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sábado, 7 de junho de 2025

A ilusão do autoconhecimento sem verdade: uma resposta cristã à pergunta sobre os defeitos

Em entrevistas de emprego, rodas de conversa ou até em momentos de confissão informal, frequentemente nos perguntam: “Quais são os seus defeitos?” Essa pergunta, à primeira vista inocente, carrega consigo uma premissa muitas vezes não examinada: a de que o autoconhecimento, especialmente no que se refere às próprias falhas, é um bem absoluto e indispensável para qualquer progresso humano.

A resposta que ofereço a essa pergunta, porém, não segue o roteiro comum. Eu costumo dizer: “Por que tenho necessidade de saber dos meus defeitos?” Essa pergunta não é uma fuga — é um convite à reflexão mais profunda. Pois quem vive obcecado em conhecer seus defeitos, muitas vezes o faz não por amor à verdade, mas por um desejo de controle. E esse desejo pode levar àquilo que a psicologia, ironicamente, chama de neurose.

A obsessão pelo diagnóstico de si mesmo — que parece zelo ou maturidade — frequentemente encobre um senso de se conservar o que é conveniente, ainda que dissociado da verdade. Muitos acabam protegendo seus “defeitos” como se fossem parte inegociável de sua identidade, justificando-os sob o pretexto da autenticidade ou da autoaceitação. Mas esse tipo de autoconhecimento, dissociado da verdade, não gera conversão, e sim estagnação.

O verdadeiro conhecimento de si mesmo não pode nascer do espelho do mundo, mas do espelho de Deus. Portanto, quem deve se preocupar com os meus defeitos são aqueles que me criaram — meus pais, meus mestres — ou aqueles nos quais devo ver a figura de Deus: as autoridades legítimas a quem devo obediência no amor. E essa obediência não é servil, mas amorosa, pois visa que eu me torne uma pessoa melhor nos méritos de Cristo, e não segundo os critérios do mundo.

É Cristo, e somente Ele, quem conhece verdadeiramente o coração humano. É à Sua luz que os defeitos aparecem como oportunidades de humildade, e não como falhas a serem corrigidas para uma performance social mais eficaz. O exame de consciência cristão não é uma autópsia da alma, mas uma abertura ao Espírito Santo, que mostra o pecado como ofensa ao amor e, por isso, como porta de entrada para a misericórdia.

Dizer que não tenho “necessidade” de saber dos meus defeitos não é orgulho. É reconhecer que a necessidade primária é amar a Deus acima de todas as coisas e, a partir desse amor, amar o próximo. Quando isso se torna prioridade, os defeitos vão se revelando no tempo oportuno — com clareza, mas também com doçura — por meio dos sacramentos, da correção fraterna e da oração. Aí, sim, surge o verdadeiro autoconhecimento: aquele que liberta, porque está fundado na Verdade que é Cristo.

No fim das contas, a pergunta sobre os defeitos é legítima — mas sua resposta exige sabedoria. Pois não basta dizer o que está errado em nós. É preciso perguntar: “Quem me mostra isso? Em nome de quem? Com qual finalidade?” Se a resposta não for: “para que eu me torne mais semelhante a Cristo”, então todo esforço de autoconhecimento se tornará um labirinto sem saída.

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