Pesquisar este blog

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Os graus da emeritude: da nobreza conquistada através do trabalho e da ação do tempo

Em tempos de ceticismo moral e confusão simbólica, torna-se necessário recuperar certas palavras e restaurar-lhes o brilho perdido. Uma dessas palavras é emeritura. Comum nos ambientes acadêmicos, jurídicos ou eclesiásticos, o termo designa a honra concedida a quem encerra sua atividade formal após anos de dedicação. Mas, sob o véu técnico, esconde-se algo mais profundo: um título de nobreza conquistada — não herdada — pelo mérito de uma vida oferecida ao serviço, ao dever e à excelência.

Neste ensaio, propomos entender a emeritura como uma forma simbólica de nobreza civil e moral, e identificar nela dois graus fundamentais: o da libertação da servidão e o da dignidade alcançada pela velhice honrada.

O Trabalho como caminho de enobrecimento

A dignidade do ser humano se realiza plenamente quando ele participa da ordem do mundo com liberdade e responsabilidade. O trabalho, longe de ser mera sobrevivência, é um meio de santificação — tanto pessoal quanto social. Na tradição cristã e na ética clássica, trabalhar é cooperar com Deus, cultivar a terra, ordenar o tempo, formar-se como pessoa.

Quem trabalha com constância, honestidade e virtude não apenas "vive do próprio esforço", mas constrói um capital moral invisível, que vai se acumulando ao longo dos anos como uma riqueza silenciosa. Esse capital — que poderíamos chamar de capital de dignidade — é a matéria da qual se faz a emeritude.

O Primeiro Grau da Emeritude: da Servidão à Cidadania

Nos tempos antigos, a maior honra que alguém poderia receber era a liberdade conquistada. O servo, sem autonomia sobre seu corpo ou seu tempo, vivia à sombra de outros. Sua passagem à condição de homem livre não era apenas um ato jurídico — era uma transformação ontológica, um renascimento.

Esse momento marca o primeiro grau da emeritude: quando alguém deixa de ser instrumento e passa a ser sujeito. Essa libertação pode ocorrer de várias formas: o ex-escravo manumitido; o trabalhador que alcança sua independência; o estudante pobre que vence os obstáculos e se forma; o exilado que conquista cidadania. Em todos esses casos, a pessoa deixa de ser propriedade ou estatística e se torna alguém dotado de honra social.

Esse grau é o fundamento de toda nobreza verdadeira: ninguém é nobre se antes não é livre — e ninguém é livre sem antes ter lutado por sua liberdade.

O Segundo Grau da Emeritude: da Juventude à Velhice Honrada

O tempo, por si só, não torna ninguém nobre. Mas o tempo vivido com sabedoria, paciência e entrega transforma o homem. Quando alguém atravessa os anos com fidelidade ao seu dever e chega à velhice com a alma íntegra, atinge o segundo grau da emeritude.

Esse é o grau da sabedoria silenciosa, do conselho prudente, da autoridade sem imposição. O idoso virtuoso carrega no rosto os traços de suas escolhas, nas mãos os sulcos do esforço, e nos olhos a memória de quem viu e compreendeu. A sociedade que despreza seus anciãos despreza a própria possibilidade de se tornar sábia.

Ser velho não é mérito. Mas ser velho com honra é. E é isso que define o emérito em seu segundo grau: alguém que, tendo sido livre e responsável, perseverou até o fim com dignidade.

A Nobreza da Emeritude

Se a antiga nobreza era marcada por brasões e heranças de sangue, a emeritura marca a nobreza do caráter. Não há coroas nem castelos, mas há memória, respeito e lugar de honra. Não se trata de um título concedido, mas de um título revelado: a vida inteira se transforma em insígnia.

A emeritura, portanto, é uma forma moderna, espiritual e civil de aristocracia. Ela não se transmite por genealogia, mas se conquista pelo esforço silencioso e pelo testemunho contínuo. É o reconhecimento de que o trabalho bem feito e o tempo bem vivido são fontes legítimas de grandeza.

Conclusão: ser emérito é ser nobre

Ser emérito é ser nobre. Não nobre segundo os critérios do mundo, mas segundo os critérios da eternidade. A emeritude é o selo posto sobre aqueles que não fugiram ao peso da liberdade nem ao fardo dos anos.

E é por isso que, em tempos de superficialidade e pressa, devemos restaurar o valor da emeritura como modelo de vida e símbolo de esperança. Pois ela nos lembra que o verdadeiro prestígio não se compra, nem se impõe — conquista-se, degrau por degrau, com suor, fidelidade e amor ao bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário