Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em 18 de junho de 2025, o Banco Central do Brasil anunciou uma nova alta na taxa Selic, elevando-a de 14,75% para 15% ao ano. O movimento marca o sétimo aumento consecutivo e coloca a taxa básica de juros em seu maior nível desde 2006.
A decisão, embora esperada por parte dos agentes de mercado, reacendeu o debate sobre a relação entre a política fiscal do governo federal e a condução da política monetária. Entre os críticos mais contundentes, destaca-se Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia e ex-secretário de Política Econômica, que classificou o aumento dos juros como o "preço da irresponsabilidade fiscal" do governo Lula.
O diagnóstico de Sachsida: o risco de uma crise fiscal em 2027
Em publicação recente nas redes sociais, Sachsida foi direto: "Lula vai contratando uma crise fiscal para 2027." Segundo o ex-ministro, o crescimento descontrolado dos gastos públicos e o aumento sucessivo da carga tributária estão pressionando a inflação, forçando o Banco Central a manter a Selic em patamares historicamente altos.
Essa elevação dos juros tem efeito direto sobre o custo da dívida pública, deteriorando ainda mais o quadro fiscal, que já enfrenta déficits recorrentes e dificuldades de cumprimento das metas estabelecidas no novo arcabouço fiscal.
Entendendo a lógica econômica por trás da crítica
A crítica de Sachsida tem base em um conceito amplamente aceito na teoria econômica: o canal fiscal da política monetária. Quando o governo amplia seus gastos de forma descolada da arrecadação e sem contrapartidas claras de eficiência, o risco país aumenta, as expectativas de inflação se deterioram e o Banco Central é obrigado a atuar com mais rigor na taxa de juros.
Em outras palavras, a autoridade monetária reage a um ambiente fiscal expansionista com uma política monetária mais restritiva, elevando os juros para tentar conter a demanda agregada e a formação de expectativas inflacionárias negativas.
O impacto da Selic a 15% na economia real
A Selic a 15% ao ano traz uma série de consequências para a economia:
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Encarecimento do crédito: Financiamentos imobiliários, crédito pessoal, capital de giro para empresas e empréstimos em geral ficam mais caros.
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Deterioração das contas públicas: O serviço da dívida cresce, comprometendo parte significativa do orçamento federal apenas para pagamento de juros.
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Desaceleração econômica: A alta dos juros desestimula investimentos produtivos e consumo, dificultando a retomada do crescimento econômico.
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Pressão sobre a taxa de câmbio: Embora os juros altos atraiam capital estrangeiro de curto prazo, a percepção de risco fiscal pode pressionar o câmbio, alimentando a inflação via importados.
O caminho apontado: Ajuste fiscal ou mais juros?
O Banco Central já sinalizou que pretende manter os juros elevados por um período "bastante prolongado", a menos que haja uma melhora significativa na trajetória fiscal e nas expectativas de inflação.
Sachsida, em sua análise, defende um ajuste fiscal urgente, com redução de gastos públicos e contenção da ânsia arrecadatória, como forma de restabelecer a confiança do mercado e abrir espaço para uma eventual queda de juros.
Por outro lado, o governo federal, até o momento, mantém uma postura de expansão de programas sociais e investimentos públicos, com sinalizações pouco claras de contenção de despesas ou reformas estruturantes.
Conclusão: um ciclo preocupante
A elevação da Selic a 15% é mais que um número: é um sinal claro de alerta sobre os desequilíbrios acumulados na economia brasileira. A continuidade desse ciclo de aperto monetário sem uma resposta firme na frente fiscal pode empurrar o Brasil para uma armadilha de baixo crescimento, alto custo de capital e, como alerta Sachsida, uma crise fiscal ainda mais grave em 2027.
O desafio está posto: ou o governo age para corrigir o rumo fiscal, ou o país continuará a pagar a conta, com juros cada vez mais altos e um ambiente econômico cada vez mais adverso.
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