Por mais de um século, a ideia de ser brasileiro esteve presa ao molde cartográfico construído por militares positivistas. Desde a proclamação da república, o conceito de nação foi progressivamente esvaziado de qualquer transcendência, reduzido a um exercício burocrático de pertencimento geográfico. O cidadão era, assim, um número atrelado a uma jurisdição fixa, uma peça imóvel num grande tabuleiro federativo.
Mas algo está mudando — silenciosamente, nas bordas da prática profissional, especialmente no universo da advocacia.
O surgimento de programas de fidelidade e mobilidade institucional, como o Alloyal, que permite ao advogado obter vantagens concretas ao se vincular a diferentes seccionais da OAB, tem provocado uma transformação profunda no modo como se enxerga a atuação jurídica e, mais do que isso, no modo como se compreende o próprio pertencimento ao Brasil.
O advogado peregrino e a nação como vocação
Hoje, o advogado que compreende os mecanismos da mobilidade digital e institucional não mais se vê como um operário do Direito confinado ao seu estado de origem. Ele se movimenta. Ele busca oportunidades, vantagens e conexões onde elas se apresentarem — fazendo do território nacional um campo de missão e de trabalho, não uma prisão cartográfica.
Esse novo tipo de profissional lembra, em sua essência, a figura do peregrino cristão, que percorre terras diferentes não por capricho, mas por vocação. Cada seccional da OAB deixa de ser apenas um ponto fixo no mapa e passa a ser uma porta aberta para o serviço. A anuidade que antes pesava como tributo, agora é vista como investimento estratégico — e, em alguns casos, até como uma oportunidade de retorno financeiro.
Um novo Brasil: por Cristo, em Cristo, para Cristo
Se a verdadeira nacionidade não é definida pela terra em que se nasce, mas pelo compromisso assumido com a verdade e com a missão, então o brasileiro autêntico é aquele que toma todos os estados da federação como um mesmo lar, por Cristo, em Cristo e para Cristo. Trata-se de uma unidade espiritual antes de ser política, de um vínculo de serviço antes de ser uma inscrição registral.
Essa compreensão derruba o ideal positivista, que sempre associou nacionalidade à submissão ao poder central, ao passo que exalta uma brasilidade fundada no serviço e na lealdade à missão universal da justiça e da verdade. A mobilidade do novo advogado não é apenas tática: é profética. Ele sinaliza o esgotamento de um modelo de cidadania passiva e o nascimento de um novo sujeito — o cidadão-jurista-peregrino, ao mesmo tempo empreendedor e servidor.
O colapso do determinismo geográfico
Ao explorar as vantagens oferecidas por diferentes seccionais, o advogado revela o colapso de um modelo de organização institucional baseado na rigidez territorial. A seccional, agora, precisa conquistar o advogado, não mais apenas recebê-lo. O profissional, por sua vez, adquire autonomia: pode escolher onde investir, onde crescer, onde servir melhor.
Esse movimento, que se inicia na prática jurídica, pode inspirar outras profissões e instâncias organizacionais do país. Ele aponta para uma redefinição mais espiritual, mais vocacional e mais prática da ideia de Brasil. Um país, afinal, não é um mapa: é uma comunidade de almas em serviço, conectadas por um mesmo ideal de justiça, verdade e liberdade.
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