Pesquisar este blog

sábado, 28 de junho de 2025

Andrew Jackson: Pai do Partido Democrata e Arquiteto da Remoção Indígena nos EUA

Resumo

Este artigo analisa a figura de Andrew Jackson, sétimo presidente dos Estados Unidos, destacando sua atuação na fundação do Partido Democrata e sua responsabilidade direta na política de remoção forçada dos povos indígenas durante a década de 1830. O estudo revela as contradições do populismo jacksoniano, que promoveu a ampliação da democracia para parte da população ao mesmo tempo em que institucionalizou práticas violentas de expropriação e exclusão dos povos originários.

Palavras-chave: Andrew Jackson; Democracia Jacksoniana; Partido Democrata; Remoção Indígena; História dos EUA.

1. Introdução

Andrew Jackson (1767–1845) ocupa posição central na história política dos Estados Unidos. General vitorioso na Guerra de 1812 e figura popular entre os eleitores das regiões rurais e fronteiriças, sua presidência (1829–1837) marcou a transição para uma nova era democrática, na qual o “homem comum” branco passou a ocupar espaço no jogo político formal. Contudo, sua política em relação aos povos indígenas revela um lado obscuro desse avanço democrático, alicerçado na exclusão étnica e na violência institucionalizada.

2. A Fundação do Partido Democrata

A eleição de Jackson em 1828 resultou da articulação de uma nova base política, crítica à elite do leste industrializado. Esta base formaria o núcleo do que viria a ser o Partido Democrata, um dos partidos mais antigos em funcionamento contínuo no mundo. Conforme aponta Remini (1998), “Jackson organizou a primeira máquina eleitoral de massa do país, baseada em clubes, jornais e patronagem política”¹.

Sua ideologia, posteriormente chamada de Democracia Jacksoniana, defendia uma maior participação política dos cidadãos comuns (desde que brancos e do sexo masculino), um governo descentralizado, e forte oposição aos bancos e ao poder federal excessivo.

3. A Lei de Remoção dos Índios e O Projeto Expansionista

A contradição central do governo Jackson se expressa de maneira mais aguda na Indian Removal Act, sancionada em 1830. Esta lei autorizava o presidente a negociar a transferência de povos indígenas residentes no sudeste para terras além do rio Mississippi, sob o pretexto de preservar sua existência e integridade cultural. No entanto, como observa Zinn (2003), “o real objetivo era abrir espaço para o cultivo do algodão e o lucro dos colonos brancos”².

Mesmo após o Supremo Tribunal decidir a favor dos direitos indígenas no caso Worcester v. Georgia (1832), Jackson ignorou a decisão. É atribuída a ele a frase: “John Marshall deu sua decisão. Agora que ele a faça cumprir”³. Embora não se tenha registro escrito da declaração, ela sintetiza bem sua postura de confronto com o Judiciário.

4. A Trilha das Lágrimas e As Consequências Humanitárias

A implementação da lei culminou na Trilha das Lágrimas (Trail of Tears), que entre 1838 e 1839 resultou na remoção forçada de cerca de 16 mil cherokees de suas terras na Geórgia para o território indígena no oeste. Estima-se que mais de 4 mil tenham morrido no trajeto devido a fome, doenças e exaustão⁴.

Outros povos também foram removidos, como os choctaw, creek e seminole, totalizando cerca de 60 mil pessoas deslocadas. O impacto dessa política ainda é sentido nos traumas históricos e nas perdas culturais sofridas pelos povos nativos.

5. Herança e Controvérsia

Jackson é lembrado tanto como um reformador democrático quanto como símbolo do colonialismo interno. A figura que fundou o Partido Democrata é a mesma que patrocinou uma das maiores tragédias étnicas da história dos EUA. Para Foner (2014), “o legado de Jackson está profundamente enraizado no paradoxo americano: liberdade para alguns, repressão para outros”⁵.

Seu rosto estampou a nota de 20 dólares por mais de um século, mas sua imagem passou a ser alvo de críticas crescentes no século XXI, com campanhas que propõem substituí-lo por figuras como Harriet Tubman, símbolo da resistência antiescravista.

6. Conclusão

A trajetória de Andrew Jackson revela as tensões internas do projeto democrático norte-americano, onde o avanço político dos brancos foi construído sobre a marginalização sistemática de povos inteiros. A fundação do Partido Democrata e a política de remoção indígena, longe de serem elementos contraditórios, refletem o modo como a democracia moderna foi muitas vezes constituída através da exclusão e do domínio violento. 

Notas de Rodapé

  1. REMINI, Robert V. Andrew Jackson and the Course of American Democracy, 1833–1845. New York: Harper & Row, 1998. p. 45.

  2. ZINN, Howard. A People's History of the United States. New York: Harper Perennial, 2003. p. 131.

  3. Ver: WILENTZ, Sean. The Rise of American Democracy: Jefferson to Lincoln. New York: Norton, 2005. p. 355.

  4. PERDUE, Theda; GREEN, Michael D. The Cherokee Nation and the Trail of Tears. New York: Viking, 2007. p. 83.

  5. FONER, Eric. Give Me Liberty!: An American History. 4. ed. New York: W.W. Norton & Company, 2014. p. 365. 

Referências Bibliográficas 

FONER, Eric. Give Me Liberty!: An American History. 4. ed. New York: W.W. Norton & Company, 2014.

PERDUE, Theda; GREEN, Michael D. The Cherokee Nation and the Trail of Tears. New York: Viking, 2007.

REMINI, Robert V. Andrew Jackson and the Course of American Democracy, 1833–1845. New York: Harper & Row, 1998.

WILENTZ, Sean. The Rise of American Democracy: Jefferson to Lincoln. New York: Norton, 2005.

ZINN, Howard. A People’s History of the United States. New York: Harper Perennial, 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário