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quarta-feira, 1 de março de 2017

Notas sobre o estilo literário eficaz

1) Fora do círculo dos literatos de ofício, quase todas as pessoas, mesmo relativamente cultas, escrevem de maneira ingênua, usando as primeiras palavras que lhes vêm à cabeça, confundindo o que sentem ao escrevê-las com o que o leitor vai sentir ao lê-las. Sobretudo não calculam o que o leitor malicioso pode fazer com as suas afirmações mais cândidas e inocentes. 

2) O malicioso malícia por instinto - é impossível detê-lo. O que se pode é escrever de tal modo que a tentativa de maliciar se autodenuncie no ato, expondo o malicioso quase que automaticamente a um ridículo ou a uma hostilidade ainda maiores do que ele quis impor à sua vítima. Mas isso é uma habilidade propriamente literária, pois exige anos de aprendizado. É por isso que recomendo aos meus alunos que se abstenham de polêmicas. Quando se saem mal numa discussão, imaginam que lhes faltaram "argumentos", quando noventa por cento das dificuldades não estão nos argumentos, e sim na mera formulação inicial da tese.

3) Ainda sobre a expressão escrita. Vocês já repararam que nenhum dos meus odiadores de estimação jamais DISCUTE o que eu digo, limitando-se antes a roer pelas beiradas, seja falsificando as minhas palavras, seja me atribuindo crimes e vícios imaginários nos quais só outros iguais a eles acreditam?
É porque escrevo de modo a dissuadir antecipadamente os amantes de discussões ociosas, carregando nas tintas da obviedade ao ponto de que nenhuma objeção razoável lhes vem ao cérebro, só emoções toscas e fantasias pueris que mal conseguem expressar sem tropeços e incongruências de toda sorte. Isso me poupa trabalho, porque, no caso de uma investida mais ambiciosa, bastam cinco ou seis linhas de resposta para estourar um balão de muitas laudas.
4) A limitação intrínseca dessa técnica literária é que ela não funciona com plateias de imbecis e analfabetos funcionais, mas isso não é um grande problema porque certamente não é nesse tipo de platéias que espero colher leitores e ouvintes.

5) Por isso não posso dizer que meus escritos são sempre construtivos, estimulando de maneira constante e invariável somente a inteligência dos inteligentes. Ao contrário: com igual constância estimulam também a imbecilidade dos imbecis, seja para revelá-la aos próprios olhos deles, curando-os, seja para enroscá-los nela até que se enforquem nas suas próprias tripas.

Olavo de Carvalho - via Artur Silva (https://www.facebook.com/arturjorg/posts/10205801925383512)

Distrito do Porto, 1º de Março de 2016.

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