"Você é um custo. Primeiro, reduza desperdícios."
— Taiichi Ohno
Há frases que funcionam como um raio-x moral. Elas expõem, de imediato, quem realmente produz e quem apenas ocupa espaço. Uma dessas frases vem de Taiichi Ohno, o engenheiro japonês que criou o Sistema Toyota de Produção, berço do pensamento Lean, que revolucionou a indústria mundial¹.
Ohno nos lembra de uma verdade que todo trabalhador digno já sabe de antemão, mas que muitos preferem esquecer: todos nós somos um custo até que provemos o contrário, até que entreguemos valor real, até que reduzamos desperdícios.
Agora, pensemos no contraste gritante entre essa mentalidade e a figura do intelectual de pose, esse personagem onipresente nas universidades, nas redes sociais, nas editoras e nos salões literários.
O intelectual de pose: produto da classe ociosa
O conceito de classe ociosa, desenvolvido por Thorstein Veblen no final do século XIX, descreve com precisão cirúrgica essa figura que habita nossos meios acadêmicos e culturais². A classe ociosa vive da exibição de status, da ostentação de símbolos culturais e da simulação de importância, sem de fato produzir algo que reduza desperdícios ou gere valor concreto.
O intelectual de pose é herdeiro direto desse espírito:
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Fala difícil para esconder a falta de conteúdo.
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Publica para agradar pares institucionais, não para servir ao público ou a Deus.
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Cita autores que mal compreende, apenas para sinalizar pertencimento a uma elite cultural.
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Participa de congressos e eventos apenas para fazer parte da fotografia, nunca para resolver problemas reais.
Enquanto o trabalhador da Toyota olha para cada etapa do processo buscando onde eliminar o inútil, o intelectual de pose faz exatamente o oposto: multiplica o inútil, o rebuscado, o ineficiente, porque é disso que ele vive. Ele é, em essência, um desperdício institucionalizado.
Produzir valor ou consumir prestígio?
A pergunta que define a diferença entre um intelectual verdadeiro e um intelectual de pose é simples:
“Você está reduzindo desperdícios ou apenas consumindo prestígio?”
O intelectual verdadeiro — aquele que serve à verdade, ao bem comum e a Deus — sabe que seu trabalho é, antes de tudo, um serviço. Ele não escreve para impressionar pares, mas para transformar realidades, esclarecer mentes, curar ignorâncias, combater o erro e alargar os horizontes do entendimento humano³.
Ele é um operário da inteligência: produz com eficiência, clareza e senso de responsabilidade moral.
Kaizen da alma intelectual
O método Lean tem uma palavra-chave que deveria ser tatuada na consciência de todo aquele que ousa se apresentar como intelectual: Kaizen — melhoria contínua.
Ser intelectual de verdade é um exercício diário de autoexame, autocrítica e autossuperação. É um processo contínuo de identificação e eliminação de vaidades inúteis, de corte das redundâncias e de submissão da própria inteligência à Verdade, que é Cristo⁴.
É entender que nossos textos, nossas aulas, nossas pesquisas, nossos diálogos — tudo — só tem sentido se for serviço. Se não for serviço, é apenas mais um desperdício.
Conclusão: o exame final
Se hoje alguém se pergunta:
“Sou eu um intelectual de verdade ou apenas mais um membro da classe ociosa travestido de pensador?”
Basta olhar para a própria vida e perguntar:
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Quantos desperdícios eliminei?
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Quanto valor real gerei para as pessoas ao meu redor?
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Minhas palavras servem à verdade ou ao meu ego?
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Meu trabalho aproxima as pessoas de Deus, da justiça e da clareza, ou apenas reforça a confusão e a vaidade institucional?
A resposta está aí. Não em poses, não em selfies diante do Louvre, não em títulos vazios, mas nos frutos concretos que cada um entrega ao mundo.
Porque, no fim das contas, como dizia Taiichi Ohno:
"Você é um custo. Primeiro, reduza desperdícios."
Notas de Rodapé:
¹ Ohno, Taiichi. Toyota Production System: Beyond Large-Scale Production. Productivity Press, 1988.
² Veblen, Thorstein. A Teoria da Classe Ociosa. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
³ Gurgel, Rodrigo. Escola de Fiscais da Literatura: Ensaios sobre a Crítica Literária Brasileira. São Paulo: É Realizações, 2012.
⁴ João 14:6 — "Eu sou o caminho, a verdade e a vida."
Bibliografia:
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OHNO, Taiichi. Toyota Production System: Beyond Large-Scale Production. Productivity Press, 1988.
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VEBLEN, Thorstein. A Teoria da Classe Ociosa. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
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GURGEL, Rodrigo. Escola de Fiscais da Literatura: Ensaios sobre a Crítica Literária Brasileira. São Paulo: É Realizações, 2012.
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A Bíblia Sagrada. João 14:6.
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