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segunda-feira, 2 de junho de 2025

Conhecendo uma nação através de um único homem: a Polônia vista a partir do exemplo de meu pároco

I. Introdução

Vivemos em um mundo onde, por limitações geográficas, econômicas ou circunstanciais, nem sempre é possível conhecer diretamente os povos, as culturas e as nações. Contudo, há uma máxima antiga e profundamente verdadeira: às vezes, a parte contém, em si, a essência do todo. Se essa parte for legítima, fiel, profundamente enraizada na tradição da qual provém, então ela se torna uma janela legítima para conhecer algo muito maior.

Foi assim que, sem jamais ter pisado na Polônia, pude compreender algo substancial da alma polonesa. Durante uma década, convivi com um pároco polonês, Mons. Jan Kaleta, na paróquia que eu frequentava. Um sacerdote ordenado por ninguém menos que São João Paulo II, quando ainda era o então Arcebispo de Cracóvia, Dom Karol Wojtyła. E foi nesse convívio que aprendi não apenas sobre aquele homem, mas sobre uma nação inteira, seu espírito, sua resistência e sua missão no mundo.

II. A Polônia e Sua História: Forjada no Sofrimento e na Fé

A história da Polônia não é uma sequência de glórias fáceis, mas um testemunho permanente de resistência, de fidelidade e de sofrimento redentor. Ocupações sucessivas — mongóis, suecos, prussianos, russos, nazistas e soviéticos — moldaram um povo para quem a identidade nacional não pode ser separada da fé católica.

Quando o mapa da Polônia desapareceu da Europa durante 123 anos (1795–1918), quem manteve viva a consciência de ser polonês foi a Igreja. E, quando o nazismo tentou destruir a nação, foi a mesma Igreja que sustentou a alma polonesa. Na sequência, o comunismo tentou arrancar de suas raízes a fé, substituindo-a por uma ideologia materialista. Novamente, falhou. A eleição de Karol Wojtyła como Papa foi, para muitos poloneses, a confirmação de que Deus olhava com carinho para aquele povo martirizado.

III. O Método: Conhecer o Todo pela Parte

O filósofo Aristóteles ensinava que o conhecimento do todo pode, sim, ser alcançado pela análise da parte, desde que esta parte seja genuinamente integrante e representativa do todo.

Meu pároco não era apenas um sacerdote polonês qualquer. Era um homem ordenado por Karol Wojtyła, formado na escola espiritual, intelectual e moral daquele que guiou a Polônia a resistir ao comunismo, ao niilismo moderno e às forças dissolventes do globalismo. Nele estavam condensados séculos de tradição católica, disciplina, amor à pátria, reverência à ordem natural e sobrenatural.

Durante dez anos de convivência, pude observar não apenas sua pregação, mas seu modo de ser, seu trato com as pessoas, sua austeridade, sua generosidade, seu senso de dever e sua intolerância, no bom sentido, com qualquer tipo de desvio moral que atentasse contra os princípios perenes da lei natural.

IV. A Cultura Polonesa e a Rejeição à Agenda Globalista

Foi essa experiência que me permitiu, com segurança razoável, prever o que muitos analistas, mesmo os bem informados, não conseguiam perceber: a resistência do povo polonês à agenda progressista, especialmente no que toca às pautas LGBT, ideologia de gênero e dissolução dos valores familiares.

Quando observei que Rafał Trzaskowski — político de orientação progressista e defensor assumido da pauta LGBT — se lançava como candidato relevante, percebi de imediato que, embora pudesse ter apoio nas grandes cidades, sua candidatura jamais reuniria força suficiente para vencer em um país cuja estrutura moral não aceita esse tipo de subversão cultural.

De fato, a eleição foi apertada, como era previsível, dada a crescente pressão globalista sobre a juventude urbana polonesa. Mas no final, Andrzej Duda e, mais recentemente, o conservador Karol Nawrocki, saíram vitoriosos, sustentados pela força do interior, das famílias tradicionais, das paróquias e da memória viva dos mártires poloneses — tanto os que tombaram sob o nazismo quanto os que resistiram ao comunismo.

V. O Brasil e a Polônia: Um Espelho Imperfeito

Há, porém, um paralelo interessante. Se no Brasil, que é, em média, bem mais liberal e culturalmente sincrético que a Polônia, a maioria da população rejeita abertamente a agenda LGBT quando ela se apresenta como imposição político-cultural, imagine na Polônia — onde essa rejeição não é apenas uma questão moral, mas um ato de defesa existencial, um dever patriótico, quase sacramental.

Se aqui a resistência muitas vezes se organiza de forma dispersa, na Polônia ela é quase orgânica. Ela brota do catecismo, das orações em família, dos campos de batalha, dos campos de concentração e dos confessionários. Na Polônia, defender a ordem natural é, antes de tudo, defender a própria continuidade da nação.

VI. Conclusão: O Homem Como Ícone do Povo

Quando convivi com aquele sacerdote, aprendi mais sobre a Polônia do que qualquer livro poderia ensinar. Nele se condensavam séculos de tradição, dor, esperança e resistência.

Essa experiência me confirmou uma verdade fundamental: é possível, sim, conhecer um povo pelo convívio atento, amoroso e respeitoso com um de seus representantes autênticos. Desde que se tenha olhos para ver, ouvidos para ouvir e amor pela verdade.

A Polônia que eu conheci no meu pároco é a mesma que resiste hoje — uma nação que sabe que, se perder a fé, perderá tudo. E que, por isso, luta. E lutará. Sempre.

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