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| Ptaxman: Herói sem nenhum caráter do fisco e do Estado brasileiro |
Num país onde tudo vira piada — até mesmo a carga tributária —, nasceu uma figura tão improvável quanto real: Ptaxman, o homem-pássaro cobrador de impostos. Seu nome vem da junção de ptak (palavra polonesa para "pássaro") com a temida sigla PTAX, a taxa de câmbio de referência usada pelo Banco Central do Brasil. Mas essa figura voadora não anuncia liberdade: ele anuncia a cobrança.
Mais que um trocadilho, o Ptaxman é um símbolo do nosso tempo: um herói macunaímico, um trickster da política monetária. Meio homem, meio ave, veste terno amassado, sandálias nos pés e leva sob a asa uma pasta com as siglas SELIC, IPCA, Dólar Futuro e a PTAX — sua principal arma. Com uma pena de pavão, ele autografa boletos e extrai tributos com malícia institucionalizada.
O que é PTAX?
A PTAX é uma média das cotações do dólar apuradas pelo Banco Central em quatro janelas diárias. Serve como referência para contratos futuros de câmbio e instrumentos financeiros. No entanto, no imaginário popular — especialmente após 2020 — ela se tornou o ícone do câmbio fora da realidade, uma cifra flutuante que impacta importações, exportações e o bolso do trabalhador.
Se o spread bancário é o monstro invisível do sistema financeiro, o Ptaxman é sua caricatura humanizada: um servidor flutuante, tão etéreo quanto os números que manipula, mas com impacto real na vida de quem precisa comprar arroz, gasolina ou livros importados.
Ptaxman e a perseguição global ao contribuinte no mundo todo
Enquanto países como o Paraguai adotam uma abordagem territorial na tributação — ou seja, só cobram imposto sobre renda gerada dentro do território nacional —, o Ptaxman representa o oposto: o modelo fiscal de residência.
Ele vai atrás do contribuinte onde quer que ele esteja. É onipresente, vigilante, incansável. Por isso tem asas: não são símbolo de liberdade, mas de perseguição tributária transnacional. Ele cruza fronteiras como quem cruza planilhas. Para o Ptaxman, a única pátria é a base de dados da Receita Federal.
Macunaíma da Era Financeira
Como o personagem de Mário de Andrade, o Ptaxman é um "herói sem nenhum caráter". Ele representa o lado tragicômico da nossa tecnocracia: gente que sabe muito, mas faz pouco — ou pior, aplica sua inteligência para capturar valor do povo em vez de gerar valor para ele.
Ele é aquele funcionário público que fala em "arbitragem fiscal", mas vive do contracheque; é o influenciador liberal que detesta imposto, mas nunca nega uma emenda parlamentar; é o empreendedor de fintech que só empreende com dinheiro público.
Macunaímico, ele não assume lados: um dia vota pela meritocracia, no outro pela manutenção de incentivos. Seu patriotismo é cotado em dólar e seu domicílio fiscal é uma abstração flutuante entre Brasil, Delaware e Varsóvia.
O Ptaxman e o Ptakman: dois pássaros, duas éticas
Se existe um contraponto ao Ptaxman, talvez seja o Ptakman — o homem-pássaro sonhador, aquele que busca alçar voo pela cultura, pela arte, pelo conhecimento e pela liberdade. Ptakman é aquele que, ao aprender que ptak significa "pássaro", relaciona isso ao câmbio para construir pontes de entendimento, não para explorá-las.
O Ptaxman, por outro lado, está preso a planilhas. Suas asas são seladas por selos fiscais. Ele não voa para expandir horizontes, mas para fiscalizar de cima, como uma rapina do Estado burocrático. É o anjo torto da Receita, o tecnocrata que cita Foucault no happy hour e cobra juros compostos com compaixão neoliberal.
Conclusão
O Ptaxman é mais do que uma caricatura: é o espelho risonho e cruel de um país que transformou a burocracia em religião e a tributação em destino. Num Brasil onde a esperança paga imposto e a criatividade vira débito fiscal, o Ptaxman reina — com sua pena de pavão, seu terno torto e sua pasta cheia de siglas.
Rir dele é rir de nós mesmos. Mas também é lembrar que ainda há espaço para o voo do Ptakman — aquele que busca, além da taxa média ponderada do dólar, o sentido da existência em um mundo mais justo, mais belo e menos tributado.

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