vinha fazendo do jogo fui adaptando para a realidade que vivo, que é muito mais complexa. Graças a isso, eu hoje consigo conquistar as pessoas que desejo conquistar - no caso, as pessoas das quais gosto de verdade. 

5.2) A parte mais difícil é a preparação espiritual para a conquista  - e isso pede uma luta árdua contra o pecado, pois o diabo te impele a pecar contra a castidade, ainda mais se o nosso interlocutor for uma mulher jovem, bonita e virtuosa. Confissão e comunhão freqüentes, além de amizades adequadas, são o melhor remédio contra esse mal objetivo.

5.3.1) Como diz o meu colega Silas Feitosa, conhecer uma pessoa é o exercício de uma verdadeira filosofia - o que implica que eu recolha um monte de informações sobre ela, incluindo seus costumes, suas relações de família, seus gostos de leitura, seus hábitos familiares - enfim, as chaves pessoais que conectam suas coisas na terra ao céu, seus interesses, aqueles determinados aspectos da realidade que chamam muito a atenção dessa pessoa em particular, sobre os quais esta dedicará muito do seu tempo e energia de modo a conhecer melhor essas realidades a ponto de ficar íntimo delas.

5.3.2) Devido ao tempo a que esta pessoa se dedica a um determinado assunto em particular, naturalmente a pessoa que é eventualmente objeto do meu interesse tenderá a falar mais sobre este assunto comigo - e eu devo dar toda atenção a ela, já que o conhecimento obtido por ela, a sua experiência na área, foi fruto de muito esforço pessoal, de muita labuta nesse setor. Como tempo é um bem escasso, sobra-lhe pouco tempo para o estudo dos demais assuntos, seja por conta de julgar esses temas pouco atraentes para ela, seja por conta de não ter disponibilidade para o estudo dessas áreas. Podemos até mesmo considerar falta de circunstâncias favoráveis para poder se dedicar bem ao estudo das demais questões interessantes.

6.1) O tempo dedicado à observação e ao estudo de alguns aspectos da realidade que interessam a uma pessoa em particular formarão o seu caráter, a ponto de esse conhecimento ser parte da sua essência, da sua razão de ser enquanto ser. 

6.2) Se esse conhecimento e o ser dessa pessoa formarem uma unidade inseparável, você consegue descobrir um traço da personalidade dessa pessoa a partir do que ela mais ama, pois esse traço será uma constante na vida dela até o fim de sua vida, já que este é um traço muito marcante de sua alma, pois isso define esta pessoa em relação às demais - o que permite que saibamos qual é o seu destino e se este se realizará ou não.

6.3) É investigando seus interesses que eu descubro se uma determinada pessoa possui determinadas habilidades técnicas ou não, entre outros fatores importantes - o que me levará a ir a servir a Cristo em terras muito distantes a ponto de tomar essas terras todas como um mesmo lar em Cristo quanto a terra de origem.

6.4) Quando vou conversar com alguém, eu antes estudo seu perfil, observo as conversas que esta pessoa tem com seus contatos - se há alguma coisa onde sinto que posso contribuir com essa pessoa de modo que ela seja ainda melhor do que já é, então tomo a iniciativa da conversa. 

6.5) Se eu não estudar as tendências da pessoa de modo a saber o que ela gosta, o que ela não gosta, assim como a experiência de pessoas que conheceram esta pessoa antes de mim, eu não poderei ter uma relação com esta pessoa. 

6.6.) Eis o segredo fundamental da arte de se conhecer alguém, sobretudo na rede social, onde as informações sobre a pessoa estão mais expostas de modo a se conhecê-la melhor. Caso eu não faça este estudo cuidadoso, a conversa será improdutiva - dela não se produzirá nada de bom, pois do encontro entre vazios só haverá conflito e sujeição de A aos interesses de B ou vice-versa. A maior prova da importância deste assunto sobre o qual eu falo é que existem algoritmos na rede social que apuram nossas tendências e nossos gostos de maneira muito eficiente. A máquina está fazendo um trabalho que nós deveríamos fazer no campo da cultura - por preguiça ou mediocridade, nós delegamos às grandes companhias fazerem as coisas de modo a terem poder sobre nós de modo a nos dominarem.

7.1) É por conta de eu haver provado do gosto do fruto de diferentes árvores, alguns dos quais envenenados, que posso separar quem é bom de quem não presta - o que me leva escrever as coisas em um diário a ponto de prestar contas a Deus das coisas que eu descubro.

7.2) Por isso, escrever em um diário, ou praticar jornalismo pessoal, é descrever de maneira cronológica toda uma cadeia de fatos que se coordenam entre si de modo a nos contar a história de uma vida, a ponto de criar uma ponte entre o tempo cronológico ao tempo kairológico. Se os acontecimentos são verdadeiros processos que afetam o nosso jeito de ser em relação às nossas circunstâncias, então devemos descrever os fatos ao longo desses três tempos: o antes, o durante e o depois. Esse processo pode durar dias, meses ou até anos, dependendo da complexidade do evento.

8.1) O processo de coordenar o antes, o durante e o depois leva ao desenvolvimento de toda uma unidade de três pessoas situadas em três tempos diferentes - e o meu eu é a unidade dessas três pessoas, pois um dia eu fui isso, hoje eu sou isto e amanhã serei aquilo e eles devem estar coordenados de modo que nossa vida seja ordenada e santificada, a ponto de ter um sentido para quem nos vê como exemplo a ser seguido, já que nossa vida é um legado que não pode ser esquecido por que nos ama - e isso é parte da ciência da cruz, pois, enquanto escrevemos, é como se confessássemos perante Deus tudo o que nós fizemos de modo que Ele nos conte quem nós somos. Por isso, escrever em um diário é a primeira via da vida intelectual, o que não é muito diferente da vida de oração, posto que ela se funda na vida contemplativa. 

8.2) Graças ao conselho do professor Rodrigo Gurgel de escrever em diário, eu passei a escrever cada vez mais e melhor, a tal ponto que isso se tornou parte do meu jeito de ser, da minha cultura pessoal.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 04 de dezembro de 2022 (data da postagem original).

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Do senso de se tomar dois locais como um mesmo lar em Cristo a ponto de criar pontes entre as economias locais - ensaios sobre a questão das guildas: uma reflexão necessária nestes tempos de pós-pandemia para a reedificação da ordem nacional

1) A família Dettmann está no Rio há duas gerações: a geração do meu pai e a atual geração, da qual meu irmão e eu fazemos parte. Meu irmão já é pai e mora em São Paulo - como Brianna nasceu em São Paulo, ali começou o ramo paulista da família Dettmann.

2) O conhecimento que tenho do Rio por conta da vivência dos meus pais faz com que eu tenha um laço com a cidade, a ponto de tomá-la como um lar em Cristo. Com o apoio do Uber, vou traçando rotas de modo a otimizar custos de rotas de viagens, de modo que eu possa me encontrar com os meus contatos nas paróquias mais próximas de modo que eu possa fechar negócios com eles nos méritos de Cristo.

3) Eventualmente, em razão de eu estar em São Paulo para ver Gregório e Brianna, vou encomendando livros de sebos em São Paulo, de modo a reduzir meus custos com frete. Uma vez pegos esses livros, eu os trago para o Rio de Janeiro de modo a serem digitalizados e serem vendidos no mercado local. Com o tempo, vou adquirir um imóvel em São Paulo de modo que eu me instale na localidade e este sirva de base de operações na localidade e assim começar a replicar o mesmo modelo de negócios que adoto no Rio de Janeiro. 

4) Se meus amigos quiserem organizar suas próprias livrarias, vou oferecendo serviços business to business de modo que melhor atendam a demanda da população. Aqueles livros caros e difíceis de serem vendidos no mercado, eu os supro no mercado local, pois converterei os PDFS em livros impressos.

5.1) Sempre que há falta de livros no mercado ou se algum livro for eventualmente proibido de ser comerciado na cidade, em razão de algum interesse político fundado naquilo que se conserva de conveniente e dissociado da verdade, minha guilda entrará em ação. A guilda oferecerá aos associados produtos e serviços interessantes a um preço justo - e por meio disso, posso aperfeiçoar a autoridade de quem serve a muitos, observado o princípio da subsidiariedade

5.2.1) Como a guilda é uma associação de famílias que se unem em razão de interesses em comum que são próprios da santificação através do trabalho feito a partir de um caminho profissional legítimo, aos olhos de Deus e do povo, é comum que se tenha uma rede de inteligência própria assim como constantes reuniões de Estado-maior entre os membros mais intelectualizados da instituição de modo a se discutir problemas locais e os do país bem como oportunidades de negócios entre os associados, sem mencionar que a natureza da guilda é subsidiar os associados de maneira discreta e sigilosa, uma vez que seu trabalho é feito tão-somente aos membros da guilda, de modo a ajudá-los em tempos de crise tal como ocorre numa família. 

5.2.2) Ao contrário do que Adam Smith diz, não se trata de conspiração contra o público - na verdade, aquilo que é uma lembrança de que a verdadeira fé foi perseguida - uma lembrança do tempo das catacumbas - trata-se de um mecanismo de defesa de tal modo que o mandonismo local não prejudique a verdade, o verdadeiro fundamento da liberdade.

5.2.3) Eis a prova cabal da importância das guildas para o protecionismo econômico, enquanto cultura. Quando os políticos conservam o que há de conveniente e dissociado da verdade, as catacumbas costumam ser o local onde a liberdade de mercado costuma ser praticada - ela é o ponto de partida para a organização da resistência. De um protecionismo educador, a verdade como fundamento da liberdade vem à tona e ela precisa do amparo de uma família.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2020 (data da postagem original).

Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2022 (data da postagem original).

Link para doação:

https://www.paypal.com/cgi-bin/webscr?business=livraria.caboclo@yahoo.com.br&cmd=_donations&currency_code=BRL&amount=50&item_name=Doação  (valor: R$ 50,00)

Como nasceu a idéia da Livraria Caboclo - notas fundadas na minha experiência pessoal

1) Ao longo da minha História, eu fui provedor de livros de meus amigos Rodrigo Arantes e Felipe Lamoglia. Por conta disso, a Livraria Caboclo é uma livraria que tem por modelo de negócio o FF2B (from friendship to business).

2) O FF2B é uma evolução do B2C (business to client), já que a verdade é o fundamento da liberdade. Como tendo a tomar o cliente como amigo, por conta de amar e rejeitar as mesmas coisas tal como eu faço, tendo por Cristo fundamento, é natural que eu sirva a ele da melhor forma possível nos méritos de Cristo, uma vez que vejo no meu cliente um Cristo necessitado por conhecimento. E quando junto amigos dessa natureza, eu junto tesouros, a ponto de colher cada vez mais ganhos sobre a incerteza neste vale de lágrimas.

3) Se meus amigos viram bogatys e organizam uma atividade econômica organizada nesse sentido, fundada na venda de livros, a relação tende para um b2b (business to business), qualificada por uma missão: de que devemos servir a Cristo em terras distantes, ainda que essas terras sejam o bairro mais próximo de uma metrópole como São Paulo ou mesmo o Rio de Janeiro. Essa associação de pessoas para um projeto em comum de modo a servir ao bem comum nos méritos de Cristo forma uma guilda.

4) Com o tempo este modelo é imitado pelo resto da sociedade a ponto de a cultura de guildas ser restabelecida na sociedade. É pela cultura de guildas que se começa a construir a concórdia entre as classes produtivas, um dos fundamentos da Rerum Novarum. É assim que se combate o comunismo.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2022 (data da postagem original). 

Link para doação:

https://www.paypal.com/cgi-bin/webscr?business=livraria.caboclo@yahoo.com.br&cmd=_donations&currency_code=BRL&amount=50&item_name=Doação  (valor: R$ 50,00)

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Cultura da pejotização - um possível germe do renascimento das guildas profissionais

1) Certa ocasião, eu estava no Linked In quando me reencontrei com uma colega com a qual não falava havia muitos anos. Ela havia se formado em direito, trabalhado num escritório como advoga associada por um certo tempo até ser conhecida no mercado imobiliário. E tão logo ficou conhecida no mercado como uma profissional competente que era, ela pôde montar seu próprio escritório de advocacia.

2) Ora, se isso é perfeitamente natural entre os profissionais liberais, a mesma coisa pode acontecer entre as profissões chamadas subalternas. Vamos supor que eu comece a carreira como um padeiro, Durante um tempo, como trabalhador pobre e servil que eu sou, eu trabalho de celetista por um certo tempo até adquirir experiência e know-how profissional. Quando adquirir experiência profissional e me tornar um padeiro experiente, eu abro uma pessoa jurídica, a ponto de oferecer serviços de padeiro a quem quiser me contratar. Posso até mesmo abrir uma escola de panificação de modo a ensinar os jovens a serem futuros padeiros, tão logo eu me aposente. 

3) A PJ que eu - na qualidade de padeiro - montar, ela aceita padeiros associados. Assim, por conta da associação de padeiros, surgem oportunidades de negócios na região bem como uma melhor defesa dos interesses profissionais a nível local ou mesmo a possibilidade de se formar uma caixa mútua entre os associados de modo que os padeiros possam abrir suas próprias padarias. Isto faria com que os poderes de usar, gozar e dispor sejam distribuídos ao maior número de pessoas possível, nos méritos de Cristo.

4) Como o princípio da associação se funda no fato de as pessoas amarem e rejeitarem as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, de certa forma a cultura da pejotização, se for feita por pessoas que se santificam através do trabalho e do estudo, leva ao ressurgimento da guilda, pois as pessoas estão se associando pelo princípio mais básico: porque amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, a ponto de a verdade ser o fundamento da liberdade. E isso deve ser o motor de qualquer associação fundada no interesse profissional ou mesmo pessoal, pois a verdade não pode estar acima do amor de si até o desprezo de Deus - a razão pela qual ocorre a primarização das relações sociais.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2022 (data da postagem original).

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Notas sobre a ascensão das guildas, enquanto organização social

1) Antigamente, você aprendia a profissão de seu pai, de modo a se ganhar o pão de cada dia. A geração anterior, ela aprendeu do avô, que por sua vez aprendeu do bisavô e assim sucessivamente.

2) Com o passar do tempo, histórias de família foram se acumulando, incluindo o know-how de como se fazer alguma coisa ser transformada a partir de outras coisas. A maneira como isso foi aprendido e isso é transmitido é uma história de família, uma parte da tradição.

3) Quando o pai de família é virtuoso ou é líder de uma comunidade, ele ensina sua técnica a seus alunos - e seus alunos passam ser a extensão de sua família, a ponto de ele ser rei dessa comunidade, a partir de sua profissão. E com isso ele se torna patrono, pai fundador de uma classe profissional inteira, uma espécie de santo.

4.1) Em diferentes famílias, ocorrem diferentes histórias e ocorrem variações da técnica transmitida.

4.2) Eis aí o princípio do avanço técnico, a partir do distributivismo da tradição do mais virtuoso.O melhor dentre os alunos se torna grão-mestre e passa a ter seus próprios alunos. Se isso ocorre numa determinada profissão, isso ocorre perfeitamente em outras.

5) Na Roma Antiga, surgiram as primeiras legislações referentes à formação das guildas, os pequenos reinos cuja economia se fundava numa única profissão ancestral se tornaram classes profissionais - e como os membros dessas classes profissionais eram tomados como cidadãos romanos, passaram a servir seus dons a serviço da economia do império em constante expansão.

6) A partir do cristianismo, muitos desses cidadãos livres ensinavam aos seus escravos a sua profissão e os tomavam como filhos de sua família. E os filhos adotivos eram casados, a ponto de terem também direito à propriedade. Quando todos as classes puderam vir uma à outra na figura do Cristo, começou a surgir o casamento entre membros de classes diferentes, gerando toda uma nova miríade de profissões, dando origem a era dos polímatas, que foi a época que mais gerou gênios na história da humanidade

7) Este foi o ponto alto de uma longa evolução que levou muitos séculos para ser forjada. Bastou a ruptura com a essência do mundo cristão e de todo esse mundo clássico, onde a verdade conhecida deve ser observada, que se iniciou esse inferno que é o mundo moderno em que vivemos.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 04 de maio de 2020 (data da postagem original).

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domingo, 3 de maio de 2020

Do impacto da ética protestante na organização social das guildas

1.1) As guildas eram associações profissionais de famílias que tinham interesses em comum, fundadas nos interesses de sua própria classe.

1.2) Elas visavam a proteger os segredos de sua profissão de modo que fossem usados com fins vazios e também eram uma rede apoio mútuo de modo que fossem vitais para a economia da cidade.

2) Cada profissão constituía sua própria classe. Por isso, a administração do bem comum implica necessariamente a conciliação dos interesses de classe  de modo que cada uma trabalhasse em função da outra, de modo que a sociedade bem funcionasse.

3.1) A passagem da comunidade para a sociedade se dá justamente quando as pessoas se dividem em classes profissionais de modo a umas vivessem em função das outras, a ponto de a confiança reger todas as coisas.

3.2) As classes são os órgãos de uma sociedade - quanto mais classes profissionais houver, mais divisão do trabalho haverá e mais especializados seus indivíduos se tornam, tornando a sociedade mais orgânica.

3.3) Da concórdia entre as classes, famílias são formadas a partir do casamento de um homem que trabalha em uma determinada profissão e de uma mulher em outra profissão. A criança acaba descobrindo sua própria profissão quando aprende o melhor de ambos os mundos, a ponto de ser um polímata.

4.1) Quando se incute a ética protestante num ambiente desse, a ponto de fazer da riqueza sinal de salvação e a dividir a sociedade entre eleitos e condenados, ela acaba pervertendo o conceito de guilda.

4.2.1) Algumas famílias tendem a ficar cheias de si até o desprezo de Deus e tendem a operar as coisas por meio de sociedades secretas.

4.2.2) Nessas sociedades secretas, ocorrem grandes progressos técnicos, que tendem a ficar somente nas mãos dos membros dessas guildas. A corporação dos pedreiros foi a primeira que aderiu a essa nova ética que bagunçou a sociedade das guildas.

4.2.3) Essa cultura do segredo comercial deu origem ao direito autoral, à formação das sociedades em comandita por ações (companhias comerciais que tinham nos príncipes protestantes seus sócios ocultos e que tinham a missão de tomar territórios nas possessões espanholas e portuguesas), a ponto de fazer com que a liberdade fosse servida com fins vazios.

5) A queda das guildas levou à uma cultura de luta de classes, uma vez que toda classe passou a ter a verdade que quisesse a ponto de a liberdade de se associar ser servida com fins vazios, dando origem aos sindicatos. Eis o socialismo.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 3 de maio de 2020.

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