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quarta-feira, 28 de maio de 2025

⚜️Quando a linguagem se torna uma cruz e uma coroa: o polonês, nos méritos de Cristo

Em 2015, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, uma inquietação começou a brotar em meu coração. Enquanto para muitos aquele evento foi uma celebração transitória, para mim tornou-se um chamado permanente — um convite que não vinha apenas de uma terra distante, mas de algo muito maior: do próprio Cristo.

Ali, diante da fé vibrante de um povo marcado pela cruz e pela esperança, percebi que não poderia sair dali o mesmo. Algo dentro de mim sussurrava — ou melhor, gritava — que era preciso atravessar a ponte que separava minha cultura da deles. E essa ponte tinha um nome: o idioma polonês.

✝️ A difícil arte de amar o difícil

Se o mundo moderno é marcado pela busca incessante do fácil, do acessível, do imediato, minha alma, guiada pela graça, escolheu o caminho oposto. Enquanto muitos se intimidam diante da muralha fonética que é o polonês — com suas consoantes agrupadas, seus sons nasais e suas flexões aparentemente infinitas —, eu me apaixonei justamente por essa dificuldade.

Aqui, lembro de Higuita — o lendário goleiro colombiano, que não buscava defesas simples, mas se especializou naquelas consideradas impossíveis. Tal como ele se jogava no ar para executar seu famoso “escorpião”, eu me lanço diariamente sobre a dificuldade gramatical, sobre a pronúncia que desafia a lógica latina, sobre os nomes que parecem uma sequência aleatória de consoantes.

Mas não é amor ao desafio por vaidade. É por amor a Cristo e àquele povo que o honrou com tanto sangue, suor e oração.

⚔️ A linguagem como combate espiritual

Aprender polonês não é apenas um ato intelectual. É um combate. Cada vez que pronuncio corretamente um nome como Rzepczyński, Leciejewski, Szczęsny, Krzysztof, ou Przemysław, é como se estivesse, simbolicamente, desarmando uma trincheira, vencendo uma resistência, tomando uma posição.

Enquanto muitos tropeçam na dificuldade e desistem — seja por preguiça, seja por não entenderem que o difícil é também caminho de santificação —, eu me aproximo. Porque a dificuldade, quando abraçada nos méritos de Cristo, deixa de ser obstáculo e passa a ser degrau.

🇵🇱 O povo da cruz, a língua da coragem

A Polônia não é uma nação qualquer. É uma nação moldada pela cruz. Dividida, ocupada, rasgada por guerras, traída por potências, mas nunca derrotada espiritualmente. O idioma polonês carrega essa história. Ele não é fácil — porque também não foi fácil ser polonês ao longo dos séculos.

Falar polonês é, de certo modo, fazer comunhão com gerações que se ajoelharam diante da cruz, que rezaram terços escondidos, que cantaram hinos proibidos, que juraram fidelidade a Cristo, à Virgem Maria e à sua pátria.

Por isso, cada nome que aprendo, cada declinação que domino, cada fonema que consigo emitir corretamente é um ato de comunhão — não apenas com uma cultura, mas com uma espiritualidade.

Quando a língua vira oração

Ao contrário do que o mundo pensa, aprender línguas não é apenas decifrar códigos. É entrar no espírito de um povo. E quando esse povo é a Polônia — terra de santos como João Paulo II, Santa Faustina e Maximiliano Kolbe —, então aprender sua língua é também aprender sua mística.

A cada vez que consigo dizer corretamente “Dzień dobry”, “Niech będzie pochwalony Jezus Chrystus” (Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo), ou cantar um hino mariano em polonês, percebo que a linguagem se converteu em oração, que o verbo se fez carne na minha boca, na minha inteligência, na minha memória, no meu afeto.

🏆 Conclusão: o mérito está na cruz, não na facilidade

Enquanto o mundo busca o fácil, eu — nos méritos de Cristo — escolho o difícil. Porque foi também o difícil que Cristo escolheu quando carregou a cruz. Se amar é tomar a cruz do outro, aprender polonês é, para mim, tomar um pedaço da cruz desse povo que tanto ensinou à humanidade sobre a fidelidade, sobre a resistência e sobre o amor que não se rende.

Assim como Higuita via na defesa impossível sua vocação esportiva, eu vejo nos nomes difíceis — como Rzepczyński, que de tão impronunciável ganhou o apelido de “Scrabble” no beisebol americano — uma vocação espiritual, cultural e linguística.

É um caminho de poucos. Mas é um caminho que leva à liberdade — não a liberdade fácil, barata, moderna —, mas àquela que vem da verdade. Porque, como ensinou Cristo, “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8,32)

E, por isso, digo com convicção:
Nos méritos de Cristo, até os nomes impossíveis se tornam caminho de salvação.

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