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segunda-feira, 9 de junho de 2025

Carry Trade e A Reconversão do Capital: Sementes da Liberdade Produtiva

Em tempos de instabilidade política e econômica, o capital, tal como uma ave filosófica de Platão, migra em busca de um solo mais fértil. O fenômeno financeiro conhecido como carry trade, que consiste em tomar empréstimos em moedas de países com juros baixos ou negativos e investir em países com juros altos, pode ser visto não apenas como uma operação especulativa, mas como uma espécie de enxertia econômica — um transplante de potencialidade produtiva. Essa imagem ganha vida quando consideramos que, no plano espiritual e civilizacional, a economia pode ser também uma forma de servir a Cristo e semear a liberdade por meio da santificação através do trabalho.

A semente que voa

No Fedro, Platão apresenta a alma como uma espécie de ave, dotada de asas que, em sua nobreza, alçam voo rumo ao inteligível. Assim também age o capital em tempos de juros negativos: ele se sente deslocado, inquieto, em busca de um lugar onde possa frutificar. Países como o Japão, onde impera uma monarquia estável e taxas de juros persistentemente baixas ou negativas, tornam-se grandes viveiros de sementes monetárias. O investidor japonês, ao tomar empréstimos com custo ínfimo, vê no Brasil uma terra ainda instável politicamente, mas fértil em juros elevados e oportunidades de ganho.

Esse paradoxo — da estabilidade investindo na instabilidade — revela uma lógica subterrânea: o capital, por sua própria natureza, é impelido ao movimento, mas sua dignidade depende de onde é plantado e para que serve. Quando ele se aloja em instrumentos como a LCI (Letra de Crédito Imobiliário) ou a LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), estamos diante de um investimento que, ao mesmo tempo que remunera, promove o desenvolvimento de setores produtivos e essenciais. E mais: essas aplicações são isentas de imposto de renda, o que torna o Brasil ainda mais atrativo ao investidor estrangeiro.

Reconversão: o retorno como bênção

Não é apenas no envio do capital que se dá a produtividade. O seu retorno — a reconversão da moeda local para a moeda de origem — pode, em certos ciclos econômicos, tornar-se altamente favorável, gerando um ganho adicional. Contudo, o verdadeiro mérito não está na especulação da moeda, mas no uso virtuoso que se faz do investimento recebido. Quando a economia local, beneficiada por essa “enxertia” estrangeira, responde com produtividade, inovação e geração de empregos, o pagamento do empréstimo passa a ser não um peso, mas uma bênção.

O Brasil, mesmo sob o regime republicano que tantas vezes se revelou frágil e instável, ainda conserva em seu povo uma capacidade extraordinária de trabalho criador. Quando os juros caem e as condições macroeconômicas permitem, aquele que tomou o capital com responsabilidade poderá investir em atividades duradouras. A semente lançada florescerá como uma árvore nativa e frondosa — uma ibirarama — forte, bela e integrada ao solo.

O Fim do Capital: servir a Cristo em terras distantes

O verdadeiro fim do capital, porém, não se esgota na geração de lucros ou no equilíbrio da balança de pagamentos. O capital, quando santificado pelo trabalho e orientado pela verdade, pode se tornar instrumento de um bem maior. No espírito da encíclica Rerum Novarum, o acúmulo virtuoso de bens — fruto do estudo, da laboriosidade e da prudência — é legítimo quando está a serviço da edificação humana e da justiça social. Nesse sentido, quando um governo favorece o aperfeiçoamento da liberdade para muitos, criando um ambiente onde o trabalho é respeitado e a produção é incentivada, a economia nacional não apenas prospera: ela se converte em missionária.

Sim, missionária. Pois onde o capital é semeado com sabedoria e colhido com justiça, ali ele pode servir a Cristo em terras distantes. O Brasil, então, deixa de ser apenas receptor ou exportador de recursos — e se torna um vaso comunicante do bem, uma pátria que, ainda que marcada por tantas feridas, pode oferecer ao mundo frutos do Espírito através da economia produtiva, enraizada na verdade e orientada para o serviço.

Bibliografia Comentada

  1. Platão. Fedro.
    Obra filosófica fundamental onde Platão desenvolve a imagem da alma alada que aspira ao mundo das ideias. A metáfora do homem como ave inspira a imagem do capital migratório, inquieto por natureza e em busca do bem.

  2. Papa Leão XIII. Rerum Novarum (1891).
    Encíclica social que fundamenta a doutrina católica sobre o trabalho, a propriedade e a justiça social. Aqui se encontra o princípio de que o capital acumulado pelo trabalho é legítimo, desde que usado com responsabilidade e para o bem comum.

  3. Hayek, Friedrich A. O Caminho da Servidão.
    Embora não citado diretamente, a ideia de que a liberdade econômica deve estar atrelada à responsabilidade moral e à verdade perpassa o artigo como uma crítica implícita ao dirigismo e à instabilidade republicana.

  4. Mises, Ludwig von. Ação Humana.
    Obra-prima da Escola Austríaca, onde o investimento é entendido como um ato de previsão racional no tempo, aplicável à ideia de plantio e colheita do capital.

  5. Gurgel, Rodrigo. Crítica Literária no Brasil: Caminhos e Desvios.
    Inspirador na arte de usar a linguagem com precisão metafórica e força simbólica — base para a associação entre economia e vegetalidade (sementes, árvores, enxertia).

  6. Royce, Josiah. The Philosophy of Loyalty.
    Recomendado por Olavo de Carvalho como fundamento para pensar deveres espirituais e civilizacionais. Aqui está a base moral que dá sentido ao investimento como missão — não apenas como operação financeira.

  7. Olavo de Carvalho. O Jardim das Aflições.
    A obra fornece o pano de fundo filosófico para refletir sobre a liberdade, o império e a responsabilidade espiritual do Brasil como nação diante de Cristo.

  8. Banco Central do Brasil e Receita Federal – Documentos oficiais sobre LCI e LCA.
    Utilizados para validar tecnicamente as informações sobre isenção de imposto de renda para pessoa física nesses títulos.

  9. Dados históricos e financeiros sobre a economia japonesa e o carry trade.
    Embora não citados pontualmente, fazem parte do pano de fundo necessário para compreender o fluxo de capital global em tempos de juros negativos.

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