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sábado, 10 de maio de 2025

Cantando em línguas: O exemplo de Ritchie e meu esforço na língua polonesa

Aprender uma nova língua sempre foi, para mim, mais do que um desafio intelectual: é um exercício de humildade, um ato de escuta e um gesto de respeito. Quando comecei a estudar o idioma polonês, não foi por acaso nem por curiosidade exótica. Foi um chamado interior, uma intuição que cresceu com o tempo — talvez uma daquelas intuições que nascem quando a alma reconhece uma terra distante como potencial lar espiritual.

O caminho não tem sido fácil. A gramática polonesa é complexa, a pronúncia exige esforço e o vocabulário, distante do meu idioma materno, às vezes parece intransponível. No entanto, algo me sustenta nesse percurso: o exemplo de pessoas que ousaram se expressar em línguas que não lhes pertenciam por nascimento, mas que fizeram delas instrumentos de amor e comunicação. Entre esses exemplos, destaca-se o do cantor britânico Ritchie.

Ritchie, nascido na Inglaterra, alcançou sucesso no Brasil cantando em português, língua que não era sua. Seu hit "Menina Veneno" se tornou um clássico, atravessando gerações e conquistando o coração de milhões. O que me impressiona, no entanto, não é apenas o sucesso comercial, mas a entrega sincera e respeitosa à cultura brasileira. Ele não cantou em português por conveniência, mas porque escolheu habitar aquela linguagem — e, de certo modo, aquele povo.

Ao escrever e traduzir meus textos para o polonês, vejo-me em algo semelhante. Não sou cantor, mas tento afinar minha voz ao espírito da língua que estou aprendendo. Cada frase que traduzo, cada palavra que escolho com cuidado, é um gesto de aproximação. Busco não apenas fazer-me entender, mas tocar, ainda que de forma sutil, o imaginário daquele povo. Afinal, escrever é também cantar — é dar forma à alma pelas palavras.

Muitos poderiam perguntar: por que o polonês? A resposta, embora envolta em múltiplas camadas de sentido, tem raízes espirituais. A Polônia foi o lar de São João Paulo II, um dos maiores santos e pensadores de nosso tempo. É uma nação marcada por sofrimentos profundos e resistências heroicas, por fé inabalável e amor à liberdade. Traduzir meu conteúdo para o polonês é, portanto, também um ato de comunhão. É dizer: “Quero partilhar com vocês o que de melhor eu recebi. Quero caminhar junto.”

O exemplo de Ritchie me ensina que não é preciso nascer num lugar para pertencer a ele. Às vezes, é a fidelidade aos dons que recebemos, somada ao esforço de bem utilizá-los, que nos integra de forma mais profunda a uma cultura. E se a arte de viver bem é, como dizia São Bento, uma escuta constante do que o Senhor pede de nós em cada tempo e lugar, então que seja em polonês — ou em qualquer outra língua — que essa resposta se manifeste, com verdade, amor e beleza.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2025 (data da postagem original).

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