O Poder do Ensino: quando a verdadeira História do Brasil toca o coração de um Pai
Para Olavo de Carvalho, exercer poder é influir nas decisões de outra pessoa. Não se trata de coerção, domínio ou manipulação, mas de algo mais profundo: a capacidade de mover o espírito de alguém por meio da inteligência, da verdade e da autoridade moral. Neste sentido, contar a história que vivi com meu pai é testemunhar um raro e verdadeiro exercício de poder — não nas estruturas do Estado, mas no âmago da alma humana.
Durante anos, ensinei História do Brasil ao meu pai. Não como um professor acadêmico, nem com intenções políticas diretas, mas como um filho que encontrou na verdade histórica algo digno de ser compartilhado com aquele que lhe deu a vida. Nosso diálogo não foi sempre fácil, mas foi contínuo. Com paciência, fui introduzindo fatos, argumentos, interpretações — especialmente sobre o Brasil Império e a riqueza de nossa herança monárquica, tantas vezes ocultada ou deturpada nos currículos escolares.
Com o tempo, algo mudou. Aquilo que era escuta curiosa passou a ser convicção. Meu pai tornou-se monarquista. E mais: nos feriados ligados à memória do Império do Brasil, ele fazia questão de pendurar, com reverência, a bandeira verde e amarela com o brasão imperial ao centro. Aquele gesto, repetido com constância até o fim de sua vida, era mais que um ato cívico — era o sinal de que a História havia germinado em seu coração.
Ali compreendi o que é verdadeiramente ter poder. Não me impus sobre ele. Não o venci por argumentos forçados ou táticas emocionais. Apenas fui, por anos, o professor de História que ele não teve na juventude. Ensinar ao próprio pai é uma inversão simbólica poderosa: é como se o tempo se dobrasse para reparar uma carência, uma omissão formativa de décadas atrás. É como se a paternidade se deixasse renovar por um sopro de sabedoria vindo do próprio filho.
Este é o único episódio em minha vida em que reconheço, sem vaidade, ter exercido poder com base no que sei de História. Não o poder que constrói impérios ou redige constituições, mas o poder que reforma consciências — e que, por isso mesmo, é talvez o mais necessário de todos.
Numa época em que o ensino é tratado como mercadoria, e o saber histórico como campo de guerra ideológica, lembrar deste episódio me devolve a esperança. Ensinar com verdade ainda é possível. Influenciar alguém a partir do amor à verdade ainda é possível. E se isso começa dentro de casa, com um pai que se transforma ao escutar o filho, então há uma semente real de restauração cultural em curso.
Afinal, como dizia Olavo, "o verdadeiro poder começa quando você é capaz de mudar o coração de uma só pessoa."
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