Embora compartilhem o mesmo nome, o Crédito Social canadense (inspirado em C. H. Douglas) e o Crédito Social chinês (sistema de vigilância contemporâneo) são realidades absolutamente distintas.
Natureza
-
Canadá (anos 1930–1970): Movimento econômico e populista, centrado em corrigir falhas do capitalismo financeiro.
-
China (2010s–atualidade): Sistema político e tecnológico de governança, voltado ao controle social e disciplinamento comportamental.
Objetivos
-
Canadense: garantir justiça econômica, ampliar o poder de compra e democratizar o crédito.
-
Chinês: assegurar a conformidade com normas políticas, jurídicas e morais, moldando comportamentos sociais.
Instrumentos
-
Canadense: proposta de dividendo social e emissão de crédito público pelo Estado.
-
Chinês: monitoramento digital, big data, algoritmos de pontuação, sanções e recompensas.
Consequências
-
No Canadá: gerou governos provinciais duradouros, debates sobre soberania econômica e populismo regional, mas sem implementar a doutrina original em sua totalidade.
-
Na China: estabeleceu um modelo de vigilância de alcance nacional, que afeta desde empresas até indivíduos, com repercussões em direitos civis, liberdades individuais e economia.
Diferença essencial
-
O crédito social canadense era uma tentativa de empoderamento econômico dos cidadãos, nascida de uma crítica ao sistema bancário.
-
O crédito social chinês é uma tentativa de disciplinamento social, usando a tecnologia para reforçar a autoridade estatal.
📌 Conclusão
-
No Canadá, “crédito social” foi sinônimo de um projeto populista e reformista, hoje parte da história política.
-
Na China, “crédito social” tornou-se um instrumento de governança digital e controle social no século XXI.
O mesmo nome, portanto, carrega dois projetos de sociedade radicalmente diferentes: um de justiça econômica, outro de disciplina política.
Bibliografia comentada
-
Creemers, Rogier. “China’s Social Credit System: An Evolving Practice of Control.” SSRN Electronic Journal, 2018.
→ Um dos estudos mais citados sobre o crédito social chinês. Analisa seu funcionamento, lógica política e implicações para o controle social. -
Dai, Xin. “Toward a Reputation State: The Social Credit System Project of China.” SSRN Electronic Journal, 2018.
→ Explora o crédito social chinês como sistema de reputação estatal, mostrando como ele busca resolver a desconfiança social. -
Botsman, Rachel. Who Can You Trust? How Technology Brought Us Together and Why It Might Drive Us Apart. Nova York: PublicAffairs, 2017.
→ Aborda a economia da confiança e como sistemas como o crédito social chinês transformam relações sociais e institucionais. -
Finkel, Alvin. The Social Credit Phenomenon in Alberta. Toronto: University of Toronto Press, 1989.
→ Útil para o contraste: enquanto o crédito social chinês é digital e coercitivo, o canadense surgiu como utopia econômica. -
Chen, Yihan. “Social Credit System and the Rule of Law: A Contextual Analysis.” China Perspectives, n. 4, 2019.
→ Estudo sobre os impactos legais do sistema chinês e suas tensões com noções ocidentais de Estado de Direito. -
Macpherson, C. B. Democracy in Alberta. Toronto: University of Toronto Press, 1953.
→ Essencial para entender o contraste histórico: um crédito social “democrático e econômico” no Canadá versus um crédito social “tecnológico e disciplinador” na China.
Nenhum comentário:
Postar um comentário