Pesquisar este blog

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Emeritude: a santificação conquistada através do trabalho

Na língua portuguesa, o termo aposentadoria carrega uma carga semântica que, em muitos aspectos, revela um certo desprezo cultural pelo valor do trabalho e pelo envelhecimento digno. A palavra “aposentado” evoca a imagem de alguém encerrado em um “aposento” — um quarto, muitas vezes em condição de invalidez ou inutilidade social —, sendo cuidado por parentes como quem já cumpriu o seu papel e agora apenas espera o fim. Essa concepção tem raízes históricas e sociais profundas, mas não expressa a grandeza que pode haver na última fase da vida produtiva de uma pessoa.

Em contraste, a língua polonesa oferece um termo que ilumina essa realidade sob uma perspectiva mais elevada: emerytura (emeritude). O emérito, no contexto polonês, não é um inválido, mas alguém que encerra sua fase de trabalho regular para se dedicar com mais liberdade a projetos de vida pessoal, projetos que muitas vezes expressam aquilo que é mais íntimo e verdadeiro em seu chamado. O emérito é, por definição, alguém que conquistou a liberdade interior através do trabalho fiel. Ele não abandona a atividade, mas passa a atuar de outro modo, em outro ritmo, sem as amarras do sistema laboral. Ele é, por assim dizer, um servo agora livre para servir com mais profundidade.

Essa diferença não é apenas linguística. Ela revela visões opostas de dignidade humana. Na tradição cristã, sobretudo na católica, o trabalho é visto como um instrumento de santificação. Desde os primeiros monges do deserto, passando pela Regra de São Bento até a doutrina social da Igreja expressa em encíclicas como Rerum Novarum e Laborem Exercens, o labor é uma forma de participar na criação de Deus. Trabalhar com justiça, honestidade e diligência não é apenas um dever social — é uma forma de culto, de oração, de maturação espiritual.

Sob esse olhar, a emeritude não é uma retirada do mundo, mas uma espécie de colheita espiritual. É o tempo em que a pessoa, tendo servido ao bem comum com suas mãos, sua inteligência e sua vocação, passa agora a servir com mais liberdade, sem a pressão da sobrevivência, dos horários rígidos ou das exigências institucionais. O emérito se santificou tanto através do trabalho, que agora possui autoridade sobre sua liberdade. Nos méritos de Cristo, ele é livre para realizar obras maiores, que muitas vezes só podem ser feitas quando o tempo volta a ser seu.

Aqui entra uma poderosa metáfora: o aposentado, tal como é culturalmente concebido, tende a se tornar uma ibirapuera — uma árvore velha, superada, que se mantém de pé mais como símbolo do passado do que como semente de futuro. Já o emérito é uma ibirarama: embora também antiga, essa árvore frutifica sabedoria. Suas raízes profundas alimentam uma floresta de virtudes, e seus frutos são exemplos vivos que inspiram novas gerações. Ela não está morrendo; está germinando em outros. O emérito, com sua autoridade moral e experiência santificada, gera discípulos não por imposição, mas por atração, pela força silenciosa da coerência e da paz que conquistou.

Sua nova condição social, longe de ser um repouso estéril, é promissora em termos salvíficos. Ele pode agora dedicar-se com mais afinco à oração, à formação dos mais jovens, ao aconselhamento, ao ensino informal, à caridade — todas formas de trabalho redentor. A emeritude é o estado de quem, tendo cumprido o dever, agora pode escolher o bem com mais liberdade, e portanto com mais amor.

Além disso, a emeritude não está necessariamente ligada à velhice. Um jovem que, por uma combinação de talento, esforço e graça divina, consegue conquistar a liberdade financeira e interior para se dedicar a projetos superiores, também pode ser chamado de emérito. É alguém que não trabalha mais por necessidade, mas por missão.

Recuperar o uso da palavra emeritude é, portanto, um gesto de resistência contra a cultura do descarte. É uma forma de restaurar a dignidade do tempo livre conquistado com justiça, não como uma preparação para a morte, mas como um tempo fértil para a vida verdadeira. A emeritude é o estado de quem, tendo sido fiel no pouco, agora pode ser fiel no muito. Afinal, quem trabalhou nos méritos de Cristo, com Cristo e por Cristo, chega ao fim do caminho com os olhos voltados para o alto e os pés firmes na terra. Não se aposenta: emerge como servo livre e fonte viva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário