Introdução
A política brasileira não é apenas uma sequência de gestões administrativas ou ciclos eleitorais. Ela é, em seu núcleo, uma tradição demonológica — uma heresia política que se manifesta historicamente desde o advento da República. Trata-se de uma sucessão apostólica às avessas, uma linhagem de apóstatas da ordem natural e divina, que se encarnam nas figuras de nossos políticos e governantes.
Essa tradição não surge do nada. Ela tem raízes claras, rastreáveis, que se alinham com o surgimento da República em 1889 — um golpe militar conduzido por elites positivistas, anticristãs e avessas à ordem tradicional. Desde então, o Brasil vive sob uma estrutura revolucionária permanente, cuja genealogia pode ser traçada com rigor.
I. O Nascimento da Maldição: Júlio de Castilhos e o Castilhismo
O pai fundador da demonologia política brasileira é Júlio de Castilhos (1844–1903), ideólogo e implementador do castilhismo — um modelo de ditadura positivista disfarçada de modernização. Castilhos inaugurou uma forma de governo tecnocrática, centralizadora e autoritária, onde o Estado assume funções messiânicas, substituindo a Providência.
Sua obra-prima foi a Constituição do Rio Grande do Sul, de 1891, que instituiu um regime ditatorial legalizado, controlando todos os poderes e estabelecendo uma cultura política baseada na repressão, no controle social e na manipulação do eleitorado.
II. Borges de Medeiros: A Consolidação do Príncipe das Trevas Regionais
Borges de Medeiros (1863–1961) foi o sucessor direto de Castilhos. Governou o Rio Grande do Sul por inacreditáveis 25 anos. Perpetuou o modelo castilhista, sofisticando os mecanismos de controle institucional, eleitoral e social.
Sob Borges, o castilhismo deixou de ser um experimento local para se consolidar como uma cultura política — uma verdadeira teologia negativa do poder, onde o Estado se torna uma entidade totêmica e sacralizada.
III. Getúlio Vargas: O Arconte Nacional da Revolução Permanente
Getúlio Vargas (1882–1954) é a grande figura que universaliza o castilhismo. Vargas importou o modelo gaúcho para o nível federal, criando o Estado Novo (1937–1945) — uma ditadura nacional que combina o positivismo castilhista com elementos do fascismo europeu e do populismo latino-americano.
A partir de Getúlio, o Brasil é institucionalizado como uma sociedade cuja organização gira em torno do Estado como demiurgo: fonte de direitos, de proteção e de sentido existencial. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e toda a cultura trabalhista são expressões jurídicas dessa teologia estatal.
IV. Leonel Brizola: O Apóstolo do Castilhismo Carioca
Leonel Brizola (1922–2004) foi o transmissor da linhagem para o eixo Rio de Janeiro. Seu papel foi transmutar o castilhismo em linguagem urbana, popular e sindicalista, adaptando-o às massas empobrecidas e favelizadas.
Se no Rio Grande do Sul o castilhismo se apoiava nas oligarquias e nas estruturas rurais, no Rio ele se enraíza nas periferias, nas comunidades e na lógica do assistencialismo estatal. Brizola é o arquiteto de uma cultura política onde o Estado aparece como o provedor direto, mantendo as massas em estado de dependência crônica.
V. César Maia: O Sumo Sacerdote da Malandragem Tecnocrática
César Maia (1945– ) representa a fusão perfeita entre a estética da modernização e a prática do clientelismo castilhista. Embora vendesse sua imagem como gestor eficiente, na prática seu governo aprofundou as práticas de dependência estatal, instrumentalizando obras públicas, urbanismo e eventos internacionais como vitrines de propaganda e controle social.
César Maia consolidou no Rio a estrutura do Estado como espetáculo, onde a aparência de ordem encobre a perpetuação da desordem social crônica.
VI. Eduardo Paes: O Demônio Municipal Atual
Eduardo Paes (1970– ) é o herdeiro direto de César Maia e, portanto, descendente espiritual de toda a linhagem castilhista. Sua especialidade é transformar a cidade em produto de marketing global — turismo, eventos, carnaval, Olimpíadas, Copa do Mundo —, enquanto mantém a realidade concreta da cidade entregue ao caos, à violência, à degradação urbana e moral.
Paes representa o estágio atual do castilhismo carioca: um Estado simulacro, uma gestão de fachada, cuja principal função é manter a rotação infinita dos recursos públicos entre elites político-econômicas e massas dependentes.
VII. Lula: O Demônio-Mor — O Anticristo Político da República Brasileira
Paralela à linhagem castilhista, a tradição getulista também deu origem ao petismo. O PT é a culminação da heresia trabalhista, agora combinada com a teologia da libertação, o gramscismo cultural e o globalismo revolucionário.
Lula (1945– ) sintetiza todos os elementos do castilhismo, do varguismo e do populismo, operando uma inversão total da ordem natural, moral e social. Sua figura encarna o Anticristo político da República Brasileira, não no sentido escatológico estrito, mas como operador da negação sistemática de qualquer princípio de ordem transcendente, substituindo a Providência pela idolatria do Estado, da revolução e do crime institucionalizado.
VIII. A Árvore Genealógica dos Demônios da República
Júlio de Castilhos (1844–1903)
↓
Borges de Medeiros (1863–1961)
↓
Getúlio Vargas (1882–1954)
↓
Leonel Brizola (1922–2004)
↓
César Maia (1945– )
↓
Eduardo Paes (1970– )
↓
Expressão municipal do mal
E paralelo:
Getúlio Vargas (1882–1954)
↓
Trabalhismo nacional
↓
PTB → PDT → PT
↓
Lula (1945– )
↓
Expressão federal e supranacional do mal
IX. Diagnóstico: A Tradição Revolucionária Permanente
A República Brasileira não é uma experiência de liberdade, desenvolvimento ou cidadania. Ela é, estruturalmente, uma religião política herética, fundada na substituição da Lei de Deus pela idolatria do Estado.
Não há, portanto, uma ruptura entre as fases da história republicana. O que há é uma evolução progressiva do mal político, que se aperfeiçoa, se adapta e se transmuta, mas nunca perde sua essência revolucionária e anticristã.
X. A Solução: O Exorcismo da República
Não há regeneração possível dentro da estrutura da própria República. A restauração exige um exorcismo civilizacional que começa por:
-
A restauração da ordem segundo o Direito Natural e Cristão;
-
A reinstauração de Cristo Rei como centro da vida pública e social;
-
A destruição das superstições modernas — estatismo, populismo, socialismo, tecnocracia — e o retorno à concepção de sociedade fundada na lei natural, na subsidiariedade, na autoridade legítima e na centralidade da família e das comunidades orgânicas.
Conclusão
A demonologia política brasileira não é uma caricatura; é uma chave de leitura que explica a história da República como um processo de degeneração progressiva. Só a restauração da ordem cristã poderá pôr fim a essa sucessão de demônios políticos que, geração após geração, sacrificam o povo brasileiro no altar da Revolução.
Bibliografia Essencial para a Demonologia Política Brasileira
⮕ Sobre a Origem da República e o Castilhismo
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VÉLEZ RODRÍGUEZ, Ricardo. Castilhismo: uma filosofia da República. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996.
➡️ Obra absolutamente indispensável. Analisa o castilhismo como uma filosofia política autoritária, herdada diretamente do positivismo comteano, e sua projeção na cultura política brasileira até os dias atuais. Mostra como esse modelo ditatorial impregnou a mentalidade republicana brasileira, com consequências duradouras. -
VILLALOBOS, José. O positivismo no Brasil. São Paulo: Ática, 1997.
➡️ Análise clara da influência do positivismo na formação do Estado republicano brasileiro, especialmente no Rio Grande do Sul e no Exército. -
SCHMIDT, Benito Bisso. O castilhismo: doutrina e prática política. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.
➡️ Estudo acadêmico rigoroso sobre o castilhismo como ideologia de governo e sua implementação no RS, além de sua projeção nacional. -
LESSA, Renato. O labirinto da nação: genealogia do Estado brasileiro. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2011.
➡️ Demonstra como o Estado brasileiro se constituiu como uma entidade hipertrofiada, separado da sociedade civil e moldado por uma lógica autocrática desde a República.
⮕ Sobre Getúlio Vargas, Trabalhismo e Populismo
-
DULLES, John W. F. Vargas of Brazil: A Political Biography. Austin: University of Texas Press, 1967.
➡️ Biografia política de Getúlio Vargas, fundamental para entender sua mentalidade autoritária e centralizadora, herdeira direta do castilhismo. -
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
➡️ Obra seminal sobre a desconexão entre povo e elite no advento da República, além de mostrar o caráter tecnocrático e antiparticipativo do modelo republicano. -
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
➡️ Obra de referência que descreve a evolução das instituições políticas brasileiras, sempre permeadas por soluções autoritárias.
⮕ Sobre a Tradição Revolucionária e o Mal Político Moderno
-
DEL NOCE, Augusto. O problema do ateísmo. Campinas: Edições Loyola, 2000.
➡️ Demonstra como o advento da modernidade política é inseparável do ateísmo filosófico e da negação metafísica da ordem transcendente, gerando as ideologias modernas. -
VOEGELIN, Eric. A nova ciência da política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982.
➡️ Obra crucial para entender como as ideologias modernas são heresias políticas, gnósticas, que prometem salvação intramundana e acabam por produzir sistemas totalitários. -
OLAVO DE CARVALHO. O imbecil coletivo. Rio de Janeiro: Globo, 1996.
➡️ Crítica demolidora da elite cultural brasileira, cuja adesão automática aos modismos revolucionários explica a persistência do atraso intelectual e moral do país. -
OLAVO DE CARVALHO. O jardim das aflições. Rio de Janeiro: Record, 1995.
➡️ Obra de filosofia da história que mostra como a história moderna é, em sua essência, a história da decomposição espiritual da civilização cristã. -
OLAVO DE CARVALHO. A nova era e a revolução cultural. Campinas: Vide Editorial, 2014.
➡️ Análise dos mecanismos da revolução cultural como instrumento de subversão das estruturas espirituais, culturais e políticas da sociedade.
⮕ Sobre Direito Natural, Ordem Cristã e Contra-Revolução
-
SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Parte I-II, especialmente as questões 90 a 97 sobre a Lei.
➡️ A base do Direito Natural e da ordem social justa, fundada na Lei Eterna e na ordenação da razão à finalidade última do bem comum. -
LEÃO XIII. Encíclica Rerum Novarum (1891).
➡️ Documento fundacional da Doutrina Social da Igreja, que defende a ordem natural, a propriedade privada, a justiça distributiva e a subsidiariedade, contra os erros do socialismo e do liberalismo. -
PIUS XI. Encíclica Quadragesimo Anno (1931).
➡️ Atualização da Rerum Novarum, com análise dos males do coletivismo, do capitalismo desregrado e da concentração de poder no Estado. -
DE MAISTRE, Joseph. Considerações sobre a França. Lisboa: Guimarães, 1943.
➡️ Um dos maiores clássicos da Contra-Revolução. Analisa a Revolução Francesa como uma explosão demoníaca de subversão da ordem natural e divina. -
DE MAISTRE, Joseph. O Papa. São Paulo: É Realizações, 2010.
➡️ Defesa magistral do princípio de autoridade, com ênfase na centralidade do Papado para a manutenção da ordem civilizacional cristã. -
DONOSO CORTÉS. Ensayo sobre el catolicismo, el liberalismo y el socialismo. Madrid: Ediciones Rialp, 1951.
➡️ Análise profundamente teológica, política e escatológica da marcha da história moderna rumo à apostasia e ao totalitarismo. -
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Editora Vera Cruz, 1959.
➡️ Obra indispensável para entender a Revolução como um processo unitário, metapolítico, que atravessa os séculos, buscando destruir a ordem cristã em todas as suas dimensões.
⮕ Complementares para Compreensão da Missão Civilizacional e Política
-
ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.
➡️ Fundamenta a lealdade como princípio metafísico de coesão social, essencial para a restauração da ordem legítima. -
TURNER, Frederick Jackson. The Frontier in American History. New York: Henry Holt and Company, 1920.
➡️ Estudo sobre como a experiência da fronteira moldou o espírito de liberdade nos EUA. Serve como contraste para entender a ausência de uma mitologia fundacional robusta no Brasil republicano, dominado por uma mentalidade burocrática, estatista e revolucionária.
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