Quando eu cursava Direito na Universidade Federal Fluminense, no início dos anos 2000, o Direito Internacional Privado (DIP) me parecia um campo reservado aos grandes escritórios que atendiam estrangeiros de alto poder aquisitivo no Brasil. Naquele tempo, para um jovem de classe média sem conexões internacionais, o acesso à prática do DIP era praticamente impossível. O contato com essa disciplina se dava de forma puramente teórica, por meio de aulas breves e pouco aplicadas, restritas ao currículo obrigatório da graduação.
A lógica institucional era clara: para atuar com Direito Internacional Privado, o advogado precisaria, ou trabalhar num grande escritório com clientes estrangeiros, ou ter o acaso de um cliente internacional surgir em sua porta — hipótese remota para quem começava a carreira no Brasil profundo.
A transformação estrutural: do local ao global
Duas décadas depois, o mundo jurídico — assim como o mundo social — sofreu uma verdadeira revolução. A ascensão da internet, das redes sociais e das plataformas de relacionamento internacional trouxe um fenômeno inédito: a internacionalização das relações pessoais de massa.
Se antes as interações internacionais eram exceção, hoje são quase regra. O digital encurtou as distâncias, desfez as barreiras geográficas e tornou possíveis encontros que antes eram apenas utopias românticas ou intelectuais.
No meu caso particular, foi o Amal Date, uma plataforma de relacionamentos, que me colocou diante dessa nova realidade. O que começou como uma simples curiosidade afetiva tornou-se um verdadeiro motor de internacionalização jurídica.
O perfil das advogadas interessadas: conexões inesperadas
Ao longo do tempo, percebi um padrão curioso: muitas das mulheres que se interessaram por mim na plataforma eram advogadas de profissão. Isso não foi mera coincidência. Há, de fato, um traço de afinidade intelectual e moral que aproxima pessoas com experiência no mundo jurídico.
A minha trajetória autoral, com textos publicados desde 2014 sobre temas jurídicos diversos, incluindo reflexões críticas sobre a prática forense, acaba funcionando como um cartão de visitas intelectual. Advogadas, acostumadas a lidar com argumentos e com a lógica jurídica, tendem a valorizar homens com densidade intelectual, capacidade argumentativa e visão de mundo fundamentada.
O escritório de advocacia local: uma nova escola do Direito
Diante desse cenário, começou a surgir em minha mente uma possibilidade que jamais havia considerado: estagiar em um escritório de advocacia estrangeiro.
Tal decisão tem múltiplas vantagens estratégicas:
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Vivência prática com a lei local, algo imprescindível para qualquer tentativa de revalidação de diploma ou aprovação em uma prova de ordem estrangeira.
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Aquisição do vocabulário técnico-jurídico da nova jurisdição, o que só se aprende dentro da rotina forense.
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Construção de uma rede de contatos profissionais, vital para futuras oportunidades de trabalho ou parcerias.
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Adaptação cultural e jurídica, pois o Direito não é apenas um sistema de normas, mas um modo de viver e interpretar o mundo.
Se antes eu via os escritórios de advocacia estrangeiros como espaços fechados e quase inacessíveis, hoje os vejo como portas abertas para quem tem disposição, humildade e uma sólida base jurídica preexistente.
Minha prática forense autoral: um currículo Não-Convencional
Um dos meus maiores ativos nesta jornada é o meu trabalho autoral como jurista. Desde 2014, venho publicando textos, artigos e reflexões que abordam o Direito sob múltiplas perspectivas: teórica, prática, filosófica e até teológica.
Essa produção, que já soma mais de uma década de escrita consistente, configura um tipo de prática forense intelectual, reconhecida em muitas jurisdições como atividade jurídica legítima, ainda que fora dos tribunais.
Essa experiência me dá a segurança necessária para transitar por novos ordenamentos jurídicos, pois os fundamentos da argumentação jurídica, da interpretação normativa e da hermenêutica são universais em sua essência.
A emergência do Direito Internacional Privado: da teoria à vida Concreta
O Direito Internacional Privado, que antes era apenas um capítulo distante nos livros da graduação, hoje se tornou um campo vivo e concreto da minha experiência pessoal.
Temas como:
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Conflito de leis aplicáveis em relações familiares internacionais;
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Revalidação de diplomas e reconhecimento de títulos estrangeiros;
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Migração, cidadania e direito de residência;
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Contratos internacionais;
Deixaram de ser mera teoria e passaram a fazer parte do meu cotidiano. Minha vida virou, ela própria, um caso de estudo em Direito Internacional Privado.
Considerações Finais: o jurista cosmopolita em formação
No fim das contas, o que parecia um acaso — uma interação num aplicativo de relacionamento — revelou-se uma etapa natural e até providencial da minha trajetória como jurista.
Hoje, mais do que nunca, compreendo que o verdadeiro intelectual é aquele que sabe adaptar-se aos novos tempos sem perder a fidelidade aos princípios eternos da Justiça. A internacionalização da minha carreira jurídica não foi uma escolha planejada; foi uma resposta responsável a um chamado que o próprio curso da vida, nos méritos de Cristo, colocou diante de mim.
Se antes o Direito Internacional Privado era um campo para poucos privilegiados, hoje ele é, para mim, uma missão viva e concreta, que une vocação intelectual, coragem pessoal e abertura à providência.
Referências Bibliográficas e Inspiracionais:
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AMARAL JÚNIOR, José Luiz. Direito Internacional Privado: Teoria Geral e Prática Brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
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NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
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ROUSSEAU, Dominique. Le droit international privé: Essai sur les fondements. Paris: PUF, 1996.
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SILVEIRA, Sidney. O Direito Como Virtude. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.
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GURGEL, Rodrigo. A Arte de Ler. São Paulo: É Realizações, 2013.
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