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quarta-feira, 11 de junho de 2025

Conservadorismo e Conservantismo: entre a verdade e a prisão ideológica

Introdução

No debate contemporâneo sobre fé, política e cultura, torna-se necessário distinguir com rigor dois conceitos que muitas vezes são confundidos: o conservadorismo e o conservantismo. Essa distinção é essencial para compreendermos os riscos da prisão ideológica e os desafios da fidelidade à verdade cristã. Ao separar essas categorias, evidencia-se o papel do sentido na sustentação da fé e da liberdade espiritual.

Conservadorismo: A Preservação da Verdade e do Sofrimento Redentor

O conservadorismo, entendido em seu sentido mais profundo, pode ser definido como a prática de preservar aquilo que é eterno e sagrado — especialmente a verdade revelada em Cristo e o significado do Seu sofrimento redentor. Conforme aponta Alasdair MacIntyre, o conservadorismo genuíno implica uma fidelidade às tradições morais que fundamentam a vida comunitária e espiritual (MACINTYRE, 1981). Essa postura não rejeita a inovação por mera resistência, mas resiste ao que corrompe a verdade.

A dor de Cristo, enquanto mistério redentor, é um elemento central que o conservadorismo busca manter vivo. Essa dor representa não apenas sofrimento, mas a possibilidade da salvação e da transformação. A fidelidade a essa verdade conecta o indivíduo à Jerusalém Celeste — símbolo da comunhão eterna e da realeza divina.

Conservantismo: A Escravidão do Conveniente e A Senzala Ideológica

Por outro lado, o conservantismo (neologismo aqui proposto para diferenciar a postura) caracteriza-se pelo apego ao que é conveniente, pragmático e dissociado da verdade. É uma forma de resistência que visa manter privilégios, sistemas ou ilusões confortáveis, mesmo que para isso se renuncie à realidade objetiva. Essa postura, conforme analisado por Viktor Frankl, resulta em uma fé metastática — uma fé sem sentido, que não suporta o vazio existencial (FRANKL, 2006).

O conservantismo é, portanto, a base da chamada "senzala ideológica", uma metáfora que indica o aprisionamento psicológico e cultural que impede o avanço da consciência e da liberdade genuína. Tal fenômeno manifesta-se na persistência de sistemas e ideias que, apesar de ultrapassados ou falsos, continuam a dominar o imaginário coletivo por razões convenientes e interesseiras.

O Significado do Sentido na Fé Cristã

A importância do sentido é amplamente discutida por Frankl, que argumenta que a busca por sentido é o principal motivador da existência humana (FRANKL, 2006, p. 106-107). Quando a fé perde seu fundamento no sentido verdadeiro — no caso, a realeza eterna de Cristo — ela se torna frágil, sujeita a rupturas e à decadência espiritual.

A distinção entre conservadorismo e conservantismo é, portanto, uma distinção entre a busca do sentido genuíno e a manutenção da ilusão conveniente. Essa escolha define o rumo da experiência humana, entre a liberdade autêntica e a escravidão psicológica.

Conclusão

A reflexão sobre conservadorismo e conservantismo revela que a fidelidade à verdade não pode ser confundida com apego ao conveniente. O cristão é convocado a preservar a memória e o significado do sofrimento redentor de Cristo, fundando sua fé no sentido eterno e na realeza divina.

Rejeitar o conservantismo é romper com a senzala ideológica e assumir a cruz, com coragem e esperança. Assim, torna-se possível construir a Jerusalém Celeste, não apenas como promessa futura, mas como realidade presente na vida e na cultura.

Bibliografia

FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.

MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: A Study in Moral Theory. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1981.

Notas de rodapé

  1. MacIntyre destaca a importância da tradição moral para a prática conservadora, afirmando que ela sustenta as virtudes necessárias para a vida comunitária e o florescimento humano (MACINTYRE, 1981, p. 187).

  2. Frankl enfatiza que a ausência de sentido é a principal causa do sofrimento psicológico, o que reforça a necessidade de uma fé fundamentada na verdade e no propósito divino (FRANKL, 2006, p. 112).

  3. A metáfora da “senzala ideológica” expressa a escravidão psicológica que impede a superação dos velhos paradigmas e a liberdade espiritual autêntica.

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