Resumo
Este artigo discute como a decadência do jornalismo contemporâneo reflete uma crise mais profunda: a perda do amor à verdade. A dificuldade — ou a recusa — de jornalistas em aprender e pronunciar corretamente nomes de outras línguas não é um detalhe técnico, mas um sintoma de indolência intelectual e desprezo pela realidade. A partir da missão histórica do Reino de Portugal, estabelecida em Ourique, reflete-se sobre como o amor à verdade exige o amor ao conhecimento, à cultura e às línguas dos povos, quando isso se ordena ao serviço de Cristo. Assim, tomar a Polônia e o Brasil como um mesmo lar em Cristo é a expressão mais alta dessa missão, que não conhece fronteiras geográficas quando se trata de servir à verdade.
Introdução
Se é verdade que “a verdade vos libertará” (João 8,32), então tudo aquilo que se opõe à verdade conduz inevitavelmente à escravidão — da mente, da consciência e da própria civilização. O jornalismo, quando se afasta do amor à verdade, torna-se um instrumento não de esclarecimento, mas de obscurecimento.
O episódio recente, em que jornalistas brasileiros declararam não saber polonês para justificar sua incapacidade de pronunciar o nome de um eurodeputado polonês — central numa notícia de impacto internacional —, revela algo muito maior do que uma dificuldade técnica: revela uma recusa ativa ao amor pela verdade, pelo conhecimento e, portanto, pela própria realidade.
1. O Amor à Verdade e o Amor ao Conhecimento
Olavo de Carvalho, ao longo de sua obra, foi insistente em apontar que não se pode amar a verdade sem amar também o conhecimento. Em O Jardim das Aflições, ele sintetiza isso de forma precisa:
“O amor à verdade é, necessariamente, amor ao conhecimento. Quem não tem amor ao conhecimento não tem amor à verdade, porque a verdade não se oferece à ignorância, mas à inteligência atenta e aplicada.” (CARVALHO, 1995, p. 78).
Essa sentença não é apenas uma consideração abstrata. Ela tem consequências práticas. O jornalista que se recusa a aprender, que se satisfaz com a ignorância, que não busca entender a cultura ou sequer pronunciar o nome de um personagem central numa notícia, não ama a verdade. E se não ama a verdade, é incapaz de servi-la.
2. A Missão de Ourique como chave de interpretação
A história de Portugal oferece uma chave para entender essa relação entre amor à verdade e serviço. Quando D. Afonso Henriques, no campo de Ourique, teve a visão de Cristo, ele recebeu uma missão que transcende o tempo e o espaço:
“Eu sou o fundador do reino que tu vais estabelecer. [...] Não temais, porque eu serei o vosso amparo. De hoje em diante, em Meu Nome combaterás e Eu farei de ti e de teus descendentes instrumentos de Minha glória.” (OLIVEIRA MARTINS, 1891, p. 102).
Dessa missão nasce Portugal, não como mera entidade política, mas como um reino constituído “por Cristo, em Cristo e para Cristo”. Essa missão não se encerrou no século XII. Ela prossegue naqueles que, tomando a sério o chamado, compreendem que servir à verdade é servir a Cristo — e que não há limites geográficos para isso.
3. A Polônia como extensão da Missão
Por isso, quando um homem toma a Polônia como seu lar, na mesma medida em que toma o Brasil, ele não está apenas fazendo uma escolha afetiva ou cultural. Ele está respondendo à missão de Ourique, que é universal em sua essência. A língua polonesa, com toda sua complexidade fonética, não se apresenta como obstáculo, mas como uma oportunidade de honrar aquele amor à verdade que exige conhecer, respeitar e servir a realidade tal como ela é.
A recusa dos jornalistas em sequer tentar compreender o nome do eurodeputado polonês não é, portanto, um detalhe trivial. É um atestado de falência espiritual e profissional.
4. Jornalismo, Conhecimento e Missão
O verdadeiro jornalista, como o verdadeiro missionário, é alguém que atravessa fronteiras. É alguém para quem nenhuma língua é estranha, nenhum povo é distante, nenhuma realidade é irrelevante — desde que tudo isso esteja no caminho da verdade.
São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, ensina que:
“O intelecto humano tem como objeto próprio a verdade, e seu fim é adequar-se à realidade.” (AQUINO, Suma Teológica, I, q. 16, a. 1).
Portanto, não se trata de um capricho técnico. Trata-se da própria definição do ato intelectual e, por extensão, do ato jornalístico quando este é exercido com honestidade.
Conclusão
O amor à verdade não é algo abstrato, nem uma etiqueta moral sem consequências práticas. Ele exige amor ao conhecimento, amor ao esforço e amor à realidade. E, quando se ama a verdade, não há nome polonês que não se aprenda, não há fronteira que não se atravesse, não há dificuldade que não se supere.
Essa é a missão que começou em Ourique e que continua viva em cada homem que, hoje, escolhe servir a Cristo através do culto à verdade, seja no jornalismo, na cultura, na ciência ou em qualquer outra esfera da vida.
Referências
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução dos Frades da Ordem dos Pregadores no Brasil. São Paulo: Loyola, 2001.
CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César, uma história do homem no século XX. 1. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
MARTINS, Oliveira. História de Portugal. 4. ed. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1891.
BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB. São Paulo: Paulus, 2001. Evangelho segundo João, 8:32.
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