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sexta-feira, 2 de maio de 2025

Como os programas de fidelidade estão revolucionando a carreira jurídica no Brasil - notas sobre o surgimento do advogado caçador de recompensas

Durante décadas, o vínculo do advogado com sua seccional da OAB era determinado, acima de tudo, pela geografia. O local onde o profissional residia ou atuava definia seu território institucional — com pouca margem de escolha real sobre as condições a que estaria sujeito. Mas essa lógica está mudando.

Com o avanço de plataformas como Alloyal, Livelo e outras soluções integradas aos conselhos profissionais, as seccionais da OAB passaram a oferecer programas próprios de fidelidade, que permitem ao advogado obter cashback, milhas, pontos de desconto ou até mesmo isenção da anuidade. O que era um custo fixo se torna, com planejamento, uma oportunidade de economia — ou até de retorno financeiro.

Essa transformação tem implicações profundas. Ao perceber que uma seccional oferece mais vantagens do que outra, muitos advogados têm buscado inscrições suplementares em estados diferentes daquele onde atuam. A motivação, agora, não é apenas processual ou estratégica. É econômica e empreendedora. Está nascendo um novo perfil de profissional do Direito: o advogado caçador de recompensas.

Uma revolução silenciosa

Esse movimento sinaliza uma reconfiguração no vínculo entre o advogado e sua instituição de classe. A territorialidade cede espaço à competitividade institucional. Se a OAB de Minas Gerais, por exemplo, oferece um programa robusto de cashback via Alloyal, enquanto a OAB de outro estado oferece pouco ou nada, o advogado pode decidir diversificar sua presença e atuação em busca do melhor retorno.

Mais do que uma escolha de foro, trata-se de uma estratégia de gestão de carreira. O advogado se torna gestor da própria filiação, utilizando os benefícios institucionais como ferramentas de planejamento financeiro.

O retorno do espírito das guildas — com um toque digital

Essa tendência remonta, de certa forma, ao modelo das guildas medievais: associações de ofício que protegiam os interesses de seus membros, fornecendo suporte, instrução e rede de solidariedade. A novidade é que, agora, essa rede é digital, geograficamente fluida e baseada em consumo inteligente.

Assim como os mestres de ofício medievais circulavam entre cidades para participar de feiras e buscar melhores condições, o advogado moderno pode circular entre seccionais para buscar melhores programas, menores anuidades, mais oportunidades. A fidelidade à instituição se torna proporcional ao que ela entrega ao profissional. É o fim do modelo estático e o surgimento de uma advocacia mais dinâmica, móvel e estratégica.

Desafios e oportunidades

Essa revolução também apresenta desafios para a própria OAB. Se a instituição pretende manter a fidelização de seus membros, precisará investir mais em tecnologia, integração de sistemas e políticas de vantagem competitiva. A desigualdade entre seccionais pode provocar um êxodo de talentos ou, no mínimo, uma multiplicidade de filiações que desafia o modelo atual de organização.

Para os advogados, por outro lado, abre-se um campo fértil: gestão estratégica da carreira com base em inteligência financeira. Não basta mais apenas advogar bem. É preciso entender de plataformas, programas de benefício, redes de consumo e mobilidade institucional.

Conclusão

Estamos testemunhando uma revolução silenciosa na advocacia brasileira. Aquela figura estática, presa à jurisdição local e à fidelidade cega à sua seccional, está dando lugar a um profissional tático, inquieto e financeiramente engajado. O advogado do futuro talvez seja menos um operador solitário do Direito e mais um empreendedor da própria trajetória jurídica — conectado, recompensado e em constante movimento.

 

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