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domingo, 15 de junho de 2025

A cozinha e a costura: virtudes femininas a serviço do lar cristão

No tempo das nossas avós, não havia dúvidas sobre o que se esperava de uma mulher que desejasse edificar um lar sólido, cheio de amor e da presença de Deus. Duas habilidades, entre tantas outras, eram consideradas indispensáveis: cozinhar e costurar. Hoje, no entanto, enquanto o mundo moderno tenta empurrar a mulher para longe dessas realidades concretas, convém recuperar o sentido profundo dessas tarefas à luz do Evangelho e da Tradição da Igreja.

O ato de cozinhar: um serviço de amor encarnado

Cozinhar não é simplesmente preparar alimentos. É um ato de amor encarnado, um serviço que lembra, de maneira discreta e diária, que o outro tem um corpo que precisa ser nutrido com carinho, cuidado e dedicação.

Quando uma esposa cozinha para o marido e os filhos, ela realiza um ato que participa do próprio mistério da providência divina. Assim como Deus dá o pão de cada dia, ela o distribui, com as próprias mãos, aos que lhe foram confiados. Ela multiplica, como pode, os talentos, os alimentos, o tempo e a energia, para que nada falte aos que ama.

O próprio Cristo, após Sua ressurreição, preparou uma refeição para os discípulos, chamando-os à partilha e à comunhão:

"Ao saltarem em terra, viram ali brasas com peixe em cima e pão" (João 21,9).

Quem olha com olhos espirituais vê o gesto de Cristo ao partir o pão. Quem tem fé reconhece que o fogão é um pequeno altar onde o sacrifício cotidiano da mulher cristã é oferecido em favor dos seus.

Uma mulher que despreza essa tarefa, que a vê como "opressiva", "retrógrada" ou "inferior", na verdade revela algo mais grave: uma incapacidade de reconhecer o Cristo no marido, nos filhos e na vida doméstica¹.

O problema não é apenas a ausência de técnica culinária: é uma cegueira espiritual, uma falta de amor concreto.

A costura: símbolo de prudência, economia e zelo

Se cozinhar é alimentar os corpos com amor, costurar era, historicamente, o modo de preservar o que foi confiado ao cuidado da mulher: as roupas, os enxovais, os tecidos que cobrem o corpo e embelezam o lar.

Costurar exigia paciência, precisão, economia e um senso agudo de responsabilidade com os bens da casa. Não desperdiçar, saber consertar, criar algo novo a partir do velho — tudo isso fazia parte da pedagogia doméstica, tão bem descrita por Chesterton, quando afirmava que as pequenas virtudes femininas eram os verdadeiros pilares da civilização².

Mesmo que hoje a indústria têxtil tenha tornado a costura menos necessária, as virtudes por trás dessa prática continuam válidas: criatividade, zelo pelos recursos da casa e espírito de remendo, não apenas de tecidos, mas também de situações da vida.

Uma mulher que tem a mentalidade de quem sabe "costurar" é aquela que sabe encontrar soluções, que cuida do que tem, que transforma dificuldades em novas oportunidades.

O perigo da mulher moderna: saberes supérfluos, ignorância essencial

Vivemos hoje a era da mulher que sabe tudo… menos o essencial. Ela tem diplomas, faz cursos de liderança, domina softwares corporativos, mas não sabe fazer um feijão com arroz, não sabe criar um lar acolhedor, não sabe acolher o marido ao fim do dia, nem educar os filhos com firmeza e doçura.

Como afirma Leão XIII na encíclica Rerum Novarum, "o trabalho no lar, que a mulher executa com tanta dedicação e paciência, é nobre e insubstituível"³. A cultura moderna, ao desprezar isso, forma mulheres “empoderadas”… mas espiritualmente empobrecidas.

O resultado é um número crescente de lares desfeitos, crianças carentes de afeto verdadeiro e maridos desiludidos, que muitas vezes se recolhem em silêncio ou buscam compensações fora de casa.

O lar cristão: um pequeno mosteiro de amor e sacrifício

Edificar o lar é mais do que manter paredes de pé. É construir uma comunidade de amor e serviço, onde cada refeição, cada roupa lavada, cada canto arrumado seja uma expressão concreta da caridade.

Santa Teresa de Lisieux ensinava que não são os grandes feitos que santificam a alma, mas a fidelidade nas pequenas coisas feitas por amor⁴. A mulher que entende isso sabe que não existe separação entre o espiritual e o material. O Cristo está presente na cozinha, na sala, no quarto, nas pequenas rotinas. Cada colher de sopa oferecida com amor é uma pequena liturgia doméstica.

E se hoje a costura não for mais uma necessidade diária, o espírito de prudência que ela representa continua sendo essencial: saber administrar, remendar, cuidar.

Conclusão: o teste espiritual da cozinha

Se eu pudesse resumir tudo numa frase simples, diria o seguinte:
Uma mulher que não sabe cozinhar, que não quer aprender ou que despreza essa tarefa, revela que ainda não aprendeu a ver o Cristo no marido e nos filhos.

E essa cegueira espiritual é um obstáculo grave para a edificação de qualquer lar cristão.

Que as mulheres de hoje, especialmente as jovens, redescubram a beleza de servir com alegria, de transformar a casa num pequeno mosteiro de amor, e de fazer da cozinha o altar cotidiano onde a caridade se torna pão.

Notas de Rodapé:

  1. Cf. KREEFT, Peter. Back to Virtue: Traditional Moral Wisdom for Modern Moral Confusion. San Francisco: Ignatius Press, 1992.

  2. Cf. CHESTERTON, G. K. What's Wrong with the World. San Francisco: Ignatius Press, 2007.

  3. LEÃO XIII. Rerum Novarum, 1891. Disponível em: https://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html. Acesso em: 15 jun. 2025.

  4. Cf. SANTA TERESA DE LISIEUX. História de uma Alma. São Paulo: Paulus, 1997.

Referências Bibliográficas:

CHESTERTON, G. K. What's Wrong with the World. San Francisco: Ignatius Press, 2007.

KREEFT, Peter. Back to Virtue: Traditional Moral Wisdom for Modern Moral Confusion. San Francisco: Ignatius Press, 1992.

LEÃO XIII. Rerum Novarum. 1891. Disponível em: https://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html. Acesso em: 15 jun. 2025.

SANTA TERESA DE LISIEUX. História de uma Alma. São Paulo: Paulus, 1997.

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