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sábado, 19 de julho de 2025

Gratuidade, Tecnologia e O Tempo Oportuno: uma estratégia de liberdade no consumo digital

Durante muito tempo, alinhei minha rotina digital à lógica das quintas-feiras da Epic Games. Era quase um reflexo automático: abrir a loja, conferir o que estava gratuito, clicar em "obter" e aumentar a biblioteca — mesmo sem a menor certeza de quando (ou se) jogaria aquele título. O que me motivava era o senso de oportunidade: “É de graça, por que não?”

Mas com o tempo, esse comportamento começou a me incomodar. A gratuidade, quando dependente da sorte e da regularidade de uma plataforma, se transforma em um tipo sutil de servidão: você espera, você depende, você se molda a um calendário que não é seu. Foi nesse momento que uma chave virou, e comecei a enxergar o cashback da Epic Games sob outra luz.

A mecânica era simples: uma porcentagem do valor de cada compra retorna em forma de crédito para futuras aquisições. Mas o impacto dessa lógica era profundo: ela me dava autonomia. Em vez de esperar pelas ofertas que me davam algo que talvez eu nunca usasse, eu podia investir em algo que fazia sentido para mim — e o próprio investimento se tornava semente de futuras gratuidades. Comecei, então, a construir o que chamei de meu sistema de gratuidade pessoal.

Essa transição, no entanto, não era apenas sobre economia. Era sobre tempo.

Percebi que muitos dos jogos que adquiria — seja por cashback ou gratuidade — não rodavam bem na máquina que eu possuía. Exigiam mais memória, uma GPU mais robusta, um processador à altura. Mas isso, longe de ser um problema, se transformou numa lição: esses jogos eram como sementes lançadas no tempo. Aceitei que só poderia colhê-las plenamente quando a tecnologia estivesse mais acessível, quando os requisitos deixassem de ser um obstáculo.

Foi assim que comecei a pensar minhas aquisições com base não no chronos — o tempo cronológico e imediato do consumo apressado — mas no kairós, o tempo oportuno, o tempo qualitativo. Eu plantava agora para jogar daqui a cinco, dez ou até quinze anos. E quando esse tempo chegasse, não haveria custo, nem correria: o jogo já estaria lá, pacientemente à espera.

Essa consciência transformou completamente meu modo de lidar com a tecnologia e o consumo. Em vez de ser movido pela ansiedade da última geração de hardware, passei a ver o tempo como aliado. Sei que placas integradas evoluem, que processadores se popularizam, que requisitos outrora restritivos se tornam triviais. Com isso, minha biblioteca cresce não apenas em quantidade, mas em sentido.

Não compro jogos para o agora. Compro para o tempo certo. Não me curvo à lógica da escassez artificial. Uso a lógica da abundância futura. E o melhor: cada jogo adquirido com cashback é, por si só, uma fonte de crédito para a próxima aquisição. É um sistema em que o investimento retorna, a espera amadurece, e a gratuidade não é uma benesse aleatória, mas fruto de estratégia e paciência.

É por isso que digo: a verdadeira gratuidade não está no que se recebe sem esforço, mas no que se conquista com sabedoria. E, nesse sentido, meu sistema de gratuidade pessoal não é apenas um método de compra — é um pequeno ato de liberdade cristã no meio digital.

Assim como o agricultor planta no tempo certo, esperando o ciclo das estações, eu planto jogos no tempo da graça tecnológica, confiando que o amanhã trará os recursos que hoje ainda não tenho. E quando esse dia chegar, estarei pronto. Sem dívidas, sem pressa, sem ilusão.

Afinal, como diz a Escritura: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1). Até para jogar.

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