Por que o Brasil se dissolve enquanto a história se repete?
Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma verdadeira erosão silenciosa de sua estrutura social mais elementar: a família. Em 2023, o país registrou 440 mil divórcios, o maior número da série histórica iniciada em 2009. Paralelamente, o número de casamentos caiu pelo quarto ano consecutivo, com 940 mil registros de casamentos civis, muito abaixo do que se esperaria para um país com dimensões continentais e uma população ainda jovem.
Esses dados, divulgados pelo IBGE, não são neutros nem inócuos. Eles apontam para uma ruptura civilizacional cujas raízes remontam à década de 1970, quando, paradoxalmente sob um regime militar tido como "conservador", se aprovou uma das legislações mais subversivas da história brasileira: a Lei do Divórcio, proposta por Nelson Carneiro e sancionada em 1977, no governo do general Ernesto Geisel.
A Lei do Divórcio: modernização ou armadilha?
Nelson Carneiro foi um político persistente. Desde os anos 1950, já defendia publicamente a legalização do divórcio no Brasil — algo que a Constituição de 1946 e o Código Civil da época impediam em nome da preservação da família. No contexto da ditadura militar, quando o Congresso operava sob forte controle e censura, sua proposta finalmente encontrou espaço.
Mas por quê?
A resposta não está apenas na política interna, mas numa engenharia social global. O divórcio, sob a máscara da "liberdade individual", passou a ser instrumento de reengenharia cultural, preparando o terreno para a desintegração de laços familiares sólidos e a consequente fragilização da sociedade. Em nome do "progresso", institucionalizou-se a provisoriedade das promessas e a desconfiança das instituições naturais como o matrimônio.
A aprovação da Lei do Divórcio foi celebrada como vitória dos “direitos civis” — quando, na realidade, representou o início de uma profunda revolução antropológica, que traria décadas depois seus frutos amargos: abandono paterno, instabilidade emocional em massa, criminalidade juvenil e empobrecimento estrutural das famílias.
A armadilha do falso conservadorismo
O fato de essa lei ter sido aprovada sob o regime militar — usualmente classificado como "de direita" — mostra o quanto o verdadeiro conservadorismo estava ausente dos projetos nacionais. O governo de Geisel, alinhado com os interesses da modernização tecnocrática, pouco se importou com os efeitos sociais profundos do divórcio legalizado. A repressão ao comunismo armado não impediu que se abrissem as portas para o comunismo cultural e moral.
O resultado disso está agora à vista de todos. O Brasil se tornou um dos países com maior índice de divórcios entre os que se casam — praticamente um em cada dois casamentos termina em separação. A família, que deveria ser o santuário de resistência e formação de consciência nacional, foi reduzida a um contrato frágil, desprovido de dimensão sagrada ou vocacional.
A engenharia da derrota: desestruturar para dominar
A partir do momento em que a célula-base da sociedade é deliberadamente enfraquecida, o caminho para a subjugação do país está traçado. Uma população sem laços sólidos:
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consome mais e produz menos;
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cria filhos mais frágeis emocionalmente;
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não forma tradição nem transmite valores;
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torna-se refém do Estado para segurança, educação e identidade.
Essa vulnerabilidade social serve perfeitamente aos planos de dominação globalista e centralização burocrática — tanto em termos geopolíticos quanto econômicos.
Comparação internacional: o que dizem os números?
Países como Nigéria, Paquistão e Bangladesh, com economias inferiores à brasileira, apresentam taxas de divórcio infinitamente menores. Em Bangladesh, por exemplo, há 0,3 divórcios por mil habitantes. Na Nigéria, 0,2. Já o Brasil ostenta 2,6 divórcios por mil, uma das maiores taxas entre os países de maioria cristã.
A lógica se impõe: quanto mais frágil a família, mais fraco o povo; quanto mais fraco o povo, mais submisso à tirania política e ao mercado voraz.
Consequências previsíveis
A desestruturação familiar provocada pelo divórcio em massa traz consequências geopolíticas diretas:
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Enfraquecimento demográfico: menos nascimentos, mais envelhecimento e falência previdenciária.
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Perda de coesão social: comunidades fraturadas, violência urbana, dependência estatal.
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Redução do poder diplomático: sem poder brando (soft power) baseado em estabilidade e valores, o Brasil perde influência regional.
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Desinteresse de investidores estrangeiros: instabilidade social e cultural repele capital externo.
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Colonização cultural: com famílias desfeitas, o imaginário nacional é substituído por simulacros vindos do exterior — modismos, séries, músicas e valores efêmeros.
Conclusão: restaurar para resistir
A aprovação da Lei do Divórcio foi uma vitória da engenharia social travestida de liberdade. O tempo demonstrou que liberdade sem verdade é servidão disfarçada.
Recuperar o Brasil não será possível sem a restauração do valor da família como núcleo sagrado da vida social. Isso implica rever leis, costumes, prioridades e, sobretudo, formar uma nova geração que compreenda o matrimônio como missão e sacrifício — não como contrato descartável.
A desagregação familiar é a primeira etapa da derrota nacional. E a geopolítica, longe de ser apenas mapas e tratados, é o espelho exato da alma de um povo. Se quisermos um Brasil forte, precisamos de famílias fortes. Se quisermos resistir, precisamos restaurar.
Bibliografia
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