Às vezes, certos elementos entram em nossa vida de maneira tão natural, tão orgânica, que só nos damos conta deles quando olhamos para trás e percebemos o desenho que foi se formando, ponto a ponto, como se uma mão invisível estivesse conduzindo tudo. Foi exatamente assim que a Polônia entrou na minha vida. E, curiosamente, entrou muito antes de eu sequer pensar conscientemente sobre ela.
Eu sempre morei no Rio de Janeiro desde que nasci — um lugar que, à primeira vista, não parece ter grandes vínculos com a Polônia. E, no entanto, aos poucos, fui percebendo que havia, sim, uma presença polonesa discreta, mas marcante, no meu dia a dia.
O pároco da minha paróquia era polonês. E não era qualquer sacerdote. Ele havia sido ordenado por ninguém menos que São João Paulo II, um dos maiores santos do nosso tempo e, não por acaso, também polonês. As homilias, os gestos, a espiritualidade — tudo nele carregava aquele sotaque espiritual próprio de um povo que conhece o peso da história, das guerras, dos sofrimentos, mas também da esperança e da fidelidade à fé.
Minha dentista, curiosamente, também era descendente de poloneses. E, embora o ambiente de um consultório odontológico pareça o último lugar onde se espera encontrar vínculos culturais, ali também havia sinais. Conversas triviais, lembranças de família, traços, sobrenomes — tudo ia compondo aquele mosaico que só agora reconheço como significativo.
Além disso, em um daqueles fenômenos típicos da era digital, fiz amizades com alguns poloneses nas redes sociais, em razão de ter aprendido polonês com o meu pároco, em preparação para a JMJ. Fiz isso dentro do sentido ouriqueano, que é o de servir a Cristo em terras distantes — o que é mais um dado na imensidão de conexões possíveis que a internet proporciona. Mas, olhando agora, vejo que até esse fato parecia colaborar com essa teia de relações que se formava, quase como quem semeia algo que só muito tempo depois entenderá o que brotou.
O mais curioso é que tudo isso aconteceu sem qualquer planejamento da minha parte. Não era fruto de busca intencional, nem de um projeto consciente. Simplesmente aconteceu. A vida foi me apresentando esses vínculos, um a um, até que, quando dei por mim, percebi que muitos dos aspectos da minha vida — mesmo morando no Rio de Janeiro — tinham alguma relação, direta ou indireta, com a Polônia.
Coincidência? Talvez. Mas, se há algo que a experiência me ensinou, é que as coincidências costumam ser, na verdade, modos discretos pelos quais a Providência age no mundo. Aquilo que hoje parece acaso, amanhã se revela como um chamado, uma missão, ou, no mínimo, uma oportunidade de crescimento pessoal, espiritual e intelectual.
E assim, sem que eu percebesse, a Polônia foi entrando na minha vida. Primeiro, através de pessoas. Depois, através da cultura, da história, da fé. E, de certo modo, acredito que esse caminho não estava apenas sendo construído de fora para dentro, mas também de dentro para fora. Talvez, lá no fundo, a minha alma já estivesse, de algum modo, sintonizada com algo que, mais cedo ou mais tarde, se tornaria parte do meu caminho.
E hoje, olhando para essa história, percebo que não se tratou de um simples cruzamento de trajetórias, mas de um convite. Um convite que, aos poucos, fui aceitando — e que, agora, se torna parte da minha própria história de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário