Resumo
Este artigo desenvolve uma doutrina tributária e civilizacional inspirada nos princípios do direito natural cristão, segundo a qual o tributo, longe de ser uma exação forçada, pode assumir a forma de uma oferenda voluntária — análoga ao cashback — quando nasce da gratidão de um povo que reconhece no monarca a imagem do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Argumenta-se que o tributo pode ser prestado in natura, através do trabalho jubiloso do cidadão, e que esse serviço edifica não apenas obras públicas, mas também formas arquitetônicas sagradas, costumes civilizadores e vínculos sociais nobres. Em resposta, o monarca pode recompensar com títulos e honrarias aqueles que serviram à nação nos méritos de Cristo.
1. Introdução
O tributo, à luz da Tradição cristã, não é apenas exigência fiscal, mas gesto de amor político. Quando um homem serve à liberdade de muitos nos méritos de Cristo, por meio do trabalho, da inteligência e do tempo consagrados ao bem comum, nasce uma dívida da comunidade em relação a ele. Essa dívida pode ser satisfeita com honra, nobreza e preferência política. O tributo, nesse caso, é um dom que retorna — um cashback espiritual.
2. Liberdade Aperfeiçoada como fonte de autoridade
A liberdade, segundo o Evangelho, é fruto da Verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Quando o vassalo de Cristo consagra sua vida à Verdade, torna-se agente de libertação. A sociedade, por gratidão, tributa esse homem, reconhecendo sua autoridade. Essa autoridade, que nasce do serviço, exige reciprocidade: tributo espiritual, prestígio e, quando necessário, títulos.
3. O tributo como cashback espiritual e social
A noção de cashback aqui não se aplica ao consumo, mas à graça e ao dom. O vassalo oferece sua vida pela pátria; a pátria devolve, não apenas em bens materiais, mas em reconhecimento e preferência social. A moeda é substituída pelo símbolo. O trabalho se converte em memória, e a memória em gratidão política.
4. A forma arquitetônica como fruto do tributo in natura
As formas arquitetônicas que moldaram civilizações inteiras — do Egito faraônico à Cristandade medieval — nasceram precisamente da oferta jubilosa do trabalho popular ao soberano. As pirâmides, os templos gregos, as catedrais francesas e os mosteiros ibéricos não foram erguidos por empresas contratadas, mas por povos inteiros que viam no rei o mediador entre Deus e a terra.
Esse esforço era uma liturgia do espaço, onde a matéria obedecia à alma da civilização. Os estilos arquitetônicos são, portanto, expressão material da teologia política de um povo: românico, gótico, barroco — todos frutos de um tributo que não era imposto, mas voto.
5. A servidão santa e a diferença com a escravidão
Há quem confunda essa oferenda de trabalho com escravidão. Trata-se, no entanto, de distinção essencial:
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A escravidão é servidão contra a vontade, imposta por força ou coação.
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A servidão santa é entrega voluntária de si por amor à ordem, à justiça e ao rei, reconhecido como servidor de Cristo.
Essa entrega é jubilosa, pois reconhece que a vida só tem sentido se for doada. E se a doação for grande, grande também será a recompensa.
6. A recompensa justa: títulos, honrarias e preferência
Se o governante não pode pagar em dinheiro, deve pagar com o que é mais precioso: a honra. Os que serviram à nação nos méritos de Cristo têm direito à memória, à distinção e à preferência.
Essa é a origem legítima dos títulos nobiliárquicos:
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Não como privilégio hereditário injustificado,
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Mas como herança espiritual de famílias que doaram tempo, sangue e alma para a pátria cristã.
A pequena lei que dá preferência a tais famílias é justa: reconhece que o passado importa, e que a lealdade dos pais deve contar em favor dos filhos. Essa relação entre o monarca e o súdito é análoga à do pai e do filho — uma reciprocidade nos méritos de Cristo.
7. A possibilidade brasileira
Se houver no Brasil um monarca legítimo que governe nos méritos de Cristo, surgirá novamente essa reciprocidade de serviço e honra. E, com ela, a arquitetura deixará de ser cópia estrangeira e voltará a ser símbolo do espírito nacional redimido.
As catedrais, escolas, hospitais e obras públicas erguidas pelo povo fiel serão marcos de uma nova civilização. E os títulos concedidos aos seus construtores não serão vaidade, mas justiça.
8. Conclusão
O tributo cristão, quando prestado por um povo que ama seu rei e serve nos méritos de Cristo, não apenas financia o Estado, mas constrói civilizações. Ele gera estilos arquitetônicos, cultura, leis e nobreza. Ele edifica a beleza e a memória. E, em troca, quem serviu com fé deve ser distinguido com títulos, preferências e honra — para que a justiça reine e a gratidão permaneça viva de geração em geração.
Referências Bibliográficas
ASSMANN, Jan. A mente egípcia: história e significado da religião faraônica. Petrópolis: Vozes, 2006.
PIEPER, Josef. Ócio e a vida intelectual. São Paulo: É Realizações, 2010.
BELLLOC, Hilaire; CHESTERTON, G. K. O Estado Servil. São Paulo: LVM, 2020.
SANTA BÍBLIA. Evangelhos de João (8,32) e Mateus (25,21).
Notas de Rodapé
¹ Cf. ASSMANN, Jan. A mente egípcia, p. 112-114.
² Cf. PIEPER, Josef. Ócio e a vida intelectual, p. 88.
³ Ibid.
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