Pesquisar este blog

segunda-feira, 26 de maio de 2025

O Mapa Cor-de-Rosa e a Geopolítica do Corredor Brasil–África–Ásia: uma visão alternativa para o desenvolvimento luso-brasileiro

Resumo

Este artigo explora a hipótese geopolítica do chamado Mapa Cor-de-Rosa, uma estratégia portuguesa de manter um corredor territorial no continente africano, ligando Angola a Moçambique, e sua potencial conexão direta com o Brasil via os portos do Atlântico Sul. Avalia-se como tal corredor poderia ter transformado a dinâmica econômica e política do Brasil e de Portugal, promovendo uma rede integrada de relações comerciais e culturais que ultrapassariam a dependência das rotas controladas pelas potências anglo-saxãs. A análise relaciona-se a conceitos de geoeconomia das conexões, protecionismo qualificado pelas relações sociais e diásporas transatlânticas, destacando a relevância do corredor para o comércio global, inclusive no contexto do Estreito de Malaca e do mercado asiático.

Além disso, o artigo atualiza a análise com a proposta de uma infraestrutura interna brasileira, como uma linha férrea ou rodovia ligando Natal a Salvador, e considera a abertura do Canal do Panamá como um elemento chave para ampliar o mercado atendido pelo Brasil, atingindo a América Andina, a Costa Oeste americana e canadense.

Introdução

No imaginário geopolítico contemporâneo, o Atlântico Sul e o continente africano têm ganhado renovada importância estratégica, sobretudo a partir da expansão econômica da China e da construção da Nova Rota da Seda. Porém, a história luso-brasileira revela tentativas anteriores de consolidar corredores comerciais e territoriais capazes de conectar o Atlântico ao Índico, articulando uma rede de interesses que transcendia o simples colonialismo extrativista.

O chamado Mapa Cor-de-Rosa — uma designação popular para a tentativa portuguesa de unificar seus territórios africanos — representaria uma estratégia de profundidade continental para assegurar a ligação entre Angola e Moçambique. Este corredor teria permitido o controle de uma rota transafricana, que se conectaria ao Brasil pelos portos do Atlântico Sul, abrindo passagem para o comércio até o Estreito de Malaca, via Oceano Índico.

Somado a isso, uma infraestrutura interna brasileira eficiente, como uma linha férrea ou rodovia entre Natal e Salvador, permitiria integrar os portos estratégicos do país, melhorando a circulação de mercadorias e ampliando o alcance comercial brasileiro para mercados da América do Norte e Europa via Atlântico.

Com a abertura do Canal do Panamá, o Brasil teria ainda condições logísticas para atender a demanda da América Andina e da Costa Oeste das Américas, posicionando-se como um hub logístico continental com conexão entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

O Mapa Cor-de-Rosa: Contexto Histórico e Estratégico

Durante o século XIX e início do XX, Portugal buscou garantir a posse contínua entre Angola e Moçambique, enfrentando interesses concorrentes, como os do Reino Unido e da Alemanha. O Mapa Cor-de-Rosa referia-se à tentativa de Portugal de consolidar um corredor de soberania em África, que pudesse garantir a ligação marítima e terrestre entre seus territórios, além de estabelecer uma base sólida para o comércio intercontinental.

Essa estratégia visava assegurar uma posição estratégica privilegiada no Atlântico Sul e Oceano Índico, o que poderia ser utilizado para conectar o Brasil, sua ex-colônia e parceiro econômico, por meio dos seus principais portos atlânticos.

Brasil, Portugal e a Diáspora: Relações Econômicas e Sociais

A presença maciça de emigrantes portugueses no Brasil gerou uma intensa rede de relações sociais, culturais e econômicas, que ultrapassavam o simples vínculo colonial. A remessa de recursos financeiros do Brasil para Portugal, fruto do trabalho dos emigrantes e da prosperidade da economia brasileira, configurava um fluxo econômico que sustentava a economia lusa.

O estabelecimento do corredor territorial africano potencializaria essas trocas, permitindo uma integração econômica maior, com o Brasil atuando não apenas como fornecedor de matéria-prima, mas como um importante ator comercial capaz de exportar e importar produtos via o corredor até o sudeste asiático.

Infraestrutura Logística Nacional: A Linha Férrea ou Rodovia Natal–Salvador

Para que o corredor internacional do Mapa cor-de-rosa atingisse todo o seu potencial, seria fundamental a existência de uma infraestrutura logística interna eficiente no Brasil, capaz de integrar os portos do Atlântico Sul e do Nordeste. Uma linha férrea ou rodovia conectando Natal a Salvador seria crucial para concentrar e distribuir mercadorias de forma rápida e econômica.

Esta ligação facilitaria a circulação de produtos nacionais e importados, criando um fluxo constante entre os centros produtivos e os portos de exportação. Além disso, fortalecendo a integração nacional, essa infraestrutura daria suporte à economia regional e fortaleceria o posicionamento geopolítico brasileiro.

Abertura do Canal do Panamá: Ampliação do Mercado e Conexão ao Pacífico

A abertura do Canal do Panamá em 1914 transformou a logística global ao permitir a passagem direta entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Para o Brasil, integrado a um corredor internacional e contando com uma infraestrutura interna robusta, isso significaria a capacidade de atender mercados além do Atlântico.

Através do Canal, o Brasil poderia acessar com maior eficiência a América Andina — países como Peru, Equador e Bolívia — e a costa oeste dos Estados Unidos e Canadá, mercados dinâmicos e em expansão. Isso transformaria o país em um centro logístico continental, capaz de operar com alcance interoceânico, aumentando seu protagonismo na geopolítica global e na geoeconomia.

Geopolítica e Geoeconomia das Conexões

Mais do que um projeto territorial, o Mapa cor-de-rosa propunha uma rede de conexões geoeconômicas e sociais, onde o protecionismo não se baseava apenas em tarifas e barreiras, mas também em laços culturais, religiosos e de confiança interpessoal, características essenciais para a estabilidade econômica e o desenvolvimento.

Este modelo está em sintonia com conceitos modernos de geoeconomia, que destacam a importância das rotas comerciais seguras e das alianças sociais para o crescimento econômico sustentável. A consolidação do corredor abriria uma rota alternativa ao domínio britânico do Cabo da Boa Esperança e ao controle do Canal de Suez, aumentando a autonomia estratégica de Portugal e Brasil.

A Ligação ao Estreito de Malaca e o Mercado Asiático

O estreito de Malaca é um dos mais importantes canais marítimos do mundo, fundamental para o comércio entre Ásia, África e Europa. Por meio do corredor luso-africano, seria possível estabelecer uma rota marítima eficiente entre Brasil e mercados asiáticos, reforçando a posição do Brasil no comércio internacional.

Este corredor teria antecipado, em décadas, a estratégia hoje adotada pela China na Belt and Road Initiative, demonstrando a relevância da geopolítica das rotas comerciais para o equilíbrio das potências globais.

Conclusão

A hipótese do Mapa cor-de-rosa como corredor territorial e econômico entre Brasil, África e Ásia revela uma alternativa estratégica à dominação anglo-saxã das rotas comerciais globais. Portugal, ao consolidar esse corredor, poderia ter elevado sua condição geopolítica e proporcionado ao Brasil um desenvolvimento econômico mais autônomo e integrado.

Somado a isso, a construção de uma infraestrutura logística interna brasileira eficiente, como uma linha férrea ou rodovia entre Natal e Salvador, aliada à abertura do Canal do Panamá, teria ampliado significativamente o alcance do Brasil no comércio global, possibilitando atender mercados da América do Norte, América Andina, Europa e Ásia.

Além disso, o papel das relações sociais, culturais e das diásporas portuguesas evidencia a importância de um protecionismo qualificado, baseado na confiança e na cooperação, elementos muitas vezes negligenciados nas análises puramente econômicas.

Este artigo convida a uma reflexão sobre a geopolítica das conexões, considerando o passado como inspiração para entender os desafios e oportunidades do presente.

Bibliografia recomendada

  1. Frankopan, Peter. The Silk Roads: A New History of the World. Bloomsbury, 2015.

    • Para entender a importância das rotas comerciais intercontinentais e sua influência na história global.

  2. Newitt, Malyn. A History of Portuguese Overseas Expansion, 1400–1668. Routledge, 2005.

    • Aborda o contexto da expansão portuguesa, incluindo seus territórios africanos.

  3. Ferreira, Roquinaldo. Cross-Cultural Exchange in the Atlantic World. University of North Carolina Press, 2012.

    • Explora as redes de comércio e migração no Atlântico Sul.

  4. Santos, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. Hucitec, 1996.

    • Análise da geografia e do espaço como construção social e econômica.

  5. Rodrigues, Vasco. Portugal, a Geopolítica das Rotas. (Artigo ou capítulo em coletânea sobre geopolítica portuguesa).

    • Para estudos específicos sobre estratégias territoriais portuguesas em África.

  6. Hill, Richard. The Strategic Importance of the Malacca Strait. Asian Survey, 1991.

    • Sobre a relevância do Estreito de Malaca nas relações internacionais.

  7. Chin, Gregory. Geoeconomics and the Role of Connectivity in Global Politics. Journal of Global Studies, 2018.

    • Para compreender a geoeconomia das conexões.

  8. Castells, Manuel. The Rise of the Network Society. Wiley-Blackwell, 2010.

    • A importância das redes sociais e econômicas na formação do poder contemporâneo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário