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sábado, 24 de maio de 2025

Sobre uma conversa que tive com meus amigos poloneses

Hoje, conversando com alguns amigos poloneses, percebi mais uma vez o quão abissal é a distância entre a realidade que vivemos no Brasil e aquela que eles experimentam na Polônia. A pergunta, aparentemente inocente, que me fizeram foi: “Você costuma sair no seu tempo livre?” Uma pergunta simples, quase automática, que qualquer pessoa faria a um amigo. Mas, para mim, responder a isso não é tão simples assim.

Expliquei a eles que, desde que o ministro Fachin, do Supremo Tribunal Federal, proibiu a Polícia Militar de subir os morros do Rio de Janeiro para reprimir o tráfico de drogas, minha rotina mudou drasticamente. Disse a eles que hoje só saio de casa se for por absoluta necessidade. Afinal, quando o Estado se ajoelha diante do crime organizado, quem vive sob esse Estado se vê obrigado a adotar uma espécie de lei marcial privada, uma prudência extrema que substitui a proteção que deveria ser garantida pelas instituições.

Mas não é só isso. Acrescentei que, desde que Lula — aquele que, por três vezes, foi imposto à nação como presidente — declarou, sem pudor, que a democracia no Brasil “se tornou relativa”, eu tomei uma decisão solene diante de Deus e da minha própria consciência: não descansar até que esses tiranos caiam.

Expliquei a eles que trabalho dobrado — e às vezes triplicado — porque entendo que cada linha que escrevo, cada estudo que aprofundo, cada ideia que lapido, é parte de uma batalha muito maior. Uma batalha não apenas contra pessoas, mas contra um sistema inteiro de mentiras, manipulações e perversões que sequestrou o meu país.

Notei, ao dizer isso, que eles ouviram com um misto de surpresa e espanto. Na Polônia, eles sabem o que é lutar contra tiranias. A história deles é um testemunho disso. Mas talvez não imaginassem que, no Brasil, a luta pela liberdade assumiu formas tão bizarras, tão grotescamente disfarçadas de normalidade democrática.

O mais curioso foi perceber que, enquanto para eles a pergunta sobre lazer tem a ver com qualidade de vida, para mim essa pergunta imediatamente me transporta para o campo da sobrevivência e da resistência. Aqui, no Brasil, “tempo livre” se tornou quase um luxo. E, para quem leva a sério sua missão histórica, até o lazer se converte em trincheira.

No fim das contas, essa conversa serviu para algo que tenho aprendido cada vez mais: viver no Brasil hoje é, antes de qualquer coisa, um ato de resistência. E essa resistência, no meu caso, se faz sobretudo com a cabeça, com a palavra e com a recusa obstinada de aceitar a mentira como horizonte possível.

Por isso, sigo. Sigo trabalhando, sigo escrevendo, sigo lutando. E sigo explicando, aos que estão longe, que o Brasil de hoje não é para amadores — muito menos para covardes.

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