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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

O homem maduro e o vinho: a arte de transformar o ordinário em extraordinário

Introdução

Assim como o vinho não nasce pronto, o homem também não. Ambos precisam de tempo, de disciplina e de influência externa para que alcancem sua melhor forma. O vinho jovem é áspero e desequilibrado; o homem jovem é cheio de energia, mas carece de experiência e de sabedoria. O processo de maturação é o que os transforma em algo extraordinário.

O processo de maturação

No caso do vinho, repousar em tonéis de carvalho é essencial: a madeira imprime aromas, suaviza taninos e acrescenta profundidade. Esse tempo de contato, controlado com paciência, produz complexidade e harmonia.

Do mesmo modo, o homem, exposto às experiências, às derrotas e às vitórias, à disciplina do trabalho e à reflexão moral, suaviza suas arestas e adquire profundidade. A maturidade é o resultado de um processo lento, mas consistente.

O papel do gerenciamento

Nem todo vinho se torna excelente — depende do cuidado do enólogo. É preciso regular a temperatura, a oxigenação e o tempo de repouso. Da mesma forma, o gerenciamento de homens (managing) é a arte de criar condições para que indivíduos comuns se transformem em extraordinários.

Um bom líder é como o mestre do vinho: conhece o potencial de cada pessoa, entende quando intervir e quando deixar que o tempo trabalhe. O ambiente organizacional, nesse sentido, é o “tonel de carvalho” onde homens se transformam.

O ordinário tornando-se extraordinário

Peter Drucker já dizia que o verdadeiro desafio da liderança não é obter feitos heroicos de gênios, mas criar uma cultura onde o ordinário possa render o máximo de si. Stephen Covey, em sua “Liderança

Centrada em Princípios”, reforça que a grandeza é resultado da combinação de caráter e competência ao longo do tempo. O líder, como o enólogo, não cria o vinho — ele apenas potencializa o que já existe. Assim também com os homens: a liderança extrai aquilo que o ordinário não sabia que tinha.

O envelhecimento como virtude

Aristóteles, na Ética a Nicômaco, nos lembra que a virtude se constrói pelo hábito. O vinho só se torna nobre com a repetição do tempo bem administrado; o homem só se torna sábio ao reiterar boas escolhas, transformando-as em hábitos.

O homem maduro, portanto, não é apenas aquele que envelheceu, mas aquele que soube envelhecer bem.

Conclusão

A metáfora é clara:

  • O vinho precisa de carvalho; o homem precisa de valores e disciplina.

  • O vinho precisa de tempo; o homem precisa de experiência e perseverança.

  • O vinho precisa de um enólogo; o homem precisa de liderança.

O extraordinário não surge por acaso. É fruto de um processo de gerenciamento, de maturação e de fé no potencial humano. O homem maduro, como o bom vinho, torna-se melhor a cada ano — não porque o tempo passou, mas porque soube transformar o tempo em virtude.

Bibliografia

  • ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. António C. Caeiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.

  • COVEY, Stephen R. Principle-Centered Leadership. New York: Free Press, 1991.

  • DRUCKER, Peter F. The Effective Executive: The Definitive Guide to Getting the Right Things Done. New York: Harper Business, 2006.

  • MAXWELL, John C. Developing the Leader Within You. Nashville: Thomas Nelson, 1993.

  • SENGE, Peter M. The Fifth Discipline: The Art and Practice of the Learning Organization. New York: Doubleday, 1990.

  • SILVEIRA, Sidney. A arte de governar-se a si mesmo. São Paulo: É Realizações, 2015.

  • WILKINSON, Alec. The Wine and the Vine: Symbolism in Christian Culture. London: Thames & Hudson, 2000.

 

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