Se o Flamengo fosse aposentar camisas para homenagear todos os seus grandes ídolos, seus futuros jogadores teriam que entrar em campo com números a partir do 100. Seria preciso inventar a camisa 110 para o próximo artilheiro, a 125 para o lateral promissor da base, e quem sabe a 200 para um novo craque estrangeiro. Porque o fato é simples: no Flamengo, não faltam lendas. O que falta é número, se a gente resolver aposentá-los.
Aposentar camisas é uma prática comum em esportes como o basquete ou o futebol americano, onde a cultura de números fixos é quase ritualística. O 23 do Michael Jordan, o 10 do Pelé (ainda que não oficialmente aposentada), o 7 do Cristiano Ronaldo em alguns clubes — cada um desses números carrega uma mística própria. Mas no Flamengo, o sagrado está no movimento contínuo, não na estagnação.
Imagina a confusão:
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A 10 teria que ser enterrada junto com Zico — e com ela, a fantasia do torcedor em ver nascer um novo maestro.
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A 5, consagrada por Júnior, teria de sair de cena, assim como a 2 de Leandro.
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A 11, marcada por Petkovic e depois Gabigol, ficaria em um altar inacessível.
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A 9 não mais entraria em campo — de Nunes a Adriano, seu ciclo estaria completo.
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A 1, então, teria que ser triplicada: Raul, Júlio César e Diego Alves disputariam seu direito ao olimpo.
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E ainda faltam menções honrosas à 7, à 6, à 3, à 8… O Flamengo é um álbum de figurinhas onde quase todas as páginas têm um brilho dourado.
Mas o Flamengo não é um museu. É um vulcão. E sua história, embora gloriosa, não está terminada. Ainda há gols a serem feitos, dribles a serem inventados, defesas milagrosas a serem lembradas no Maracanã. Por isso, não se deve aposentar número algum. Deve-se, isso sim, dar a cada número o peso da responsabilidade.
A 10 do Flamengo não precisa ser aposentada. Ela precisa ser conquistada.
Assim como a 9, a 11, a 1, a 5. Cada camisa é um chamado à grandeza. Um elo entre o passado, o presente e o que ainda está por vir.
Enquanto alguns clubes celebram o fim de um ciclo aposentando camisas, o Flamengo celebra o recomeço. Um novo garoto da base vestindo a 8 e ouvindo no vestiário: “essa aí já foi do Adílio, honra ela”. Um atacante importado recebendo a 11 e sendo lembrado do que Petkovic e Gabigol fizeram com ela. Isso é formação de caráter rubro-negro.
A camisa, no Flamengo, não é um prêmio póstumo. É uma herança em movimento.
📌 Conclusão
O Flamengo não precisa pendurar números. Precisa mantê-los em campo, vivos, carregados de memória, responsabilidade e paixão. Porque cada número rubro-negro é uma história em aberto, esperando ser escrita de novo — com suor, com raça, com gols no último minuto e lágrimas nas arquibancadas.
No Flamengo, as camisas não se aposentam. Elas reencarnam.
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