Houve uma sexta-feira em que o tempo me favoreceu. Não havia aula na Faculdade de Direito da UFF, e eu não tinha expediente no estágio na Procuradoria Geral do Estado naquela ocasião. Ao final do dia, o Rio parecia me sorrir de leve — o sol já pendia dourado no céu, a violência ainda não havia tomado conta de tudo, e no bolso eu trazia o fruto limpo do meu trabalho. Para a função que eu exercia, o salário era mais que justo. Eu podia, pela primeira vez em semanas, pensar apenas em mim.
E foi exatamente isso que fiz. Pensei: hoje eu saio. Hoje eu não vou apenas voltar pra casa e mergulhar nos livros ou na solidão ordenada do cotidiano. Hoje quero alguém ao meu lado. Não por vaidade ou capricho, mas por aquela sede legítima de partilhar um momento — uma mesa de bar, um copo de refrigerante, uma conversa verdadeira, talvez um sorriso que dissesse "que bom estar aqui com você".
Então, fiz uma lista. Cinco nomes. Cinco moças por quem eu nutria carinho, admiração ou mesmo um tipo sutil de esperança. Convidei-as, uma a uma, com toda a simplicidade e sinceridade que a ocasião permitia.
Todas elas declinaram do convite.
Não foi um escândalo. Nenhuma foi ríspida comigo. Mas a recusa veio em todas as vozes, e o que restou, ali, naquela sexta-feira que deveria ter sido luminosa, foi uma sombra comprida de tristeza. Eu tinha dinheiro, eu tinha tempo, o Rio me oferecia segurança rara — e, no entanto, ninguém quis estar comigo. Foi talvez o dia mais triste da minha juventude adulta.
Hoje, olhando para trás, penso: se existisse algo como o Amal Date, eu teria feito uma assintatura do serviço. Através da bolsa do estágio, eu poderia encontrar uma moça daqui da própria cidade que já tivesse boas relações comigo, alguém com quem conversar não fosse um esforço, mas um prazer. Se eu morasse sozinho — e se soubesse dirigir um carro — talvez ela passasse até o fim de semana comigo. E eu a levaria de volta, sã e salva, grato pela chance de ter vivido algo significativo.
Talvez começássemos um namoro. Talvez apenas guardássemos a memória de um bom dia.
Mas naquela sexta-feira, não houve bar, não houve conversa, não houve ninguém com quem partilhar um bom momento. Apenas a constatação de que, por mais que a vida pareça em ordem, o coração às vezes tropeça num vazio que não se explica facilmente.
Ainda assim, fui fiel a mim mesmo. E isso — hoje sei — vale mais do que qualquer companhia forçada.
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