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sábado, 7 de junho de 2025

Petkovic: o pioneiro estrangeiro que se tornou estrela no futebol brasileiro

No futebol brasileiro, país onde o talento local é abundante e a idolatria costuma ser reservada a filhos da terra, tornar-se uma estrela sendo estrangeiro é uma façanha rara. No entanto, Dejan Petkovic, sérvio de Belgrado, escreveu seu nome na história do esporte nacional como poucos conseguiram — não apenas como jogador habilidoso, mas como um pioneiro que abriu caminho para outros atletas de fora ganharem respeito e protagonismo nos gramados brasileiros.

Uma adaptação improvável

Petkovic desembarcou no Brasil em 1997 para jogar no Vitória, da Bahia, em um movimento que, à época, soava estranho. Jogadores estrangeiros raramente tinham destaque por aqui. Em geral, viam-se alguns argentinos, uruguaios ou paraguaios ocupando posições táticas ou de força, raramente o papel de protagonista técnico. Pet, como logo foi apelidado, não se encaixava nesse molde: era um meia clássico, cerebral, de passes precisos e cobranças de falta milimétricas. E sobretudo, era um europeu eslavo, o que tornava sua presença ainda mais inusitada.

Mas o improvável aconteceu: ele se adaptou com rapidez, conquistou a torcida do Vitória e, mais tarde, passou por grandes clubes do país como Flamengo, Vasco, Fluminense e Atlético-MG. Em todos deixou sua marca, mas foi com a camisa rubro-negra que seu nome se eternizou.

Ídolo no Flamengo

A trajetória de Petkovic no Flamengo é a mais lembrada, principalmente por conta do título do Campeonato Carioca de 2001. Na final contra o Vasco, ele marcou um dos gols mais emblemáticos da história do clube: uma cobrança de falta no ângulo aos 43 minutos do segundo tempo, que selou o tricampeonato estadual. A imagem dele correndo com os braços abertos, ao lado de um Maracanã em êxtase, sintetiza o quanto ele se tornou não apenas aceito, mas idolatrado.

Ser estrangeiro e ídolo em um dos maiores clubes do Brasil não é comum. O futebol brasileiro sempre teve certa desconfiança do “gringo”. O sucesso de Petkovic rompeu essa barreira cultural, mostrando que talento, dedicação e identificação com a camisa podem superar qualquer diferença de origem.

Mais que um craque, um desbravador

Petkovic não apenas foi destaque técnico dentro de campo; ele também abriu as portas simbólicas para que outros estrangeiros fossem vistos com outros olhos. Após sua consolidação, o futebol brasileiro passou a ser mais receptivo a jogadores de fora que quisessem ser mais do que coadjuvantes.

Atletas como Arrascaeta, Guerrero, Conca, Seedorf e até alguns menos badalados, mas muito respeitados, devem parte da receptividade que encontraram ao caminho que Pet traçou. Ele provou que um estrangeiro pode não apenas jogar bem aqui — pode ser protagonista, ídolo e até símbolo de uma geração.

O legado

Hoje, ao olhar para a presença cada vez maior de estrangeiros em clubes brasileiros, não é exagero dizer que Petkovic foi um desbravador. Ele foi contra a corrente, rompeu a desconfiança natural de um futebol autocentrado e conquistou, com a bola nos pés e o coração na camisa, o amor de uma torcida que sempre exigiu muito de seus ídolos.

O que Petkovic representa vai além de seus dribles e gols: ele representa a quebra de uma barreira cultural e a prova de que o futebol pode ser uma linguagem universal — onde o talento, quando sincero, é sempre compreendido.

Jorge Jesus e Abel Ferreira: técnicos que herdaram o caminho aberto

Quase duas décadas depois da consagração de Petkovic, o Flamengo apostou em outro estrangeiro para um papel ainda mais simbólico: o de comandante. Jorge Jesus, técnico português, desembarcou no Brasil em 2019 cercado por desconfiança. Mas, com um trabalho ofensivo, disciplinado e vencedor, conquistou a tríplice coroa (Libertadores, Brasileirão e Carioca) e uma torcida apaixonada.

O sucesso foi tão retumbante que abriu espaço para outro português, desta vez no arquirrival Palmeiras: Abel Ferreira. Com estilo diferente, mais pragmático e estratégico, Abel também deixou sua marca, levando o clube a títulos consecutivos da Libertadores e consolidando-se como um dos técnicos mais respeitados do país.

Ambos, cada um à sua maneira, continuaram a revolução silenciosa iniciada por Petkovic: a inserção legítima de estrangeiros nos papéis mais importantes do futebol brasileiro — como protagonistas, não como coadjuvantes.

De ídolo a símbolo

Petkovic foi o primeiro a provar que talento e dedicação podem vencer a barreira do idioma, da origem e até da tradição. Jorge Jesus e Abel Ferreira provaram que essa abertura não era um acaso — era o início de um novo tempo.

Hoje, o futebol brasileiro se vê cada vez mais receptivo a ideias, estilos e talentos de fora. E se essa porta está aberta, é porque um dia um sérvio, de cabelos compridos e chuteiras afiadas, teve a ousadia de forçá-la — com respeito, com amor ao jogo e com muita, muita bola no pé.

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