Pesquisar este blog

sábado, 14 de junho de 2025

A invisibilidade do culto: sobre a verdadeira vocação da cultura diante de Deus

 Introdução

Vivemos na era da exibição. Redes sociais como Instagram, TikTok e aplicativos de relacionamento como o Amal Date tornaram-se vitrines para um tipo de vaidade intelectual disfarçada de cultura. Fotografias cuidadosamente posadas em frente a monumentos famosos, como a pirâmide de vidro do Louvre, buscam transmitir ao observador a falsa impressão de erudição e sofisticação. No entanto, o verdadeiro culto – aquele que se dedica ao conhecimento nos méritos de Cristo – não se apresenta aos olhos do mundo, mas permanece oculto, invisível e silencioso, como uma oferta sacerdotal feita ao Altíssimo.

A falsa cultura e o público errado

A cena é comum: uma moça, vestida de forma estratégica, tira selfies diante do Louvre com legendas recheadas de citações rasas ou de hashtags que apelam à ideia de cultura cosmopolita. Seu público-alvo são os seguidores do Instagram e os pretendentes eventuais do Amal Date. A motivação por trás desse gesto é clara: alimentar o próprio ego através de aplausos virtuais.

Esse fenômeno é descrito por Josiah Royce em sua obra The Philosophy of Loyalty, onde o autor discute a ideia de "lealdade ao público errado"¹. Segundo Royce, quando escolhemos como plateia aqueles que apenas nos oferecem reconhecimento superficial e momentâneo, traímos o verdadeiro chamado da lealdade ao bem, à verdade e ao serviço autêntico. A busca por curtidas e aprovação social acaba por corromper até mesmo o desejo inicial de aprender.

A Verdadeira Audiência: Deus, os Anjos e os Santos

Em contraste com essa cultura da aparência, o verdadeiro culto ao saber vive sob outro olhar: o de Deus. Aquele que estuda com amor à verdade, que consome livros, que se dedica ao aperfeiçoamento intelectual, faz tudo isso sabendo que sua audiência real não está na Terra, mas no Céu.

Ser culto é um sacerdócio. O estudioso verdadeiro age como um levita intelectual, que prepara com zelo o altar da razão para oferecer a Deus um sacrifício de pensamento ordenado, refletido e verdadeiro. Ele sabe que o conhecimento é uma graça, e que, como toda graça, exige responsabilidade. O verdadeiro culto é aquele que, mesmo no silêncio de uma biblioteca doméstica ou na solidão de um quarto, persevera no estudo porque reconhece que o conhecimento adquirido será um dia cobrado por Aquele que o concedeu. 

Sacrifício e vocação em meio ao desprezo

No Brasil, a situação é ainda mais desafiadora. A cultura do improviso, da gambiarra intelectual e do anti-intelectualismo militante faz com que o estudioso, muitas vezes, seja ridicularizado, ignorado ou até mesmo perseguido. Ser culto aqui não é motivo de aplauso, mas de escárnio. Muitos tratam o estudo como subemprego ou como fuga da realidade prática. Mas como já dizia São Paulo:

"Sede, pois, firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor."
(1 Coríntios 15, 58)

Essa resistência ao estudo, no entanto, não pode servir de desculpa para o abandono da vocação. O chamado à cultura é, antes de tudo, um chamado à caridade intelectual: amar a verdade o suficiente para servi-la, mesmo sem reconhecimento humano. 

Conclusão

Enquanto o mundo celebra a vaidade de uma selfie diante da pirâmide do Louvre, o verdadeiro culto se recolhe, fecha a porta do seu quarto, abre um livro e dialoga com os grandes mestres da história sob o olhar de Deus. O mundo talvez nunca aplauda esse esforço. Mas a audiência que realmente importa – Deus, os anjos e os santos – já vê, já registra e, no momento oportuno, recompensará.

Assim, que cada um de nós, chamado ao estudo, permaneça fiel ao seu dever. Pois mesmo invisível aos olhos do mundo, nossa labuta diária no campo do conhecimento é uma participação concreta na grande obra da Redenção. 

Notas

¹ ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

² BÍBLIA SAGRADA. 1 Coríntios 15, 58. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário