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quinta-feira, 5 de junho de 2025

Por amor à verdade, que é o fundamento da liberdade: o voto facultativo, a apatria espiritual e o caminho do inferno por meio da omissão

Vivemos tempos em que a proposta de tornar o voto facultativo parece, aos olhos de muitos, um avanço da liberdade. Mas, à luz da verdade revelada, esse discurso não resiste a um exame sério. Antes, revela um sintoma profundo da apostasia dos povos e da recusa prática de muitos em tomar a terra como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo.

Quem não se interessa pela vida pública, pela política e pela ordem social revela, na prática, que não se interessa pelo futuro da terra que habita. Mais grave ainda: revela que não se interessa sequer pela pátria definitiva — o Céu. Essa indiferença, que no discurso aparece como neutralidade ou liberdade individual, é, na verdade, uma declaração de apatria espiritual.

A crise da responsabilidade e a fuga covarde

O voto facultativo não é apenas um mecanismo jurídico; é o sintoma de um povo que renuncia ao dever moral de colaborar na ordenação do bem comum. Não se trata apenas de escolher governantes, mas de exercer um dever de justiça.

Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33). Ora, o Reino de Deus não é uma realidade puramente interior, mas abarca todas as dimensões da vida humana: pessoal, familiar, social, cultural e política.

Quando um povo, sobretudo em tempos de crise, escolhe se refugiar na comodidade, no silêncio ou na omissão, essa escolha não é neutra: é moralmente grave. Quem se abstém de lutar pela ordem segundo a verdade entrega, na prática, a sociedade nas mãos do mal.

O julgamento da história e o juízo eterno

A história registra que, em todos os tempos de crise, a omissão dos bons foi fator determinante para o triunfo dos maus. Santo Tomás de Aquino ensina que “omitir um bem devido, quando se pode e se deve fazê-lo, é pecado” (cf. Suma Teológica, II-II, q. 79).

Quando Nosso Senhor descreve o juízo final em Mateus 25, o critério não é simplesmente o mal que alguém fez, mas sobretudo o bem que deixou de fazer:

“Tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era estrangeiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; doente e na prisão, e não me visitastes.” (Mt 25, 42-43)

O mesmo se aplica à ordem social e política. Aquele que, podendo e devendo, não se levanta contra a tirania, não combate a injustiça e não luta pela verdade, se torna cúmplice pelo silêncio e pela omissão.

A Apatria Anticristã

O espírito apátrida não é novidade; ele é próprio do espírito do Anticristo, que busca dissolver todas as formas de pertencimento — à família, à pátria e, sobretudo, ao Reino de Deus.

Quem recusa assumir a responsabilidade política está, na prática, aderindo à mentalidade globalista, que rejeita as fronteiras, os deveres civis e a ordem moral objetiva. Está dizendo: “Não me interessa o destino dessa terra; não me interessa o bem comum; interessa-me apenas minha pequena bolha de conforto.”

Essa postura é a negação do mandamento da caridade, que exige que amemos não só a Deus, mas também o próximo — e isso inclui trabalhar pela ordem, pela justiça e pela paz, segundo a verdade.

O dever de tomar a terra como lar em Cristo

Quem entende que a terra deve ser tomada como lar em Cristo, por Cristo e para Cristo compreende que não é lícito abdicar da vida pública. Santo Agostinho ensina que o cristão deve ser cidadão da Cidade de Deus, sem se esquivar das responsabilidades na cidade dos homens, trabalhando para que esta se conforme àquela, tanto quanto possível.

Leão XIII, na encíclica Immortale Dei, ensina:

“A sociedade civil foi criada por Deus, e nela o homem deve buscar o aperfeiçoamento da vida, pela prática das virtudes e pelo cumprimento dos deveres sociais.”

Portanto, a participação política não é opcional: é uma exigência da justiça, da caridade e da fé.

O caminho para o inferno é pavimentado pela omissão

Sim, é um fato: muitos irão para o inferno não porque escolheram ativamente o mal, mas porque se omitiram no bem. Preferiram conservar o que lhes era conveniente, mesmo dissociado da verdade.

Quando a verdade se torna inconveniente, o covarde prefere salvar seu conforto, seu pequeno pedaço de segurança, sua falsa paz, mesmo que isso custe a destruição da ordem, da pátria e da própria Igreja visível.

É exatamente assim que o Anticristo governa: não apenas pela força dos maus, mas pela omissão dos bons.

Conclusão: a verdadeira liberdade está no dever

Portanto, quem defende o voto facultativo, em nome de uma falsa liberdade, está apenas declarando a falência moral de uma geração que já não sabe o que é dever, serviço e sacrifício.

A liberdade cristã não é o direito de escolher o que se quer, mas o poder de fazer o que se deve, segundo a verdade.

Quem ama a Deus e toma esta terra como lar em Cristo, por Cristo e para Cristo jamais se exime do dever de lutar, de se posicionar e de dar testemunho público da verdade — ainda que isso custe a própria vida.

Porque é exatamente isso que significa ser discípulo de Cristo: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Bibliografia

  • Sagrada Escritura

    • Bíblia Sagrada, Evangelho de São Mateus, capítulos 6 e 25.

  • Santo Tomás de Aquino

    • Suma Teológica, II-II, q. 79, a. 1: “Se é pecado omitir-se de ensinar e pregar.”

    • Suma Teológica, I-II, q. 96, a. 4: Sobre a obrigação das leis humanas e o bem comum.

  • Santo Agostinho

    • A Cidade de Deus, livro XIX: Sobre a paz da cidade dos homens e da Cidade de Deus.

  • Papa Leão XIII

    • Immortale Dei (1885): Sobre a constituição cristã dos Estados.

    • Rerum Novarum (1891): Sobre a questão operária e a ordem social.

  • Papa Pio XI

    • Quadragesimo Anno (1931): Sobre a restauração da ordem social segundo a lei natural e cristã.

  • Catecismo da Igreja Católica

    • CIC §1915: “Os cidadãos devem, na medida do possível, tomar parte ativa na vida pública.”

    • CIC §2239: Sobre o dever dos cidadãos na construção de uma sociedade justa.

  • Outras Referências

    • Documento do Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, nº 75: Sobre a participação dos cristãos na vida pública.

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