1. A ilusão do currículo como produto de mercado
O LinkedIn nasce dentro de uma lógica empresarial própria da era da gestão de recursos humanos como ciência da objetificação da pessoa. A plataforma não é, originalmente, um espaço de construção de comunidade, mas um grande banco de dados de perfis profissionais, organizado para servir às necessidades das empresas e dos recrutadores.
A própria arquitetura da plataforma empurra o usuário para uma espécie de "economia da aparência": você precisa se apresentar como uma mercadoria bem embalada, com palavras-chave, cargos pomposos, certificações, fotos corporativas e um linguajar de autoajuda empresarial.
O problema? Essa estética de vitrine, em vez de criar laços, produz afastamento humano. As pessoas têm medo de interagir de maneira espontânea, com receio de prejudicar sua "marca pessoal" ou parecer "pouco profissional".
Filosofia por trás do problema:
A crise do LinkedIn é, no fundo, a crise de um modelo de sociedade que reduz a pessoa à sua função utilitária. Como diziam os personalistas do século XX (Emmanuel Mounier, Karol Wojtyła), reduzir o homem à sua função é desumanizá-lo.
2. A Economia da Confiança: relações que precedem o contrato
No universo das redes como Facebook e Amal Date, as relações não nascem de um contrato prévio, nem de um currículo bem montado. Elas nascem daquilo que a filosofia moral chama de economia da confiança.
O que é a Economia da Confiança?
É o princípio segundo o qual nenhum contrato, nenhuma sociedade, nenhuma parceria pode nascer sem um tecido prévio de confiança interpessoal.
Antes de qualquer transação comercial ou profissional, há sempre um momento anterior: o momento da amizade cívica (no sentido aristotélico), da confiança tácita, da leitura moral da pessoa com quem você interage.
Nas redes como Facebook e Amal Date, as pessoas te avaliam pelo que você escreve, pela forma como argumenta, pela constância com que mantém uma linha de pensamento, pela maneira como responde a críticas, pela sua capacidade de escutar.
Antes de te oferecer uma oportunidade de estágio ou de parceria profissional, as pessoas vão querer saber quem você é de verdade.
Essa é a pedagogia social da confiança — ela exige tempo, interação e verdade.
3. O valor da escrita autoral: construindo autoridade em ambientes informais
Quem, como eu, tem uma produção autoral consistente desde 2014 (ou antes), já entra nesses espaços com uma espécie de capital moral acumulado.
A cada texto, a cada reflexão jurídica, a cada postagem argumentativa bem construída, você investe na construção de sua autoridade moral e intelectual.
Enquanto o LinkedIn te pede certificados de cursos online de 3 horas, as redes como Facebook e Amal Date te permitem demonstrar, na prática, competência hermenêutica, habilidade argumentativa, capacidade de análise e um senso de justiça operante.
Essa produção de sentido autêntico tem um valor incalculável no mundo atual, onde a maior parte das pessoas só sabe repetir chavões corporativos.
4. Relações de Confiança como pré-contrato moral: A lógica da ordem natural
Existe aqui um princípio de ordem natural que vale a pena destacar: "A confiança precede o contrato".
É uma ordem cronológica e lógica: as pessoas só fazem negócios com quem confiam. E a confiança só nasce de uma história de interações prévias.
Ao contrário do LinkedIn, que tenta inverter essa ordem (pedindo que a pessoa "venda o peixe" antes de conhecer o freguês), as plataformas sociais abertas te permitem construir uma narrativa relacional antes de tentar qualquer proposta comercial ou profissional.
Aqui entra um conceito-chave da Filosofia do Direito: o pré-contrato moral.
Antes de qualquer contrato jurídico, existe um contrato moral implícito: um pacto de boa-fé, uma expectativa legítima de comportamento ético, uma leitura recíproca de caráter.
5. Amal Date: O inesperado laboratório de Direito Internacional Privado
Dentro dessa economia da confiança, o Amal Date tornou-se, para mim, um inesperado laboratório de Direito Internacional Privado.
Não só pela natureza multicultural da plataforma, mas porque ali a construção da confiança se dá de forma personalíssima, e muitas vezes é uma advogada local quem faz a mediação entre o mundo afetivo e o mundo profissional.
Isso cria um tipo de experiência forense sem fronteiras, onde os temas de migração, cidadania, validação de diplomas, e reconhecimento de prática jurídica internacional surgem de modo natural, na vida real, e não como um exercício teórico de sala de aula.
Ali, a diferença entre o "pessoal" e o "profissional" desaba, porque ambas as esferas se entrelaçam dentro de um único campo: o campo da vida moral concreta.
6. Conclusão: a volta à realidade humana nas relações profissionais
O que minha experiência mostra é que as redes que ainda preservam o caráter humano, informal e interativo da convivência social são hoje os verdadeiros palcos para a construção de autoridade legítima.
Quem continuar insistindo em cultivar um perfil de LinkedIn como se fosse uma ficha de produto de supermercado, continuará invisível, sem conexões reais, sem histórias vividas e, sobretudo, sem oportunidades verdadeiras.
O futuro das relações profissionais não está na inteligência artificial dos algoritmos de recrutamento, mas na inteligência moral que governa as interações humanas verdadeiras.
Aqueles que souberem construir uma narrativa de confiabilidade, com produção autoral, presença intelectual ativa, humildade moral e consistência no caráter, terão sempre o que oferecer — nos méritos de Cristo, na ordem da vida e na ordem da graça.
Bibliografia Filosófica e Jurídica Sugerida:
-
WOJTYŁA, Karol. Pessoa e Ação. São Paulo: Loyola, 1994.
-
MOUNIER, Emmanuel. O Personalismo. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1976.
-
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: UNB, 2001.
-
LEAL, Rogério Gesta. Filosofia do Direito: Fundamentos e Perspectivas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
-
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
-
SILVEIRA, Sidney. O Direito Como Virtude. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário