Resumo:
Este artigo propõe uma reflexão filosófica sobre a dinâmica da ação humana e suas repercussões sociais a partir do conceito polonês de ekonomia koła — a economia da roda. A roda simboliza o movimento circular da vida social e econômica, que se desdobra em dois modos principais: a economia que cola, onde as ações geram efeitos sociais visíveis ou não, e a economia que ecoa, que ressoa na tradição e na verdade, fundamento da liberdade. A compreensão dessa dinâmica se dá por meio da distinção entre três tempos fundamentais: o cronológico, o kairológico e o aiônico.
1. Introdução
A economia, entendida não apenas como disciplina financeira, mas como o gerenciamento das ações humanas e seus efeitos sociais, pode ser reinterpretada por meio da metáfora da roda — ekonomia koła. Essa roda gira e produz diferentes tipos de efeitos: aqueles que “colam” na realidade social e aqueles que “ecoam” na tradição, fundamentando valores perenes.
Para entender essa dinâmica, é essencial compreender como a ação humana se insere em diferentes temporalidades: o tempo linear e quantitativo, o momento qualitativo certo e o tempo eterno da tradição.
2. A Economia da Roda e seus Desdobramentos
2.1 Economia que Cola
A economia que cola é a esfera das ações humanas que geram efeitos sociais concretos, visíveis no tempo imediato. No contexto jurídico brasileiro, por exemplo, nem toda lei “cola” — isto é, nem toda norma se efetiva plenamente, em parte por condições sociais, políticas e culturais que interferem na aplicação da norma. Essa economia revela a complexidade da eficácia dos atos humanos, que dependem do contexto para “pegar” ou “não pegar”.
2.2 Economia que Ecoa
A economia que ecoa transcende o momento imediato, conectando-se a uma tradição mais antiga e profunda. Ela representa os valores e a verdade que sustentam a liberdade real. O ecoar remete à reverberação histórica e espiritual das ações humanas, mostrando que o sentido maior da economia reside em seu alinhamento com princípios eternos e perenes.
3. Os Três Tempos Fundamentais
3.1 Tempo Cronológico (Chronos)
O tempo cronológico é o tempo medido, linear, do relógio e do calendário. É o tempo da rotina, do cotidiano, onde as ações são sequenciadas e registradas.
Referência:
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McTaggart, J. M. E. (1908). The Unreality of Time. Mind.
3.2 Tempo Kairológico (Kairos)
O tempo kairológico é o tempo do momento oportuno, da ocasião exata para que a ação produza o efeito desejado. É um tempo qualitativo, marcado pela “oportunidade”. O ato pode acontecer no tempo cronológico, mas só terá força se acontecer no kairos.
Referência:
-
Moltmann, Jürgen. (1972). Theology of Hope (considerações sobre Kairos e Chronos na teologia).
-
Foucault, Michel. (2001). The Order of Things (discussão sobre tempo e eventos).
3.3 Tempo Aiônico (Aiôn)
O tempo aiônico representa a eternidade, a continuidade que transcende o tempo linear, associada à tradição, à verdade perene e à liberdade verdadeira. É o tempo que ecoa, trazendo sentido e fundamento à existência e às ações humanas.
Referência:
-
Marion, Jean-Luc. (2002). Being Given: Toward a Phenomenology of Givenness.
-
Taylor, Charles. (1989). Sources of the Self: The Making of the Modern Identity (sobre tradições e identidade).
4. Integração dos Tempos na Ekonomia Koła
A roda da economia humana não gira apenas no tempo linear, mas se expande para o kairos — o momento certo — e se ancora no aiôn — o eterno. Assim, a ação humana deve ser compreendida em sua complexidade temporal para entender seus efeitos sociais (economia que cola) e seu impacto na tradição e liberdade (economia que ecoa).
5. Considerações Finais
A compreensão da ekonomia koła por meio da tríade dos tempos nos permite interpretar a economia humana como um processo vivo, dinâmico e profundo, que conecta o imediato, o oportuno e o eterno. Esta perspectiva pode contribuir para uma reflexão mais ampla sobre as leis, ações sociais e sua efetividade na construção de uma sociedade livre e fundamentada na verdade.
Bibliografia Recomendada
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McTaggart, J. M. E. (1908). The Unreality of Time. Mind.
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Moltmann, Jürgen. (1972). Theology of Hope.
-
Foucault, Michel. (2001). The Order of Things.
-
Marion, Jean-Luc. (2002). Being Given: Toward a Phenomenology of Givenness.
-
Taylor, Charles. (1989). Sources of the Self: The Making of the Modern Identity.
-
Ricoeur, Paul. (1984). Time and Narrative.
-
Agamben, Giorgio. (2007). Time and History.
-
Schmitt, Carl. (2005). Political Theology.
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