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sábado, 24 de maio de 2025

A Profissão Pública da Fé e da Inteligência: Uma Questão de Ética e de Salvação

Assim como a Igreja Católica exige que a fé seja professada publicamente, a vida intelectual — quando exercida como serviço a Deus — não pode ser uma atividade privada, escondida, clandestina. Ela deve ser testemunhada diante dos homens, porque aquele que vê em segredo é também aquele que julga em segredo, e ninguém pode enganá-lo.

O próprio Cristo deixou claro: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante de meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10,32-33). A fé, portanto, não é um assunto íntimo, subjetivo ou opcionalmente público. Ela exige a exposição pública da adesão ao Verbo, que é a Verdade.

Da mesma maneira, a atividade intelectual, quando orientada segundo os méritos de Cristo, é, ela própria, um exercício de fé. O trabalho da inteligência é um sacrifício racional (rationabile obsequium), como ensina São Paulo: “Exorto-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto racional” (Rm 12,1). A inteligência, como parte mais elevada do homem, deve ser oferecida a Deus na busca incessante pela verdade, não como vaidade, mas como serviço, testemunho e obrigação moral.

A ética da responsabilidade intelectual

Por isso, o trabalho que aqui realizo — em qualquer ambiente, inclusive nas redes sociais — não é um passatempo, nem uma exibição de erudição. Trata-se de um ato contínuo de culto, de serviço e de obediência a Deus, a quem não se pode enganar. Ele vê cada pensamento, cada intenção, cada palavra escrita. A integridade da vida intelectual não permite dissimulação, não tolera mentira, nem compactua com a mediocridade.

Essa compreensão não nasce de um impulso subjetivo, mas de uma tradição filosófica e teológica muito precisa, que pode ser expressa, de um lado, na filosofia da presença de Louis Lavelle, e de outro, no testemunho da tradição cristã, como bem ensina a própria doutrina da Igreja.

O filósofo francês Louis Lavelle (1883–1951) deixou claro que a vida espiritual, sobretudo a atividade intelectual, não é algo separado da realidade, mas uma participação direta no Ser, no próprio ato de existir. Na sua obra “A Consciência de Si”, Lavelle mostra que o conhecimento não é um simples ato de captar informações, mas uma forma de presença, um encontro com o Ser que nos constitui. Conhecer é tornar-se presente ao Ser, e essa presença é, antes de tudo, presença diante de Deus.

Essa filosofia da presença foi profundamente assimilada e ensinada por Olavo de Carvalho, sobretudo no seu Curso Online de Filosofia, onde ele demonstra que a atividade intelectual não é apenas um exercício lógico ou informativo, mas um processo moral, existencial e, no limite, religioso. Olavo repete frequentemente que a filosofia é um modo de ser, não apenas de pensar, e que ela exige conversão moral e sinceridade absoluta diante do real.

A recusa não é pessoal, mas metodológica e espiritual

Por isso, quem não trilhou minimamente este caminho — quem não compreende que a busca da verdade não é uma escolha opcional, mas uma obrigação moral e espiritual —, não pode ser meu interlocutor. Não é uma questão de simpatia, afinidade, gosto ou opinião. É uma questão de ética, de salvação e de dever diante de Deus.

Assim como não se pode celebrar os sacramentos com quem rejeita a fé católica, também não se pode partilhar o labor da inteligência com quem rejeita, conscientemente ou não, a responsabilidade espiritual que ela carrega. A vida intelectual é, para mim, uma forma de liturgia, um exercício contínuo de oferecer a Deus a parte mais nobre que Ele me deu: a inteligência, ordenada pela caridade.

A verdade é o fundamento da liberdade

A minha liberdade está fundada na verdade. E a minha verdade não é privada, não é subjetiva, nem é produto da minha opinião pessoal. Ela é uma conformidade progressiva com o Todo de Deus, com aquilo que o Verbo encarnado revelou e com aquilo que a inteligência, quando ordenada, é capaz de alcançar.

Por isso, o critério para estar em minha convivência intelectual não é a simpatia, nem a afinidade superficial, mas o compromisso radical com a verdade, tal como ensinado pelos mestres da filosofia perene, sob a luz da Revelação. Quem não entende isso, não me entende. E, portanto, não pode caminhar comigo.

Bibliografia Essencial

Filosofia da Presença

  • Lavelle, Louis. A Consciência de Si. Tradução de Lourival Gomes Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

  • Lavelle, Louis. O Erro de Narciso. Tradução de Lourdes Santos Machado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.

  • Lavelle, Louis. Tratado dos Valores. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.

Formação Filosófica e Ética Intelectual

  • Carvalho, Olavo de. O Jardim das Aflições. 5ª edição. São Paulo: Vide Editorial, 2015.

  • Carvalho, Olavo de. O Imbecil Coletivo. 5ª edição. São Paulo: Vide Editorial, 2013.

  • Carvalho, Olavo de. Curso Online de Filosofia. (Material distribuído aos alunos ao longo de 15 anos, disponível atualmente na plataforma do Seminário de Filosofia).

Referências Teológicas

  • Catecismo da Igreja Católica. Edição Típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.

  • Sagrada Escritura. Bíblia Sagrada, tradução da CNBB ou da Vulgata (para quem lê latim). Referências fundamentais: Mateus 10,32-33; Romanos 12,1-2; Mateus 25,14-30.

  • Leão XIII. Rerum Novarum. Encíclica sobre a condição dos operários. Vaticano, 1891.

  • Bento XVI. Fides et Ratio. Encíclica sobre a relação entre fé e razão. Vaticano, 1998.

Filosofia da Lealdade

  • Royce, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908. (Recomendado por Olavo de Carvalho como peça essencial para entender o problema da lealdade no desenvolvimento da personalidade ética e intelectual).

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