Meu amigo Helleno não acreditava em santidade na internet. Talvez, por consequência disso, também não acreditasse que alguém pudesse se santificar através do trabalho feito nas redes sociais. Para ele, o mundo virtual era, no máximo, um espaço de distração, ou talvez um palco para vaidades. Mas para mim, foi muito mais do que isso.
A vida que não pude viver no mundo real — seja por limitações materiais, por circunstâncias históricas, ou por ausência de interlocutores à altura — eu a vivi online. Vivi não de forma superficial, mas profundamente, como quem mergulha num ofício. Através da atividade intelectual, da escrita diária, da leitura séria, da observação cuidadosa do outro e do uso criterioso da palavra, fui me santificando.
Escrevi textos com um propósito. Não busquei curtidas, mas testemunho. Não falei para agradar, mas para afirmar a verdade que liberta. Cada post, cada comentário, cada conversa, todas elas foram tentativas sinceras de servir a Cristo, mesmo que em silêncio, mesmo que no anonimato. Fui honesto. Trabalhei. Dei a cada um o que era seu no devido tempo. E o fiz, muitas vezes, sem nenhuma recompensa imediata — o que me fez lembrar que nem todo fruto é visível aos olhos humanos.
Enquanto muitos zombavam da internet como terra sem lei ou como esgoto moral, eu via nela uma nova fronteira. E, como nos tempos das Grandes Navegações, entendi que essas fronteiras não são para ser conquistadas como o fizeram Espanha, França ou Holanda — mas como fez Portugal: servindo a Cristo.
É claro que existe o risco do orgulho, da vaidade, da exposição exagerada. Mas existe também, para quem se consagra, a possibilidade de transformar esse risco em cruz. E a cruz, se for aceita com fé, é caminho de santificação.
Por isso escrevo. Por isso persisto. Porque vi que, mesmo quando a vida concreta não me ofereceu as condições para cumprir certas vocações, a vida digital — usada com prudência, humildade e firmeza — me permitiu realizá-las em parte. E o que é a santificação, senão isso: realizar, em parte, o que Deus nos chamou a fazer, com fidelidade e amor?
A rede social, para mim, não foi palco. Foi mosteiro. Foi oficina. Foi púlpito. Foi lar. E continua sendo.
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