“O ambiente universitário transformou-se num campo de adestramento para carreiristas e parasitas, e não para pensadores” — Olavo de Carvalho1
Introdução
A cultura universitária contemporânea, especialmente no Brasil, passou por uma mutação profunda nas últimas décadas. Aquilo que outrora foi espaço de livre investigação e busca desinteressada pela verdade tornou-se, segundo Olavo de Carvalho, um campo dominado por interesses burocráticos, corporativos e ideológicos2.
A presente análise parte de uma crítica feita por Olavo em palestra gravada, onde denuncia o processo de burocratização da atividade intelectual e o impacto nefasto disso sobre a cultura nacional.
1. A burocracia contra o pensamento
Olavo observa que muitos intelectuais brasileiros fazem carreira dentro de sindicatos e associações profissionais que regulam e domesticam a atividade acadêmica, premiando não o mérito intelectual, mas a lealdade institucional3. Assim, surgem critérios de avaliação baseados no número de publicações, independentemente da relevância do conteúdo.
Essa prática, conforme ele argumenta, transformou a vida intelectual em um sistema fechado — um "universo" artificial — onde a originalidade é substituída por conformismo. O prestígio acadêmico torna-se, então, um fim em si mesmo.
2. A métrica vazia: publicações e citações
Um dos alvos principais da crítica olaviana é o uso indiscriminado de rankings universitários, como o Times Higher Education (THE), que baseiam suas métricas na quantidade de publicações e de citações. Em áreas como matemática e ciências naturais, esse critério pode ter validade: uma citação representa, muitas vezes, o uso efetivo de uma descoberta anterior. Contudo, nas ciências humanas, esse valor se dilui.
Segundo Olavo, as citações em humanidades tornam-se uma moeda simbólica dentro de um jogo de prestígio, não de contribuição intelectual real4. Um autor citado muitas vezes não o é por relevância, mas por estar inserido em um círculo de validação mútua entre pares corporativistas.
3. A tragédia brasileira
A denúncia torna-se mais grave quando aplicada ao caso brasileiro. Olavo afirma que, enquanto nos Estados Unidos e na França a burocratização foi um desastre, no Brasil ela foi ainda pior, pois a cultura pública já era pobre. Os burocratas universitários, ao invés de aprimorar a formação nacional, destruíram o pouco que havia com um sistema que mistura corporativismo, ideologia e máfia institucional5.
Esse cenário, segundo ele, é o que permite o surgimento de figuras como Fernando Haddad, cuja carreira universitária — segundo Olavo — se sustenta mais em conexões políticas e institucionais do que em verdadeira produção intelectual.
4. A invisibilidade do pensador público
A crítica final de Olavo de Carvalho atinge o coração da farsa: o intelectual público, que escreve livros, artigos e ensaios fora do circuito acadêmico, simplesmente não existe para os rankings e agências de fomento. Seu trabalho não é indexado, não é avaliado, não é citado. É ignorado.
Segundo ele, a única coisa que parece contar no meio universitário é a chancela institucional. A consequência disso é a exclusão sistemática de mentes livres, independentes e criativas — o exato oposto do que deveria ser promovido.
Conclusão
A crítica de Olavo de Carvalho é mais do que um desabafo; é um diagnóstico sério sobre a falência da universidade moderna. Ao transformar o pensamento em carreira e o saber em prestígio burocrático, mata-se a vida intelectual na raiz. O remédio, para ele, não está na reforma das instituições, mas na fuga de seus muros: que os verdadeiros pensadores escrevam, publiquem e ensinem fora da engrenagem, buscando não o reconhecimento dos pares, mas a verdade.
Referências bibliográficas
CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural: ensaio sobre o marxismo imaginário. 4. ed. Campinas: Vide Editorial, 2012.
CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013.
CARVALHO, Olavo de. A farsa dos intelectuais universitários. Transcrição de palestra. Documento pessoal, 2025. Transcrição por TurboScribe.ai.
TIMES HIGHER EDUCATION. World University Rankings. Disponível em: https://www.timeshighereducation.com. Acesso em: 12 jun. 2025.
Notas de Rodapé
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CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013. ↩
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CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural. 4. ed. Campinas: Vide Editorial, 2012. ↩
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Transcrição de palestra de Olavo de Carvalho: "A farsa dos intelectuais universitários", trecho transcrito por TurboScribe.ai. Documento pessoal. ↩
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Cf. “O número de citações nas ciências naturais e matemáticas significa algo. Nas ciências sociais e humanas, pode ou não significar nada” — idem. ↩
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“Misturei o corporatismo e o comunismo e a interprotecção da máfia. Bem, então tudo acaba” — idem. ↩
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