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sábado, 19 de julho de 2025

A antibiblioteca dos jogos: quando o backlog se torna Um capital de possibilidades

Foi ao conhecer o conceito de antibiblioteca, descrito por Nassim Nicholas Taleb a partir da obra do escritor Umberto Eco, que percebi: meu backlog de jogos não é um fracasso em jogar tudo o que comprei — é o exato oposto. Ele é o testemunho silencioso de tudo o que ainda posso descobrir, aprender e desfrutar quando o tempo oportuno chegar.

A antibiblioteca, diferentemente da biblioteca lida, não é sobre o passado. Ela é sobre o futuro. Sobre a humildade de reconhecer que a parte mais valiosa de qualquer acervo é aquilo que ainda não se domina. E isso vale, sim, para livros, mas também para jogos.

Cada título guardado, adquirido com cashback ou estratégia, representa uma reserva de mundos, ideias, histórias, sistemas e experiências que ainda estão por vir. Não são apenas bits esperando download — são convites à contemplação, ao raciocínio, ao descanso e ao prazer estético que ainda não se atualizou no tempo.

Meu backlog não é culpa. É capital.

Capital no sentido mais profundo, tal como lecionava o Papa Leão XIII: aquilo que se acumula não por ganância, mas por trabalho, sabedoria e visão de longo prazo. O tempo gasto comparando preços, avaliando requisitos mínimos, estudando as otimizações futuras, usando cashback de forma racional — tudo isso é trabalho que se transforma em acervo, e o acervo é capital.

Mas mais do que isso: é capital espiritual. Porque não é só o corpo que repousa no lazer. É a alma que se alegra com a beleza, com a ordem, com a liberdade de fazer o que se ama sem pressa, sem custo, sem dependência do presente.

A antibiblioteca dos jogos é, nesse sentido, uma extensão do meu espírito de previdência cristã. Eu planto hoje, mesmo sem poder jogar agora. Eu guardo, mesmo sem saber quando poderei desfrutar. Eu espero, confiando que o tempo oportuno — o kairós — chegará.

E quando ele chegar, terei não apenas jogos — terei refúgios preparados, experiências alinhadas ao que me interessa, mundos prontos para me receber. Porque fui previdente. Porque confiei na lógica do tempo longo. Porque vi no backlog, não um fardo, mas um mapa ainda em branco das possibilidades.

No fundo, essa antibiblioteca lúdica é uma escola de humildade. Cada jogo que ainda não joguei é um lembrete de que o mundo é maior do que o agora, que a vida tem fases, e que o lazer, quando cultivado com fé, pode ser um ato de gratidão — e até de amor.

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