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sábado, 14 de junho de 2025

Conservadores de gravata borboleta: um estudo retroativo sobre o conservantismo de pose

Antes mesmo de conhecer o ambiente do Amal Date e suas exibições performáticas diante da pirâmide de vidro do Louvre, eu já havia me deparado com um tipo humano que hoje reconheço com mais clareza: os "conservadores de gravata borboleta". Naquele tempo, minha experiência ainda não havia sido temperada pelas lições de São Boaventura, nem meu olhar havia sido treinado pelas análises espirituais que hoje me orientam. Mas já havia em mim uma intuição incômoda, uma suspeita de que havia algo de teatral demais naquela estética importada.

A gravata borboleta, símbolo característico do conservadorismo anglo-saxão, carrega consigo uma tradição de formalismo, distinção e certa pompa cerimonial. No contexto britânico ou americano, ela pode ser vista como um código visual de pertencimento a uma elite intelectual ou social que preza por códigos de conduta, rituais e um tipo muito específico de "decoro público" (SCRUTON, 2017). No entanto, transplantada de forma acrítica para o solo brasileiro, ela frequentemente vira um fetiche estético, descolado da substância moral e filosófica que deveria acompanhar um verdadeiro espírito conservador.

Se eu pudesse retroceder no tempo, faria o que hoje é meu método habitual de investigação de perfis: pediria aos sujeitos suas postagens de blog, links de YouTube, textos, entrevistas, qualquer produção que permitisse um estudo de suas ideias em profundidade. A experiência me ensinou que o conservantismo de pose não resiste a uma análise de conteúdo sério. Eles provavelmente tremeriam na base. E eu acabaria com mais uma história a acrescentar à coleção de casos em que o teatro ideológico ruiu diante da busca pela verdade.

São Boaventura, ao tratar do itinerário da alma para Deus, nos alerta sobre os perigos de um conhecimento que não passa pela purificação do olhar interior. Em sua obra Itinerarium mentis in Deum, o santo doutor frisa que a verdadeira sabedoria nasce da contemplação e da conversão do coração, e não da mera acumulação de signos externos (BOAVENTURA, 1999).

Com a lente boaventuriana que hoje carrego, consigo perceber que a gravata borboleta, naquele contexto, era apenas mais uma camada de verniz. Um artifício para encobrir o vazio de conteúdo, a ausência de verdadeira conversão cultural e espiritual. O exibicionismo – seja através da indumentária ou das selfies diante de símbolos culturais – é sempre um escudo frágil diante daquele que busca a verdade por amor a Cristo.

Talvez, se naquela época eu tivesse o olhar que tenho hoje, a história fosse diferente. Mas a Providência tem seus tempos. O que antes foi hesitação, hoje é método. E o que antes passou despercebido, hoje é matéria de análise e reflexão.

Nota de Rodapé

  1. Por "conservantismo", entendo aqui a degeneração do conservadorismo autêntico em um mero culto exterior de formas, símbolos e ritos sociais vazios de conteúdo moral ou espiritual. Trata-se de uma simulação de virtude cívica, ancorada mais em estéticas, jargões e posturas performáticas do que em compromisso real com a verdade, a tradição viva e a moral objetiva. O conservantismo é, portanto, uma espécie de teatro político-ideológico que conserva apenas aquilo que lhe é conveniente, evitando o sacrifício pessoal necessário para conservar o que é verdadeiro e permanente.

Referências Bibliográficas

BOAVENTURA, São. Itinerário da mente para Deus. Trad. João Carlos Almeida. São Paulo: Paulus, 1999.

SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Trad. Maurício Tamboni. São Paulo: Record, 2017.

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