Resumo:
O presente artigo tem caráter autobiográfico e versa sobre uma decisão de consumo aparentemente banal — a compra de uma expansão do jogo The Sims 4 — inserida num contexto de alta complexidade econômica e geopolítica. Argumenta-se que, ao antecipar a compra de Enchanted by Nature, feita em pré-venda e parcelada em 12 vezes, tomou-se uma posição estratégica diante da deterioração fiscal do governo brasileiro, da iminente reunião do COPOM em junho de 2025, e da eclosão do conflito entre Israel e Irã. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre consumo consciente, administração patrimonial e sensibilidade diante dos sinais do tempo.
Palavras-chave:
Inflação; Selic; Consumo Consciente; Geopolítica; Administração Patrimonial.
1. Introdução
A experiência de administrar o próprio dinheiro, em meio a um cenário de crise, revela muito sobre a relação entre o indivíduo e os grandes movimentos históricos. O que poderia ser apenas mais uma aquisição de lazer — a compra de uma expansão do jogo The Sims 4 — tornou-se para mim um exemplo emblemático de como se pode, com um mínimo de sensibilidade econômica e responsabilidade pessoal, transformar uma decisão de consumo em um ato de prudência.
2. O Jogo e as circunstâncias da compra
Em junho de 2025, optei por comprar na pré-venda a expansão Enchanted by Nature do The Sims 4. O valor total era de R$ 211,67, com a possibilidade de parcelamento em 12 vezes de R$ 17,64 no cartão de crédito. A compra foi realizada antes da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), agendada para os dias 17 e 18 do mesmo mês.
A decisão foi tomada à luz de três fatores: (1) a persistência de gastos descontrolados por parte do governo federal; (2) a eclosão de um conflito armado entre Israel e Irã, com repercussões diretas no mercado de petróleo e no câmbio; e (3) a expectativa de reversão na trajetória de queda da taxa Selic, que vinha sendo reduzida desde meados de 2023.
3. A tempestade econômica
Ao observar o cenário fiscal, percebia-se que o governo insistia em políticas expansionistas, ignorando o teto de gastos e promovendo desonerações sem ancoragem orçamentária. Isso fazia com que o mercado precificasse um aumento de risco, resultando em desvalorização cambial e pressão sobre a inflação¹.
A crise no Oriente Médio adicionava um ingrediente inflamável: o aumento do preço internacional do petróleo. Como o Brasil importa parte dos seus combustíveis e depende do dólar para precificar boa parte do comércio exterior, tal cenário acirrava as expectativas inflacionárias².
Diante disso, a atuação do Banco Central teria de ser mais firme, o que poderia implicar uma interrupção ou até reversão dos cortes da taxa básica de juros — a Selic³. Com a Selic mais alta, o crédito tende a encarecer e o consumo, a retrair. Preços de bens não essenciais, como jogos, também se ajustam a esse novo contexto.
4. O valor do parcelamento antecipado
A compra da expansão, feita em pré-venda, foi um ato de antecipação de consumo diante da expectativa de desvalorização monetária. Ao fixar um valor em 12 parcelas iguais, garanti não apenas o preço nominal atual, como também evitei estar sujeito à inflação futura ou à correção do preço em função do câmbio.
O parcelamento, nesse caso, agiu como uma espécie de "hedge" pessoal contra a elevação dos juros e da inflação. Ainda que o bem adquirido seja digital, sua precificação responde ao mercado internacional, tornando-o sensível às variações cambiais e aos humores da geopolítica.
5. Considerações Finais
Em tempos de instabilidade, pequenas decisões podem ter grandes significados. Ao antecipar o consumo de um bem supérfluo, agi com a racionalidade que aprendi a cultivar desde os tempos da hiperinflação brasileira. Saber ler os sinais do tempo, calcular o risco e manter o controle do próprio orçamento são práticas que, mais do que proteger, educam e dignificam.
Esse episódio me ensinou, mais uma vez, que a administração econômica do lar é o primeiro campo de batalha para quem deseja ser livre. Que venha a tempestade: eu já joguei meu dado.
Notas de Rodapé
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TESOURO NACIONAL. Boletim de Avaliação de Receitas e Despesas. Brasília: Ministério da Fazenda, 2025.
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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Relatório de Conjuntura Econômica - Maio de 2025. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2025.
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BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Inflação - 1º trimestre de 2025. Brasília: BCB, 2025.
Referências Bibliográficas
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Inflação. Brasília: BCB, 2025. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: 12 jun. 2025.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Boletim Macro IBRE. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2025. Disponível em: https://portalibre.fgv.br. Acesso em: 12 jun. 2025.
TESOURO NACIONAL. Boletim de Avaliação de Receitas e Despesas. Brasília: Ministério da Fazenda, 2025. Disponível em: https://www.tesourotransparente.gov.br. Acesso em: 12 jun. 2025.
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