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segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Messianismo Profano: A Usurpação do Lugar de Deus no Discurso Político

Introdução: O Ressurgimento dos Falsos Messias na Política Moderna

Em todos os tempos da história humana, quando as nações se afastaram de Deus, surgiram falsos messias — homens que, por soberba e delírio, se colocaram no lugar de Deus, arrogando para si a tarefa de salvar a humanidade. A idolatria do poder, do dinheiro e do próprio homem sempre produziu líderes que, longe de servir, desejam ser servidos, exaltados e adorados.

Este fenômeno, que pode ser denominado messianismo profano, manifesta-se de forma especialmente clara quando líderes políticos passam a utilizar uma linguagem religiosa para justificar seus atos e suas ambições, invertendo a ordem divina ao apresentar-se como agentes de redenção, de salvação ou de "milagres".

É nesse contexto que analisaremos, à luz da teologia, da filosofia e da história, as declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, ao comentar as obras da transposição do Rio São Francisco, disse explicitamente que Deus criou a seca para que ele viesse resolvê-la.

1. A Fala de Lula: A Proclamação do Messias Social

A transcrição direta do discurso de Lula é reveladora:

"Esse é um milagre que aconteceu com um cara que viveu a seca. Com sete anos de idade, saí de Caetés para São Paulo com a mãe e oito filhos num pau de arara para não morrer de fome e não morrer de sede. E esse nordestino, que saiu daqui para não morrer de sede, volta 150 anos depois e faz a transposição do São Francisco para trazer água para o povo brasileiro. Deus criou a seca, para que eu viesse resolvê-la."
(Discurso na inauguração das obras da transposição, 2024, Pernambuco)

Aqui se percebe claramente a construção de uma narrativa messiânica, em que Lula se coloca como o agente escolhido, aquele que supera até o próprio Deus. Na prática, ele sugere que Deus criou um problema, mas que ele, Lula, com sua ação política, resolve aquilo que nem Deus teria resolvido.

Essa inversão da ordem ontológica entre Criador e criatura é profundamente blasfema e representa uma clara manifestação daquilo que a tradição cristã denomina como superbia diabólica, a soberba luciferiana que levou Lúcifer a dizer: "Non serviam""Não servirei." (Jeremias 2, 20)

2. Referências Teológicas: A Tentação da Serpente

a) A raiz da soberba: "Sereis como deuses" (Gn 3,5)

No Gênesis, a serpente diz a Eva:

"Sabe Deus que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." (Gênesis 3,5)

Essa é a essência de toda a tentação luciferiana: a promessa de autonomia absoluta, de divinização sem Deus. Ao declarar que "Deus criou a seca para que ele viesse resolvê-la", Lula se insere exatamente nesta lógica demoníaca, sugerindo que a providência divina é insuficiente, injusta ou cruel, e que cabe ao homem — no caso, ele próprio — corrigir os erros de Deus.

b) Cristo, o verdadeiro Messias: humildade e oblação

Ao contrário da soberba humana, Cristo não se apresenta como um solucionador de problemas terrenos, mas como aquele que redime a humanidade do pecado. Nas palavras de São Paulo:

"Sendo de condição divina, não se valeu de sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens."
(Filipenses 2,6-7)

Cristo desce, se humilha, se entrega. O falso messias, ao contrário, se exalta, se glorifica e exige adoração.

3. Referências Filosóficas: O Homem que se Faz Deus

a) A Crítica de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino ao Orgulho

Santo Agostinho, em A Cidade de Deus, afirma que o orgulho é a raiz de todo pecado. É pelo orgulho que os homens constroem a "Cidade dos Homens", em oposição à "Cidade de Deus", buscando sua própria glória e não a de Deus.

Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, analisa o pecado dos anjos caídos e explica que a soberba é o pecado que leva a criatura a querer ser como Deus, sem Deus.

b) Nietzsche e o Super-Homem: A morte de Deus e o culto do homem

No século XIX, Nietzsche proclama a "morte de Deus" e anuncia o advento do Übermensch — o super-homem — que criará seus próprios valores, sem qualquer referência a Deus. Esta é, filosoficamente, a mesma estrutura do discurso de Lula: se Deus não resolveu, se Deus criou o problema (a seca), então cabe ao super-homem — o político — resolver.

Aqui, o político não é mais servidor da ordem criada, mas o novo criador de uma ordem artificial, onde o Estado ocupa o lugar de Deus.

4. Referências Históricas: O Messianismo Político e Suas Tragédias

a) Revolução Francesa: A Entronização da Deusa Razão

Em 1793, na Catedral de Notre-Dame, os revolucionários franceses depuseram a cruz e colocaram no altar uma mulher representando a "Deusa Razão". Isso simbolizou o culto do homem, da técnica, da política, em substituição ao culto de Deus.

O resultado foi o Terror, com guilhotinas nas praças e a perseguição dos cristãos.

b) O Marxismo e o Socialismo Científico: Salvação Sem Deus

O socialismo marxista é, estruturalmente, um messianismo profano. Substitui Deus pela História, a Providência pela Luta de Classes e a Redenção pelo paraíso terrestre do comunismo.

A consequência foram mais de 100 milhões de mortos no século XX, vítimas do delírio dos homens que queriam redimir o mundo sem Deus.

c) O Populismo Latino-Americano: A Personificação do Estado

No século XX, líderes como Perón na Argentina, Chávez na Venezuela, e agora Lula no Brasil, transformaram a figura do político em uma entidade quase sagrada, à qual se deve amor, devoção e gratidão. Isso não é política, é idolatria estatal.

5. O Juízo da Tradição Cristã: O Político que Quer Ser Deus

A Doutrina Cristã é claríssima:

  • "Não terás outros deuses diante de mim." (Êxodo 20,3)

  • "Maldito o homem que confia no homem e faz da carne mortal o seu braço." (Jeremias 17,5)

  • "Se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo, ou ei-lo ali, não acrediteis. Surgirão falsos cristos e falsos profetas." (Mateus 24,23-24)

O político que se apresenta como redentor não é só um impostor; é um sinal dos tempos, um precursor da apostasia final.

Conclusão: Só Cristo Salva

Nenhuma política, nenhuma ideologia, nenhuma obra humana pode resolver o problema fundamental da humanidade: o pecado. A seca, a fome e a miséria são consequências da desordem do mundo ferido pelo pecado original, não caprichos de Deus.

A verdadeira solução não vem dos palácios, dos tribunais nem dos parlamentos. Vem do Calvário. Vem do Cristo crucificado, morto e ressuscitado. É Ele, e somente Ele, que pode dizer:

"No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo." (João 16,33)

Portanto, quando um homem ousa dizer que Deus criou a seca para que ele a resolvesse, não é apenas arrogância política. É, teologicamente falando, uma blasfêmia, uma tentativa de sentar-se no trono de Deus.

Que os cristãos estejam vigilantes. Pois os tempos são maus, e os falsos messias já caminham entre nós.

Bibliografia

📖 Fontes Teológicas e Bíblicas

  • A Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB, Editora Paulus, 2001.

  • Santo Agostinho. A Cidade de Deus. Editora Vozes, 2012.

  • Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica. Edição bilíngue, Loyola, vários volumes.

  • Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana, 1997.

  • Bento XVI (Joseph Ratzinger). Introdução ao Cristianismo. Ed. Planeta, 2007.

  • Bento XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré. Ed. Planeta, 2007-2012 (trilogia).

  • Concílio Vaticano II. Gaudium et Spes (1965) e Lumen Gentium (1964).

📚 Fontes Filosóficas

  • Friedrich Nietzsche. Assim Falou Zaratustra. Companhia das Letras, 2011.

  • Friedrich Nietzsche. A Gaia Ciência. Companhia das Letras, 2012.

  • Eric Voegelin. A Nova Ciência da Política. Editora Universidade de Brasília, 1982.

  • Eric Voegelin. As Religiões Políticas. É Realizações, 2012.

  • Russell Kirk. A Política da Prudência. É Realizações, 2013.

  • Roger Scruton. As Vantagens do Pessimismo. É Realizações, 2011.

  • José Ortega y Gasset. A Rebelião das Massas. Martins Fontes, 2000.

📜 Fontes Históricas

  • François Furet. A Revolução Francesa. Ed. Martins Fontes, 1989.

  • Simon Schama. Cidadãos: Uma Crônica da Revolução Francesa. Companhia das Letras, 1989.

  • Stéphane Courtois (org.). O Livro Negro do Comunismo. Bertrand Brasil, 1999.

  • Ernesto Laclau. A Razão Populista. Três Estrelas, 2013.

  • Hannah Arendt. Origens do Totalitarismo. Companhia das Letras, 1989.

  • Plínio Corrêa de Oliveira. Revolução e Contra-Revolução. Editora Vera Cruz, 1959.

  • Olavo de Carvalho. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015.

  • Olavo de Carvalho. O Imbecil Coletivo. Record, 1996.

🗒️ Documentos e Declarações

  • Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva. Inauguração das Obras da Transposição do Rio São Francisco, Pernambuco, 2024. (Disponível em mídias digitais e registros públicos de imprensa brasileira).

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