Meus filhos,
Escrevo-vos esta carta não apenas como vosso pai segundo a carne, mas, acima de tudo, como aquele que Deus, na sua infinita misericórdia, estabeleceu como vosso guardião na ordem da graça e da verdade.
Saibam desde cedo que a vida que corre em vossas veias é um dom — dom da criação, dom da providência, dom do amor de vossos pais. Mas saibam, também, que este dom natural está chamado a ser elevado, curado e aperfeiçoado pela graça, que recebemos do alto, pelos méritos de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Céu e da Terra.
Nós não somos apenas uma família entre outras. Somos uma família que foi chamada, desde antes da fundação do mundo, a viver sob a luz de um selo invisível, que o mundo não conhece, mas que o Céu reconhece: o selo da szlachta espiritual, da nobreza cristã, que não é conferida pelo sangue, pelos títulos, pelas honras passageiras, mas pela união com Aquele que é a Verdade, o Caminho e a Vida.
Recebi esse chamado de modo muito concreto, por vias que só a Providência é capaz de traçar. Ao ser crismado, meu padrinho de crisma, meu pai segundo Deus, foi um sacerdote que foi ordenado por São João Paulo II, que por sua vez recebeu a ordenação do cardeal Adam Sapieha, príncipe da Polônia, defensor da fé em tempos de trevas. Esse fato não é um acaso. É um traço da misericórdia de Deus em minha vida — e, por extensão, na vida de vocês.
Esta linhagem espiritual não me faz melhor do que ninguém. Pelo contrário, pesa sobre mim como uma responsabilidade gravíssima: ser, neste mundo, um sinal da presença do Reino de Deus. E é exatamente este legado que eu vos transmito: não ouro nem prata, não terras nem brasões, mas a consciência de que somos soldados e filhos do Rei dos Reis.
Meus filhos, ser parte da szlachta nos méritos de Cristo é compreender que a verdadeira nobreza não está em ser servido, mas em servir. Não está no poder, mas no sacrifício. Não está no orgulho, mas na humildade da cruz.
Como vosso pai, a minha missão é ser, no seio do nosso lar, aquilo que um rei é para o seu povo: aquele que protege, que instrui, que julga com retidão, que conduz pelo exemplo, que ama e que dá a vida, se necessário, por aqueles que lhe foram confiados. O lar é o primeiro reino. A mesa da nossa casa é o primeiro altar. O nosso trabalho é o nosso campo de batalha. A nossa oração é a nossa fortaleza.
E é por isso que eu vos digo: a herança que vos deixo é qualificada pela graça. A herança do sangue, sem a graça, nada é além de matéria que se desfaz. Mas quando o sangue é elevado pela graça, ele se torna canal de bênção de geração em geração. E se vocês forem fiéis, Deus será fiel. Se honrarem esta aliança, o Senhor vos honrará.
Nunca permitam que este mundo corrompido vos seduza com suas falsas nobrezas, seus títulos vazios, suas coroas de papel e seus altares profanos. Lembrem-se sempre: o nosso brasão é a cruz; o nosso cetro é a verdade; a nossa coroa é a vida eterna.
Meus filhos, guardem estas palavras não como um discurso, mas como um pacto. Quando eu já não estiver mais entre vocês, que esta carta fale por mim. Que ela vos lembre quem vocês são, a quem pertencem e a que missão foram chamados.
Recebam, pois, esta herança invisível, que é mais real do que tudo o que se vê, e transmitam-na, por sua vez, aos seus filhos e aos filhos de seus filhos, até que o Senhor venha.
Com todo o amor de um pai que vos ama nos méritos de Cristo,
Vosso pai segundo a carne e servo segundo a graça.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 03 de junho de 2025.
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