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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

O investimento como vocação trinitária

O investimento, quando compreendido em sua profundidade espiritual, não é mero ato de acumular riqueza, mas de participar da criação. Ele expressa a vocação do homem de ordenar o tempo e os bens segundo o desígnio de Deus. Nesse sentido, o investimento é um ato de fé na permanência — uma resposta ao chamado do Criador que confia ao homem talentos a serem multiplicados.

A Trindade oferece o arquétipo supremo dessa ordem. O Pai é a fonte de todo capital, pois d’Ele procede o ser e a substância das coisas. O Filho, ao encarnar-se, santifica o trabalho humano, tornando-o redentor; e o Espírito Santo é a prudência viva, a sabedoria que orienta a aplicação dos dons conforme o bem comum. Assim, cada ato econômico — quando realizado em estado de graça — reflete a estrutura da própria vida divina: origem, mediação e retorno.

O homem que investe, portanto, deve reconhecer em cada aplicação financeira um espelho do seu próprio caminho espiritual. O capital é a herança recebida (do Pai), o trabalho é o meio de multiplicação (do Filho), e a prudência é o discernimento que preserva o fruto (do Espírito). Quando essas três potências atuam em harmonia, o investimento se torna um ato trinitário: produtivo, justo e ordenado.

Nesse contexto, o ciclo do CDB, com sua duração trienal, assume um significado simbólico. Ele expressa o tempo necessário para que a fé se prove na constância, o trabalho se aperfeiçoe na disciplina e o capital amadureça no serviço ao bem. Ao fim de cada ciclo, o investidor é avaliado pelo uso que fez de seus talentos — tal como na parábola — e deve renovar seu propósito de servir à Verdade e à Ordem, jamais à cobiça.

Em contraste, o ciclo de Kondratiev, com seus 60 anos, reflete a passagem geracional do mesmo princípio. Ele mostra como as nações são avaliadas não pelo montante de suas riquezas, mas pela sabedoria com que cada geração administra o que recebeu da anterior. Quando uma sociedade investe sem prudência, gasta o capital espiritual e moral acumulado, e a crise se torna inevitável — porque o tempo aiônico reage, impondo correção à desordem.

A harmonia entre esses dois ciclos — o trienal do CDB e o geracional de Kondratiev — mostra que a verdadeira economia é uma liturgia do tempo. Cada homem, em sua microeconomia pessoal, reflete a macroeconomia das civilizações. Quando o indivíduo investe segundo a Trindade, o seu tempo pessoal se ordena ao tempo histórico; e, quando as sociedades imitam esse modelo, o tempo histórico se ordena ao tempo de Deus.

Por isso, a santificação do investimento é também a santificação do tempo. O cronos se torna instrumento do kairós; o kairós se perpetua no aiôn; e o aiôn, reconciliado, retorna à eternidade do Pai. Assim, a economia deixa de ser a ciência do lucro e se torna a ciência da fidelidade, onde o homem, por meio de sua vocação criadora, continua a obra do Gênesis: “Crescei e multiplicai-vos” — não apenas em número, mas em virtude, em sabedoria e em graça.

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