A palavra "escrúpulo" carrega consigo uma história rica de sentido. Originalmente, o termo deriva do latim scrupulus, que significava literalmente "uma pequena pedra afiada". Nas marchas da Roma Antiga, os soldados eram frequentemente obrigados a decidir entre suportar a dor de uma pedrinha incômoda dentro da sandália ou parar a marcha e sofrer as consequências disciplinares por atrasar a tropa.
No campo moral, o escrúpulo tornou-se, ao longo dos séculos, uma metáfora para aquele incômodo interno que nos faz hesitar diante de uma decisão, por dúvida sobre o que é certo ou errado. É, num primeiro olhar, um sinal de consciência viva, um alerta da alma para os perigos do erro. Contudo, como tudo aquilo que diz respeito ao espírito humano, o escrúpulo também pode se corromper.
Hoje, vemos o fenômeno de um "escrúpulo conveniente", uma espécie de autojustificação moral travestida de zelo. Pessoas acumulam pequenas pedras de falsa consciência para justificar aquilo que, no fundo, é pura covardia, tibieza ou falta de caráter.
Quando a hesitação se torna álibi
Muitos, ao se depararem com situações que exigem coragem, decisão ou sacrifício, recorrem a uma série de justificativas "moralmente sensatas", cuidadosamente cultivadas ao longo dos anos. Dizem: "Não posso agir assim, minha consciência não permite", quando, na verdade, o que os impede é o medo de perder posição, conforto ou aprovação social.
Em vez de agirem com prudência (virtude que orienta a razão prática na escolha dos meios certos), eles se entregam a um falso zelo que paralisa. O que deveria ser um freio contra o mal, transforma-se num álibi para a omissão diante do bem. Esquecem-se de que a tibieza — aquela incapacidade de fazer o bem por puro apego ao próprio bem-estar — é tão reprovável quanto a temeridade.
A falsa consciência e a dissociação da verdade
O problema moral não está em ter escrúpulos, mas conservá-los de maneira conveniente de modo a nos afastar da verdade, da amizade com Deus. Um escrúpulo que não nasce da reta razão, iluminada pela verdade objetiva, não é virtude, mas um artifício psicológico. Em muitos casos, o sujeito já decidiu no fundo de sua alma não fazer o que deve, e então vai acumulando pedrinhas de "boas razões" para justificar sua omissão.
Aqui se vê um traço muito comum das sociedades modernas: a moral de aparência, que julga pelas intenções autoatribuídas, e não pelos frutos concretos das ações. O sujeito "de bom coração" torna-se um monumento de hesitações, nunca se comprometendo com nada que exija sangue, suor e lágrimas. Torna-se um eterno peregrino da dúvida, mais preocupado com sua autoimagem de "pessoa sensível e ponderada" do que com o dever real.
A covardia disfarçada de prudência
No fundo, esses "escrúpulos acumulados" não são outra coisa senão um sintoma de covardia. Uma covardia sorrateira, polida, muitas vezes elogiada pelos pares como "ponderação", mas que, no Juízo Final, não passará de areia frouxa diante da Verdade que julga os corações.
Enquanto alguns enfrentam as pedras reais das suas marchas, com fé e coragem, outros preferem enfileirar suas "pedrinhas morais" numa coleção que os impede de dar um passo decisivo para o bem.
Conclusão: livrar-se da pedra ou permanecer na covardia?
Diante da vida, todos nós seremos, como os legionários, forçados a escolher: ou suportamos a dor e seguimos adiante, ou paramos para tirar a pedra, conscientes de que a marcha não espera. Mas o que jamais podemos fazer é fingir que o problema está na pedra, quando na verdade está no medo de avançar.
Se o escrúpulo for legítimo, purificado pela verdade e pela reta razão, ele é um aliado da consciência. Se for uma desculpa disfarçada, será mais um prego no caixão da própria covardia.
Em tempos de tantas vozes moralmente dúbias, convém lembrar: o verdadeiro soldado da vida não coleciona desculpas. Ele caminha. Mesmo com pedras no sapato.
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