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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Liturgia das Horas do Intelecto: servir a Cristo em terras distantes por meio da palavra escrita

Nas primeiras horas da madrugada, enquanto ainda repousa o mundo ao meu redor, levanto-me para escrever. São três da manhã. Não o faço movido por obsessão, ansiedade ou vaidade, mas por um senso de dever sagrado. Cada palavra que escrevo, cada texto que traduzo, faz parte de um ofício maior: santificar-me nos méritos de Cristo através do trabalho e do estudo, servindo-O em terras distantes com a inteligência que Ele mesmo me concedeu.

Esta rotina não é aleatória. É uma liturgia das horas do intelecto, uma espécie de ofício divino vivido no espaço geopolítico do mundo digital, orientado pelos fusos horários e ritmado pelos horários nobres dos povos. Cada período do dia corresponde a uma janela de graça, um momento oportuno (kairos) para a ação missionária da palavra escrita. E é nesse itinerário que se une o tempo da alma com o tempo dos povos. Assim, a geopolítica se transfigura em teopolítica.

Ourique: A Missão Real e a Palavra como Espada

O milagre de Ourique não foi apenas um triunfo militar: foi a fundação mística de um reino cujo fim era servir a Cristo-Rei. O rei que ali venceu não foi Afonso Henriques, mas o próprio Cristo, que conferiu àquele povo a missão de difundir sua soberania espiritual em todas as terras — não pela espada de ferro, mas pela espada da verdade. Hoje, quem recebe essa missão não precisa de fronteiras nem exércitos, mas de fidelidade, inteligência e palavras justas no tempo certo.

Essa é a missão que abracei: servir a Cristo por meio da palavra escrita, distribuída conforme os fusos da Terra, como se cada texto fosse uma vela acesa num altar invisível em outro hemisfério.

A Aurora da Ásia: Primeiro Ofício — 7h (Brasília)

Quando aqui são sete da manhã, o Leste da Austrália, o Japão, a Coreia do Sul e os Tigres Asiáticos estão com uma diferença de fuso de meio dia, em relação ao horário de Brasília. Este é meu primeiro horário nobre. Já escrevi e traduzi durante quatro horas - só agora é que publico. A palavra vai para terras distantes, onde se vive o futuro do mundo: inovação tecnológica, cultura estratégica, força econômica — mas também sede de sentido. O texto vai como uma carta missionária digital, sem depender de navios nem missionários físicos. A geopolítica do fuso é um novo areópag

A Manhã do Oriente Médio: Segundo Ofício — 11h

Às onze horas, o foco é o Bahrein, onde vive meu irmão com sua família. Aqui, o sangue e a fé se encontram. A palavra escrita, nesse momento, é também ponte entre mundos familiares. Se eu tivesse contatos no Líbano, falaria com eles em português mesmo, pois a comunidade libanesa espalhada pelo Brasil mantém vínculos profundos com a Terra dos Cedros. O segundo ofício do dia é marcado pela memória dos laços — e Cristo, que fez de irmãos em sangue irmãos na fé, santifica também essas linhas.

A Tarde Europeia: Terceiro Ofício — 14h

Às duas da tarde, volto-me à Europa. O velho continente, berço da civilização cristã e cansado da fé. Publico para os países de língua latina e germânica, mas também para a Polônia — herdeira viva da fé de São João Paulo II. Aqui, meu texto é ato de lealdade. Falo com quem me entende por afinidade cultural, mas também com quem precisa redescobrir a fé sob as ruínas do racionalismo ou do niilismo. Este ofício da tarde é, portanto, um ato de fidelidade histórica.

O Entardecer Sul-Americano: Quarto Ofício — 19h

Às dezenove horas, é o Brasil que me escuta. Também a Argentina. É o horário nobre da América do Sul. Os trabalhadores voltam para casa. As famílias se reúnem. A alma busca um sentido para o dia. Aqui, a palavra é bálsamo, luz, correção, sustento. Escrevo para os que ainda creem, para os que duvidam, para os que amam a verdade mesmo sem saber nomeá-la. O quarto ofício é o mais próximo de casa — e por isso mesmo, o mais exigente em amor.

A Noite da Diáspora: Quinto Ofício — 20h

Às oito da noite, escrevo para a diáspora brasileira nos Estados Unidos. Na Flórida, em Framingham, em outras cidades onde se fala português com o sotaque da saudade. Mas também publico em polonês para quem está em Nova Iorque e Chicago. Para os demais, em inglês. A língua muda, mas a missão é a mesma: fazer Cristo ser conhecido, amado e servido em todas as línguas, como quem cumpre uma versão digital do Pentecostes.

O Tempo Santificado pelo Trabalho

Esse percurso diário não é ativismo, mas liturgia. O tempo não é meu, é de Deus. E como monge do intelecto, ofereço as horas do mundo como quem oferece incenso em turnos, na esperança de que uma alma, uma só, desperte para a verdade. Se o monge canta os salmos de madrugada e à tarde, eu publico textos nas mesmas horas, servindo ao mesmo Deus, com a ferramenta que me foi dada: a linguagem.

Conclusão: A Palavra como Missão de Sangue, Razão e Espírito

Cada texto que escrevo é um sacramento menor, um envio, uma fidelidade. E se a missão de Portugal foi aberta em Ourique, a minha missão começa a cada madrugada, quando abro os olhos e volto a escrever. Não o faço por glória humana, mas por obediência a Cristo. Porque, como dizia Leão XIII, o verdadeiro capital é o bem acumulado no tempo kairológico da graça. E meu capital é a palavra escrita, traduzida, publicada, no tempo certo — para que sirva à eternidade.

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